Sempre a cidade do Porto e os seus dirigentes, em momentos de crises epidémicas ao logo da história, tiveram demonstrações exemplares, capazes de devolver a esperança à sua população e impulsionando medidas condizentes em outras cidades.
A ação da Câmara do Porto numa das crises do século XVI é disso exemplo, como esclarece o ensaio "Saúde pública e assistência: a cidade do Porto no ano de 1575" (Atas do I Congresso Histórico Internacional. As cidades na História, 2012), da investigadora do CITCEM/Univ. Porto, Maria de Fátima Machado. Aí se percebe como, perante a terrível epidemia desse ano, as medidas ousadas e impopulares que a Câmara do Porto adotou no seu plano de contingência foram determinantes para travar o flagelo na cidade.
O expoente máximo dessa intervenção foi, desde logo, a criação da "Enfermaria da Porta do Olival", também designada "Enfermaria dos Pobres". E face à escassez de profissionais clínicos, nomeou guardas-mores como responsáveis pela manutenção da saúde pública com poderes que iam, desde condicionar a circulação de pessoas e estabelecer cordões sanitários, até colocar doentes em degredo e impor quarentenas a cidadãos em situação "de roim presunção". E quanto às medidas impopulares, a doerem na economia das famílias, mas necessárias para corrigir os hábitos de higiene da população, realça-se a proibição dos porcos na cidade, nas ruas e nas casas, acreditando-se que estavam associados à propagação da doença. Os infratores eram presos.
E, como em todas as crises os mais frágeis são os que mais sofrem, outro dos flagelos, num tempo de "salve-se quem puder", foi o abandono de crianças. Havia então a figura do "pay dos meninos" com a missão de recolher os enjeitados, inocentes e indefesos, criando-se, para suportar os encargos com o seu sustento, o imposto de "um real por cada rasa de sal". E assim, logo, logo, renasceu a esperança na cidade do Porto.
Escritor e jornalista
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