A Casa do Pó
Romance histórico, de Fernando Campos, datado de 1986, que tem como protagonista Frei Pantaleão de Aveiro, o autor de Itinerário de Terra Santa . O enigma que encerra a identificação desta figura histórica será o ponto de partida para a ficcionalização de uma busca de identidade que, na primeira pessoa, impõe ao protagonista a indagação sobre o silêncio que envolve as suas origens, definindo-o na oposição entre o que é e o que é obrigado a silenciar, e, nesse desdobramento, esboçando uma crítica ao contexto sócio-religioso desencadeado pelo Concílio de Trento. Gerado na estranheza que separa Frei Pantaleão de Aveiro do sujeito em primeira pessoa do Itinerário, um texto expurgado e que pouco deixa trair sobre a intimidade do seu autor, A Casa do Pó tenta conceder ao frade seiscentista, neste discurso de Novecentos, todas as notas íntimas e pessoais ausentes naquele intertexto, oferecendo-se como um "texto original" guardado na consciência. O itinerário interior de busca de identidade, desenvolvido paralelamente a um itinerário exterior de peregrinação, culminará não apenas no desdobramento dessa identidade ("Travo longos diálogos interiores entre eu e mim" cap. XVIII, p.353), como no reconhecimento da inutilidade dessa busca e, no limite, com a anulação da identidade. É assim que, na arquitectura simbólica de um desfecho que faz coincidir a morte de Camões e a morte da Pátria (desastre de Alcácer Quibir) com a morte psicológica do protagonista, se compreende que, no fim da demanda, só possa encontrar o vazio, a casa do pó, aquela, segundo a epígrafe, "cujos habitantes estão na escuridão [...] estão nas trevas". [via]
FERNANDO CAMPOS
Fernando da Silva Campos, escritor português, nascido a 23 de Abril de 1924 em Águas Santas, Maia, infelizmente falecido no passado dia 1 de Abril de 2017.
É autor de várias obras didácticas e monografias de investigação etimológica e literária, como a antologia Prosadores Religiosos do Século XVI (Coimbra, 1950), A Redacção (orientação e exercícios) (Porto, 1968), O Arinteiro de el-Rei ou A "Vida de S. Teotónio", uma Fonte de Os Lusíadas? (Lisboa, 1972).
Estreou-se como ficcionista aos 62 anos com o romance histórico A Casa do Pó (1986), cuja acção decorre em finais do século XVI e conta a história das peregrinações de Frei Pantaleão de Aveiro (autor do Itinerário da Terra Santa, publicado em 1593), traçando um panorama da cristandade ocidental e oriental. O livro, muito bem recebido pelo público e pela crítica, levou-lhe 11 anos a preparar e colocou-o de imediato entre os grandes escritores portugueses.
Em 1987 publicou a sátira literária O Homem da Máquina de Escrever e o romance Psiché. Seguiu-se, em 1990, O Pesadelo de dEus e, em 1995, A Esmeralda Partida, sobre a figura de D. João II, que lhe valeu o Prémio Eça de Queiroz. Em 1998, a vida de Damião de Góis inspirou-lhe novo romance, A Sala das Perguntas, e em 1999, lançou o livro de contos Viagem ao Ponto de Fuga. A Ponte dos Suspiros data de 2000 e retrata um jovem D. Sebastião que por vergonha vive incógnito como mendigo.
Em 2001 publicou ...que o meu pé prende..., voltando dois anos depois à ficção de carácter histórico com O Prisioneiro da Torre Velha, sobre a vida de D. Francisco Manuel de Melo, soldado, escritor e diplomata que viveu entre 1608 e 1666, durante o período da dinastia filipina. Em 2005, publicou O Cavaleiro da Águia, que tem como protagonista D. Gonçalo Mendes da Maia, "o Lidador" e, em 2007, edita O Lago Azul, retratando a vida dos descendentes de António de Portugal, Prior do Crato. Em 2009 publica A Loja das Duas Esquinas e, dois anos mais tarde, vem a lume A Rocha Branca, revisitando a figura da poetisa grega Safo. Em 2012, lançou uma novela intitulada Ravengar, tendo como cenário a cidade de Nova Iorque no início do século XX, a partir de recortes do folhetim The Shielding Shadow, EUA, 1916.
Algumas das suas obras estão traduzidas para francês, alemão e italiano. Colaborou ainda com o Jornal de Letras, Artes e Ideias, com uma crónica intitulada Os Trabalhos e os Dias.
Obra literária
- 1986 - A Casa do Pó (Prémio Literário município de lisboa)
- 1987 - Psiché
- 1987 - O Homem da Máquina de Escrever
- 1990 - O Pesadelo de dEus
- 1995 - A Esmeralda Partida (Prémio Eça de Queiroz da câmara municipal de lisboa)
- 1998 - A Sala das Perguntas
- 1999 - Viagem ao Ponto de Fuga
- 2000 - A Ponte dos Suspiros
- 2001 - ...que o meu pé prende...
- 2003 - O Prisioneiro da Torre Velha
- 2005 - O Cavaleiro da Águia
- 2007 - O Lago Azul
- 2009 - A Loja das Duas Esquinas
- 2011 - A Rocha Branca
- 2012 - Ravengar
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