O pior centralismo - francamente pior do que aquele que decorre dos erros sucessivos dos vários governos ao nível do investimento e da política de desenvolvimento das cidades - é o que ainda teima em morar no espírito de muitos de nós.
A ignorância com que alguma Lisboa olha para o resto do país relembra-me o pobre Artur d' A Capital! de Eça de Queirós. O mesmo Artur que chegou fascinado a Lisboa, decidido a renegar as origens para ser um "lisboeta de gema" e, ironia do destino, acabou por regressar desencantado à vida mais pacata, mas tremendamente mais genuína, de Oliveira de Azeméis.
Na passada semana, acabada de entrar num táxi, lá veio a frase do costume: É do Norte, vê-se pela pronúncia... Vem do Porto? Não, sou de Guimarães! Oh, é quase a mesma coisa! Naturalmente que não me contive, e lá fui desvendando as identidades - que são tantas e tão diferentes - das cidades desse outro país longínquo que é norte de Portugal.
Coincidentemente, poucas horas depois, estava já no bar da Assembleia da República para um almoço rápido: Hoje é melhor não pedir um prego. Está muito atrasado, temos cá um grupo grande. São de onde? - perguntei. Do Porto - respondeu-me o funcionário. Enquanto saía, ouvi atrás de mim uma voz desconhecida: "São do Porto?! Vieram à civilização".
Que dizer? "Não há nada mais assustador que a ignorância em acção." (Goethe)
(recebido por e-mail)
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