‘Nortada' do Miguel Sousa Tavares
O Benfica tornou-se no queixinhas do futebol português.
1. Todos nós conhecemos a figura do queixinhas, dos tempos de escola, na adolescência. O queixinhas, também conhecido por o Manteigueiro, era aquele fulano que, quando o professor perguntava «quem foi que falou?», respondia «foi o Jorge Nuno». Com isso, o queixinhas tentava insinuar-se nas boas graças do poder e, simultaneamente, dificultar a vida aos colegas. Porque o queixinhas era, invariavelmente, um puto medíocre, nos estudos ou no desporto, que morria de inveja dos que se destacavam pelos seus méritos. Enquanto o queixinhas era uma figura odiosa para a generalidade da turma, desprezado e ostracizado, ele próprio parecia viver bem com isso, porque o seu objectivo principal era passar de ano, não por mérito, mas por influência junto dos professores. Uma influência conquistada com a delação sobre os que se sentavam a seu lado.
De há um mês para cá, o «Glorioso» Sport Lisboa e Benfica, pátria de José Augusto, Eusébio, Torres, Coluna e Simões, dos dez inesquecíveis Magriços de 66, transformou-se no queixinhas oficial do futebol português. Com a agravante de conduzir uma desatinada campanha de delação no estrangeiro contra aquele que é o seu maior rival interno e que ele, não conseguindo derrubar em campo, cara a cara, tenta derrubar na secretaria, impedindo-o de competir. As más notícias para a SAD benfiquista ontem chegadas da UEFA já não apagam a sua vil atitude, apenas a tornam ainda inútil: perderam no campo e perderam na secretaria. Para esta época, o melhor que têm a fazer é apostar mais no talento em campo do que nos talentos jurídicos do dr. João Correia.
Penso que, mesmo para muitos benfiquistas, ficará como uma das páginas mais negras da história do SLB este zelo persecutório, este assanhamento contra o FC Porto, este oportunismo despudorado de tentar tirar partido de uma imensa estupidez da SAD do FC Porto (não ter recorrido da condenação da Liga para salvar 6 pontos na próxima época), esta absoluta sem vergonha de tentar chegar à Liga dos Campeões à custa de um justíssimo campeão e após uma época em que o 4.º lugar final mostrou exuberantemente que o Benfica não mereceu de forma alguma representar o futebol português na mais importante competição europeia de clubes.
Face às consequências europeias da condenação na Liga, que a SAD do FC Porto não previu, o Benfica se quisesse também ter uma postura que honrasse o seu nome, só poderia ter feito uma de duas coisas: ou renunciar ao lugar assim caído do céu na edição da Champions do ano que vem (conforme alguns benfiquistas, não muito sinceros, sugeriram), ou esperar tranquilamente para ver em que acabava tudo. Mas, não: a SAD do Benfica escolheu uma terceira via, a do oportunismo sem remorsos. Escolheu ser parte activa em todo o processo, ser o maior denunciante e o mais desonesto nos seus métodos, enfim, tudo fazer para tentar conquistar na UEFA o que perdeu em campo à vista do país inteiro.
