Como sempre aconteceu no passado, as comunidades que perdem a crença em si próprias são, a prazo, incapazes de se defenderem e autopreservarem. Também aí a Europa tem muito a aprender com Israel.
O dia 14 de Julho de 2016 fica tragicamente marcado por mais um atentado terrorista de grande impacto, desta vez em Nice. Em plenas comemorações do dia nacional de França, um camião foi metodicamente usado como arma de chacina contra uma multidão de pessoas inocentes e desarmadas. Em resultado, há a lamentar mais de 80 mortos, uma centena de feridos, muitas famílias destroçadas pelo horror da barbárie terrorista e uma Europa em estado de choque perante a sua própria impotência.
Os métodos são novos para os europeus mas têm já uma longa e nefasta tradição no Médio Oriente. Israel, em particular, tem sido sucessivamente alvo da barbárie terrorista, frequentemente perante a incompreensão e falta de solidariedade de muitos europeus. Agora que a própria Europa se torna cada vez mais um alvo preferencial e que as suas vulnerabilidades são patentes, talvez haja finalmente condições para abandonar as narrativas de justificação do terrorismo.
De facto, só abandonando o discurso politicamente correcto e encarando a realidade por muito desagradável que esta possa ser a Europa poderá aspirar a estar em condições de enfrentar as ameaças com que se depara. Como bem salientou Rui Ramos:
“(…) a Europa alberga hoje grandes comunidades imigrantes em crescimento descontrolado, e onde demasiada gente rejeita os valores ocidentais. Alguns sentem-se inspirados ou foram mesmo organizados para atacar a sociedade que os acolheu. Não são todos, são até poucos, mas estão a conseguir importar para a Europa o sectarismo e o terrorismo que há décadas se tornaram endémicos no Médio Oriente e no norte de África. Não é sensato continuar a invocar o “racismo” e a “islamofobia” para impedir um debate sobre o jihadismo.”
A ameaça terrorista assume proporções maiores ainda por não se limitar às comunidades imigrantes em sentido estrito. Uma boa parte dos terroristas tem nacionalidade de Estados europeus. Aliás, nunca é demais relembrar que foi na Europa que o Estado Islâmico recrutou uma parte significativa dos seus “combatentes”. A mesma Europa pósmoderna que parece cada vez menos segura de que haja uma tradição de civilização ocidental que vale a pena defender vigorosamente contra os seus inimigos externos e internos.
A este propósito, justifica-se recordar uma vez mais a acutilante análise de Roger Scruton:
“Take any aspect of the Western inheritance of which our ancestors were proud, and you will find university courses devoted to deconstructing it. Take any positive feature of our political and cultural inheritance, and you will find concerted efforts in both the media and the academy to place it in quotation marks, and make it look like an imposture or a deceit.”
Como sempre aconteceu no passado, as comunidades que perdem a crença em si próprias são, a prazo, incapazes de se defenderem e autopreservarem. Também a este respeito e não apenas no âmbito operacional ou técnico os europeus têm muitas e importantes lições a aprender com Israel. Infelizmente, o tempo para aprender começa a escassear para a Europa.
[André Azevedo Alves] Professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa
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