DRAGÃO DO SUL - A crónica semanal de Paulo Baldaia em O JOGO
A evidência de que Rui Pinto pode vir a ser julgado por um fanático, o mesmo que também julgará no processo e-toupeira, onde o Benfica é figura de cartaz, não faz soar os alarmes no Conselho Superior de Magistratura. Podem só estar atrasados na tomada de uma decisão. Aguardemos, pode ser que os próximos dias confirmem que a Justiça não hibernou, quando todos confinamos em nossas casas.
De fontes fidedignas, sei há muito tempo que sou "persona non grata" entre os muitos juízes de diferentes instâncias que são adeptos fervorosos do SLB. Não gostam de mim pelo que escrevo aqui no jornal, nem pelo que digo no programa "Dia Seguinte", na SIC. Acham que eu sou fanático contra o clube deles e, por isso, consideram que o julgamento que eu faço dos dirigentes encarnados não é válido. Não pretendo desmenti-los.
A amigos que temos em comum e que me deram conta dessa empatia, limitei-me a confirmar que me movo com alguma irracionalidade na defesa do meu clube, mas que retiro essa característica religiosa de tudo o resto que faço na vida. Razão pela qual, vivendo o futebol desta maneira, nunca poderia ser juiz, nem dentro do campo, nem num tribunal.
O que eu estranho, e todos eles deveriam estranhar, é que se possa considerar um fanático incapaz para emitir opinião num jornal ou televisão, mas não haja nada a obstar em relação a julgamentos em que está em causa a "religião" do juiz fanático.
O adepto José Paulo Abrantes Registo, que cumpre as funções de juiz no Juízo Central Criminal de Lisboa e que nada quis dizer sobre o assunto quando contactado pelo Expresso, já nos disse que gosta de ver o autor do Football Leaks tratado por "Rui Pirata Pinto" e uma das pessoas que mais o tem defendido como "Ana Heroína Gomes".
Este juiz só estará capaz de fazer este julgamento e o do caso e-toupeira se ao adepto lhe der uma crise de amnésia igual à que afectou Luís Filipe Vieira e que permitiu ao presidente do Benfica não ser ouvido exatamente no processo e-toupeira.
Num debate televisivo daqueles que tanta gente diz não gostar, mas que tanta gente vê, seria aceitável que o Paulo Registo, qual Vasco Mendonça, sentindo-se apertado, atirasse para cima da mesa, pela milésima vez, com "a fruta e com o apito dourado". Lá estaria um outro Paulo qualquer desta vida a lembrar ao adepto encarnado que o processo transitou em julgado e o FCP foi ilibado.
Sendo Paulo Registo um juiz se exigiria, por isso, maior cuidado, evitando que um suposto erro do árbitro o levasse a fazer um post em que põe em causa a justiça que ele próprio ajuda a administrar. Vamos considerar que o fanatismo é de tal forma que ele não resiste e nós, por bondade cristã, perdoamos o desaforo próprio destes debates entre fanáticos.
Pede-se ao senhor juiz que reconheça a sua impossibilidade de julgar racionalmente casos em que o seu clube seja parte interessada. Se ele não o fizer, que os advogados de Rui Pinto peçam escusa deste juiz e que o Ministério Público faça o mesmo no caso e-toupeira. Seria impensável que, depois de acordada, a justiça se virasse para o lado e continuasse a ressonar.
Abril, duas vezes
Para um portista, Abril celebra-se sempre duas vezes por ano. No dia 25 Abril, pela liberdade que chegou para todos os portugueses em 1974 e que se consolidou com o 25 de Novembro de 1975. E no dia 17 de Abril de 1982, pela consolidação de uma revolução democrática no futebol, iniciada em 1978 com a conquista de um título que escapava ao Norte há 19 anos, muito por causa dos constrangimentos impostos pela ditadura e que a democracia não foi capaz de derrotar logo nos primeiros tempos.
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