A hipocrisia da argumentação levada pelo Benfica à UEFA, jogando tudo em tentar demonstrar que a condenação do FC Porto transitou em julgado (o que eu também acho…), faz por ignorar, todavia, o essencial. E o essencial é isto:
— que foi igualmente por razões de oportunismo circunstancial, embora bem mais compreensíveis e justificáveis, que a SAD do FC Porto resolveu não recorrer da condenação da Liga, deixando a defesa da honra do clube para o recurso interposto pelo seu presidente;
— que, ao tomar esta decisão, a SAD do FC Porto não previu as consequências que daí poderiam vir. Se, como lhe competia, tivesse feito o trabalho de casa e tivesse realizado que, não recorrendo, ficaria fora da Champions, a SAD do FCP teria obviamente recorrido, mesmo com o risco de entrar a perder 6 pontos no campeonato que aí vem;
— que a condenação da UEFA só poderá ser levada a cabo através de uma grosseira violação de um princípio geral de direito punitivo, que é o da não retroactividade da lei, e consumará uma politica efectiva de dois pesos e duas medidas, conforma a vítima seja um colosso europeu ou um modesto colosso português;
— que, ao longo de todo o processo Apito Dourado (onde, quer na esfera penal, que na disciplinar, sempre houve simpatizantes benfiquistas em posição de acusar ou condenar o FC Porto, desde o topo até à base), nunca foi dada, até à data, uma possibilidade efectiva de o FC Porto se defender das acusações, nomeadamente confrontando, na justiça penal ou na disciplinar, a testemunha-chave, engendrada pelo Benfica, apaparicada pelo Ministério Público e tomada como a voz da verdade pela comissão disciplinar da Liga;
— que a única condenação existente até agora — a do CD da Liga — foi protagonizada por um órgão que reúne essa extraordinária faculdade de ser simultaneamente acusador e julgador (e daí que a outra frente de batalha benfiquista seja a despudorada manobra de desqualificar, intimidar e ameaçar o órgão de recurso — o CJ da federação — tendo tornado já claro que, no entender do Benfica, só haverá «justiça» se o CJ confirmar as condenações do CD; se o não fizer, haverá «branqueamento»).
— e, enfim, fingindo ignorar que o FC Porto de 2004, de José Mourinho, Deco, Maniche, Ricardo Carvalho, Derlei, McCarthy, Carlos Alberto, etc., folgadíssimo campeão nacional e justíssimo campeão europeu, certamente que não andou a comprar árbitros para empatar um jogo e vencer outro, contra equipas despromovidas e em encontros a feijões. Assim como finge ignorar que Portugal inteiro assistiu, nos últimos 20 anos, a uma clara demonstração da superioridade em campo do FC Porto, quase ano após ano. O que o País ainda não percebeu é como é que o Benfica ganhou o campeonato de 2005…
2. E parece que ao Benfica se juntou agora, nesta edificante cruzada, o Vitória de Guimarães. Quem, o Vitória de Guimarães — que vive a mendigar favores e empréstimos de jogadores ao FC Porto, que não entrou directo para a Champions porque levou 5-0 do FC Porto em casa —, também quer agora ver se rouba o lugar aos portistas e entra directo sem esse calafrio da pré-eliminatória? Bem esperamos que a SAD do FC Porto não se esqueça, mais uma vez, do que tem de fazer para responder ao Vit. Guimarães…
3. A cabeça ferve-lhes de ambição e entusiasmo: já se imaginam no Milan, no Inter, no Valência, no Arsenal, no Barcelona. E uns até já lá estão. As grandes vedetas do banco de suplentes de Portugal deram uma triste imagem do talento que apregoam. Sim, o árbitro, inqualificavelmente mau, fez tudo para que a Suíça não perdesse. Mas, por mais que um árbitro prejudique, há uma coisa contra a qual ele nada pode e que os grandes jogadores e as grandes equipas têm: atitude. Foi o que não tivemos. Aquela triste equipe da Basileia pareceu apenas um grupo de meninos vaidosos a deitarem contas à vida para depois do Europeu. Também não admira quando o exemplo vem de cima. Quando o primeiro a tratar da vidinha é o próprio selecionador, em plena concentração.
4. Mas não serei hipócrita: vejo com imenso alívio a ida de Scolari para Inglaterra. Acho que vai ser bom para nós e para ele também: só lhe vai fazer bem viver numa democracia a sério e num futebol onde não poderá agredir jogadores adversários, ofender jornalistas senhoras, insultar os críticos, apostar na saloice patrioteira e debitar banalidades para uma plateia de jornalistas ao seu serviço. Para começar, logo esta pequena diferença: o Chelsea contratou-o e logo revelou quanto é que lhe ia pagar, ao contrário de nós, que até hoje não sabemos quanto lhe paga a federação — apesar de esta ter estatuto de utilidade pública e viver, em parte, com o nosso dinheiro.
