A Metro do Porto conseguiu uma proeza: no mais recessivo ano da década que leva de vida, a empresa deixou de dar prejuízo no mês de março. Isto é: as receitas cobriram os custos da operação. É obra? É - e por isso devemos endereçar os parabéns a Ricardo Fonseca, presidente da Metro do Porto, fulanizando nele a boa prestação de todos os que trabalham na Metro.
Para quem tem vindo a observar mais de perto a trajetória da Metro, o facto não espanta, uma vez que a taxa de cobertura da operação vinha melhorando. O que espanta é que o resultado seja alcançado quando desce o número de utilizadores e sobe o preço da oferta. Se tivermos em conta que noutras empresas públicas de transportes (CP, Carris, Metro de Lisboa, por exemplo), a taxa de cobertura anda, em média, abaixo dos 70%, percebemos como foi decisiva a estratégia aplicada por Ricardo Fonseca à Metro do Porto. "Para nós, é motivo de imenso orgulho", disse ele ao JN. Para nós, utentes e contribuintes, também.
Este brioso resultado não deve servir, contudo, para escamotear os sérios problemas da empresa. Antes pelo contrário: deve servir para os enfrentar com a alma menos estremunhada e deve servir, sobretudo, para reclamar ação política a quem politicamente deve agir.
Os dossiês em cima da mesa, no que ao futuro do metro do Porto diz respeito, não são fáceis, a começar pelo desenho de uma estratégia que permita resolver o brutal serviço da dívida e o passivo, suficientes para estrangular qualquer gestão, por muito boa que ela seja.
Depois, é preciso questionar se, perante este resultado, continua a fazer sentido - e se sim, porquê? - aceitar a proposta do Governo que prevê fundir a Metro com a STCP.
A seguir, convém levantar de novo a questão da densificação da rede do metro. "É justificável, à luz desta performance, parar o alargamento da oferta a outras zonas da Área Metropolitana do Porto?
Convém, igualmente, estar atento ao destino a dar às verbas comunitárias que resultarão da "operação limpeza" do Quadro de Referência Estratégico Nacional, bem como ao programa da Comissão Europeia (Conection Facilities) dedicado à rede de transportes. Vale mais a pena empatar uns milhões em estágios de seis meses que ajudam a melhorar, conjunturalmente, as estatísticas do desemprego, ou, ao invés, faz sentido resolver o problema estrutural das empresas que mostram bons resultados?
Eis, entre muitas outras, questões sobre as quais era importante saber a opinião do novo presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte. Vai sendo tempo de ouvir Duarte Vieira falar sobre o que interessa. Começa a formar-se a ideia, muito pouco interessante para a Região, de que Duarte é dos que prefere gerir os silêncios a ficar prisioneiro das palavras. Ora, o tempo é de fala.
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