Pela mão desse grande amigo do nosso país que se chama Ramon Font está entre nós, de visita ao Norte e ao Porto, Pere Torres, secretário das Empresas e Competitividade do Governo da Catalunha. Já sabemos que o Porto é um dos melhores destinos turísticos dos dias que correm, mas não foi em turismo que este político catalão demandou terras da Invicta.
Na reunião em que ontem participei com um conjunto de empresários na Fundação AEP, Pere Torres apresentou a Região cujo Governo integra, falando, como fez questão de dizer, das coisas boas que ela tem, deixando para outros a enumeração das menos boas.
No PowerPoint, os números, as estatísticas e as informações que foram desfilando perante os meus olhos eram tudo menos inocentes. Reveladoras de um potencial que é conhecido de todos, o que impressiona mais são as comparações feitas, com Espanha no seu todo, mas também com outros países da União Europeia.
Destas comparações resulta claro como água que o contributo da Catalunha para o conjunto da economia espanhola ultrapassa largamente a percentagem relativa da sua população! Apesar da autonomia, a mensagem que fica clara é a de que o centralismo castelhano ainda consegue tirar vantagem de ter uma Região como a Catalunha, que continua a dar muito mais do que aquilo que recebe. Só assim se percebem os ânimos independentistas que continuam bem acesos em toda a Região, ainda recentemente bem expressos num gigantesco cordão humano que atravessou a Catalunha juntando milhões de catalães.
Mas das comparações também resultou que em itens diversos o poderio catalão é superior a vários países da União Europeia, como a Finlândia, a Dinamarca, a Roménia e a Bulgária, querendo calar as vozes de lá que, como as de cá, gostam de sacar do argumento do tamanho, sempre que o assunto cheira a regiões, ou a regionalização. Como em muitas outras coisas, não é o tamanho que interessa!
No Porto e no Norte é nestes exemplos de luta e de sucesso que nos devemos inspirar. Tentar aprender com eles os passos a dar, os valores a defender e as lutas a travar. Perceber também os inimigos de falinhas mansas com quem não contemporizar, os compromissos que se devem rejeitar e as tais sereias que devemos afastar.
Pere Torres vai estar hoje à tarde no edifício da Alfândega, de visita ao único salão de têxteis e moda que se realiza em Portugal (o Modtissimo, integrado na segunda edição do Porto Fashion Week) porque fez questão de se reunir também com interlocutores de uma indústria que cá, como também ainda lá, é um dos sustentáculos das exportações nacionais. Sendo que este aspeto é um dos que produz os números mais impressionantes da comparação da Catalunha com o resto de Espanha.
Trinta por cento (30%) da totalidade das exportações espanholas têm origem na Catalunha. É óbvio que tendo esta relevância esmagadora na criação de riqueza em Espanha os catalães não se calam nas suas justas reivindicações.
No Porto e no Norte, não temos números tão arrasadores, nem somos capazes de elaborar comparações tão avassaladoras. Mas temos matéria que chega e que sobra para reivindicarmos, aliás muito menos do que aquilo que os catalães já conquistaram com a sua Autonomia Regional. Sem lançar mão de nenhum pormenor estribado em números inatacáveis, basta lembrar que ao contrário da Catalunha, o Porto e o Norte não podem eleger o seu governador. Apesar da lúcida entrevista do novo presidente da Comissão de Coordenação Regional do Norte, prof. Emídio Gomes, outro peso teria, outro galo cantaria, se as suas opiniões veiculadas pelo nosso JN saíssem da boca de alguém legitimado pela vontade popular em vez de apenas nomeado pelo Governo, ainda que na sequência de um concurso.
Restam-nos as eleições que nos restam e por isso em semana de eleições autárquicas também me resta esperar para ver se, no que toca ao Porto, a maioria percebeu a mensagem de quem quer o Porto mais forte ou se uma vez mais o senhor Pere Torres só cá veio perder o seu tempo. [do JN]