"I had a dream...". É assim que começa um dos meus filmes preferidos de sempre, o África minha (Out of Africa). Mas enquanto Karen Blixen (e na tela Meryl Streep) sonhava com uma quinta em África, o meu sonho é ver a Região Norte unida, a caminho de um destino que tire os nortenhos em geral da cauda da Europa!
A minha vida profissional tem--me levado aos quatro cantos do Mundo, mas devo confessar sem o menor pingo de vergonha que é sempre o Porto e o Norte que levo comigo e é sempre para o convívio com estas gentes que eu amo que sonho sempre voltar.
Muito do que tenho visto por essas capitais do Mundo dito civilizado ajudam-me a gostar ainda mais do Porto e do Norte. Mas também não escondo que há facilidades e infraestruturas que me têm enchido o olho e que me sinto com direito de reivindicar para a Região, sob o pretexto de que numa Europa que se quer União, quando o Sol nasce e os milhões chovem, tem de ser para todos. Mas isso não pode querer dizer (nem quer dizer!) que esteja satisfeito com o que a Região já é naturalmente capaz de oferecer a quem nela vive, ou a quem a visita e são cada vez mais.
Para mim quero sempre mais e melhor, mas para a Região Norte até sou um rapaz contido e modesto: basta-me que ela tenha aquilo a que tem direito. Pelo que historicamente fez por este país. Pelo que atualmente continua a fazer por ele. Pelo que produz e pelo que exporta. Pelo que poupa e pelo que investe. Pelo que sabe sofrer e pelo que sabe ser solidária!
O estrondoso sucesso da conferência com que o nosso JN assinalou ontem na cidade do Porto os seus 125 anos foi mais um passo decisivo nesta tarefa da reabilitação do Norte, a que o jornal se dedica com grande empenho desde o início do ano. Foi com muito prazer e orgulho, mas também com um certo sentido de missão, que prestei a minha humilde colaboração a esta empreitada nos distritos de Vila Real e Aveiro. Lembro-me desta ideia ter sido apresentada pelo diretor Manuel Tavares, na reunião do Conselho Editorial do JN, onde logo foi muito saudada, nesta perspetiva dupla de que o jornal é de todo o Norte, não é só da cidade onde funciona o coração da sua Redação.
Tal como o Porto não se pode deixar cair na tentação de se comportar com o resto da Região com a mesma distância e arrogância sobranceiras com que Lisboa trata a paisagem, como os centralistas chamam ao resto do país. Se é verdade que o Centro Histórico do Porto pedia há anos uma reabilitação urgente, agora envolta numa polémica que parece não ter fim à vista, não é menos verdade que o Norte, enquanto Região fulcral para um desenvolvimento harmonioso de Portugal, também precisa de ser reabilitado. Por estas e outras palavras, mais diretas ou mais evasivas, foi o que vieram ontem defender na Alfândega do Porto os dirigentes, políticos, empresários, autarcas e opinion makers em geral convocados pelo JN para darem o seu testemunho na conferência a que já aludi. Acontece que esta reabilitação inadiável não vai lá com abaixo-assinados. O Estado centralista, leia-se Governo de Lisboa, já não pode ter dúvidas sobre o que pensam e o que querem os portugueses do Norte. Aliás, ainda ontem a intervenção do ministro Poiares Maduro foi reveladora dessa consciência.
Ou somos capazes, todos unidos, de passar das palavras aos atos, ou nunca mais levamos a carta a Garcia...
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