O Benfica tornou-se no queixinhas do futebol português.
1. Todos nós conhecemos a figura do queixinhas, dos tempos de escola, na adolescência. O queixinhas, também conhecido por o Manteigueiro, era aquele fulano que, quando o professor perguntava «quem foi que falou?», respondia «foi o Jorge Nuno». Com isso, o queixinhas tentava insinuar-se nas boas graças do poder e, simultaneamente, dificultar a vida aos colegas. Porque o queixinhas era, invariavelmente, um puto medíocre, nos estudos ou no desporto, que morria de inveja dos que se destacavam pelos seus méritos. Enquanto o queixinhas era uma figura odiosa para a generalidade da turma, desprezado e ostracizado, ele próprio parecia viver bem com isso, porque o seu objectivo principal era passar de ano, não por mérito, mas por influência junto dos professores. Uma influência conquistada com a delação sobre os que se sentavam a seu lado.
De há um mês para cá, o «Glorioso» Sport Lisboa e Benfica, pátria de José Augusto, Eusébio, Torres, Coluna e Simões, dos dez inesquecíveis Magriços de 66, transformou-se no queixinhas oficial do futebol português. Com a agravante de conduzir uma desatinada campanha de delação no estrangeiro contra aquele que é o seu maior rival interno e que ele, não conseguindo derrubar em campo, cara a cara, tenta derrubar na secretaria, impedindo-o de competir. As más notícias para a SAD benfiquista ontem chegadas da UEFA já não apagam a sua vil atitude, apenas a tornam ainda inútil: perderam no campo e perderam na secretaria. Para esta época, o melhor que têm a fazer é apostar mais no talento em campo do que nos talentos jurídicos do dr. João Correia.
Penso que, mesmo para muitos benfiquistas, ficará como uma das páginas mais negras da história do SLB este zelo persecutório, este assanhamento contra o FC Porto, este oportunismo despudorado de tentar tirar partido de uma imensa estupidez da SAD do FC Porto (não ter recorrido da condenação da Liga para salvar 6 pontos na próxima época), esta absoluta sem vergonha de tentar chegar à Liga dos Campeões à custa de um justíssimo campeão e após uma época em que o 4.º lugar final mostrou exuberantemente que o Benfica não mereceu de forma alguma representar o futebol português na mais importante competição europeia de clubes.
Face às consequências europeias da condenação na Liga, que a SAD do FC Porto não previu, o Benfica se quisesse também ter uma postura que honrasse o seu nome, só poderia ter feito uma de duas coisas: ou renunciar ao lugar assim caído do céu na edição da Champions do ano que vem (conforme alguns benfiquistas, não muito sinceros, sugeriram), ou esperar tranquilamente para ver em que acabava tudo. Mas, não: a SAD do Benfica escolheu uma terceira via, a do oportunismo sem remorsos. Escolheu ser parte activa em todo o processo, ser o maior denunciante e o mais desonesto nos seus métodos, enfim, tudo fazer para tentar conquistar na UEFA o que perdeu em campo à vista do país inteiro.
