Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

A Baixa morreu. Viva a Baixa!

Ruas há que gostamos e nem sabemos lá muito bem porquê. Não são monumentais, não são limpas, não mora lá ninguém que nos seja querido. Gostamos e pronto. A Rua Mártires da Liberdade é uma dessas minhas ruas. Recomendo um passeio por lá e pelos seus arredores para verem o que lá se passa. É um escândalo! Há quem se atreva a estar vivo numa cidade moribunda!

1ª Etapa: vão ao 100+ (Sem Mais Nem Menos): misto de bar, livraria, galeria e afins. Serve vinho a copo (até que enfim!), livros e cds em primeira e segunda mão, sessões de cinema espanhol e poesia.

2ª Etapa: passem pela Livraria Académica, nunca é tarde para contrair o mal da bibliofilia. Em alternativa, podem voltar um pouco atrás e visitar a Livraria Nuno Canavez. Ninguém no seu perfeito juízo sai destes alfarrabistas de mãos a abanar.

3ª Etapa: seguindo a linha do prazer vão à novíssima mercearia fina
Frutos da Terra já na esquina da Travessa de Cedofeita com a Rua das Oliveiras. Todas aquelas iguarias que nos fazem acreditar na perfeição do universo estão lá: azeite, vinagre, vinho, enchidos, compotas e por aí fora. Vale mesmo a pena.

4ª Etapa: continue na linha do prazer e vá a
Casa Margaridense, na Travessa de Cedofeita, comprar um pote de marmelada caseira e um pão-de-ló que, como é sabido, são a melhor companhia que se pode ter em casa por estes dias de inverno.

5ª Etapa: já que estamos numa maré de compras vamos dar um saltinho à Collectus para dar uma satisfaçãozinha ao demónio do coleccionismo. Se mesmo assim, a pulsão coleccionadora não estiver saciada, sempre temos mesmo ali, na Rua das Oliveiras, um especialista em BD dos tempos que já não voltam. Se se trata de um caso sério de possessão coleccionista, então o melhor é ir mais abaixo, às galerias Lumiére (onde jazem defuntas duas belas salas de cinema transformadas em parque privativo), aí há de tudo: postais, brinquedos, selos, calendários e etc. Com sorte ainda se apanhará a Feira de Velharias e Antiguidades que vai acontecendo todos os meses.

6ª Etapa: seria imperdoável não visitar a Poetria, a tal, a única livraria do país especializada em poesia e teatro. Aquele livro que julgava fora de mercado está lá, à espera.

7ª Etapa: se ficarmos para jantar temos na Mártires da Liberdade o Gira-Pratos para quem quer escapar à fatalidade dos rojões ou do bacalhau. Cozinha urbana acompanhada de excelente música.

8ª Etapa: vamos ver uma peça ao Teatro Carlos Alberto e depois, se ainda houver energia, que tal tomar um copo ao Café Lusitano (Rua José Falcão), no Pipa Velha (Rua das Oliveiras) ou, para acabar como começámos, no 100+ (Sem Mais Nem Menos)?

A Baixa morreu. Viva a Baixa!
[*publicado no A Baixa do Porto]

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