A hipocrisia da argumentação levada pelo Benfica à UEFA, jogando tudo em tentar demonstrar que a condenação do FC Porto transitou em julgado (o que eu também acho…), faz por ignorar, todavia, o essencial. E o essencial é isto:
— que foi igualmente por razões de oportunismo circunstancial, embora bem mais compreensíveis e justificáveis, que a SAD do FC Porto resolveu não recorrer da condenação da Liga, deixando a defesa da honra do clube para o recurso interposto pelo seu presidente;
— que, ao tomar esta decisão, a SAD do FC Porto não previu as consequências que daí poderiam vir. Se, como lhe competia, tivesse feito o trabalho de casa e tivesse realizado que, não recorrendo, ficaria fora da Champions, a SAD do FCP teria obviamente recorrido, mesmo com o risco de entrar a perder 6 pontos no campeonato que aí vem;
— que a condenação da UEFA só poderá ser levada a cabo através de uma grosseira violação de um princípio geral de direito punitivo, que é o da não retroactividade da lei, e consumará uma politica efectiva de dois pesos e duas medidas, conforma a vítima seja um colosso europeu ou um modesto colosso português;
— que, ao longo de todo o processo Apito Dourado (onde, quer na esfera penal, que na disciplinar, sempre houve simpatizantes benfiquistas em posição de acusar ou condenar o FC Porto, desde o topo até à base), nunca foi dada, até à data, uma possibilidade efectiva de o FC Porto se defender das acusações, nomeadamente confrontando, na justiça penal ou na disciplinar, a testemunha-chave, engendrada pelo Benfica, apaparicada pelo Ministério Público e tomada como a voz da verdade pela comissão disciplinar da Liga;
— que a única condenação existente até agora — a do CD da Liga — foi protagonizada por um órgão que reúne essa extraordinária faculdade de ser simultaneamente acusador e julgador (e daí que a outra frente de batalha benfiquista seja a despudorada manobra de desqualificar, intimidar e ameaçar o órgão de recurso — o CJ da federação — tendo tornado já claro que, no entender do Benfica, só haverá «justiça» se o CJ confirmar as condenações do CD; se o não fizer, haverá «branqueamento»).
— e, enfim, fingindo ignorar que o FC Porto de 2004, de José Mourinho, Deco, Maniche, Ricardo Carvalho, Derlei, McCarthy, Carlos Alberto, etc., folgadíssimo campeão nacional e justíssimo campeão europeu, certamente que não andou a comprar árbitros para empatar um jogo e vencer outro, contra equipas despromovidas e em encontros a feijões. Assim como finge ignorar que Portugal inteiro assistiu, nos últimos 20 anos, a uma clara demonstração da superioridade em campo do FC Porto, quase ano após ano. O que o País ainda não percebeu é como é que o Benfica ganhou o campeonato de 2005…
2. E parece que ao Benfica se juntou agora, nesta edificante cruzada, o Vitória de Guimarães. Quem, o Vitória de Guimarães — que vive a mendigar favores e empréstimos de jogadores ao FC Porto, que não entrou directo para a Champions porque levou 5-0 do FC Porto em casa —, também quer agora ver se rouba o lugar aos portistas e entra directo sem esse calafrio da pré-eliminatória? Bem esperamos que a SAD do FC Porto não se esqueça, mais uma vez, do que tem de fazer para responder ao Vit. Guimarães…
3. A cabeça ferve-lhes de ambição e entusiasmo: já se imaginam no Milan, no Inter, no Valência, no Arsenal, no Barcelona. E uns até já lá estão. As grandes vedetas do banco de suplentes de Portugal deram uma triste imagem do talento que apregoam. Sim, o árbitro, inqualificavelmente mau, fez tudo para que a Suíça não perdesse. Mas, por mais que um árbitro prejudique, há uma coisa contra a qual ele nada pode e que os grandes jogadores e as grandes equipas têm: atitude. Foi o que não tivemos. Aquela triste equipe da Basileia pareceu apenas um grupo de meninos vaidosos a deitarem contas à vida para depois do Europeu. Também não admira quando o exemplo vem de cima. Quando o primeiro a tratar da vidinha é o próprio selecionador, em plena concentração.
4. Mas não serei hipócrita: vejo com imenso alívio a ida de Scolari para Inglaterra. Acho que vai ser bom para nós e para ele também: só lhe vai fazer bem viver numa democracia a sério e num futebol onde não poderá agredir jogadores adversários, ofender jornalistas senhoras, insultar os críticos, apostar na saloice patrioteira e debitar banalidades para uma plateia de jornalistas ao seu serviço. Para começar, logo esta pequena diferença: o Chelsea contratou-o e logo revelou quanto é que lhe ia pagar, ao contrário de nós, que até hoje não sabemos quanto lhe paga a federação — apesar de esta ter estatuto de utilidade pública e viver, em parte, com o nosso dinheiro.
in jornal “A BOLA” , 2008.06.17