Inglorious Basterds é um filme de Quentin Tarantino. Para mim isto chega, todavia deixem que lhes diga que o homem pegou numa história sobre o holocausto, totalmente ficcionada e transformou-a numa peça de duas horas e meia extraordinária. Após 15 anos da estreia de Pulp Fiction, também da sua autoria, eis que agora surge com outra obra de grande qualidade. Dizem que tudo foi milimetricamente estudado e elaborado, desde a escolha dos actores, os cenários, o argumento, a fotografia, os diálogos, e também a banda sonora. Tarantino superou-se e surpreende o telespectador com tamanha qualidade cinematográfica.
O filme é contado em cinco capítulos, uma espécie de romance que começa com a fuga de Shosana (Mélanie Laurent), uma jovem judia, que vê a sua família ser tragicamente assassinada pelo destemido coronel nazi Hans Lada (interpretado, de uma forma excepcional por Christoph Waltz), numa altura em que a França se encontra invadida por Hitler. Aliás, convém afirmar que à excepção do primeiro capítulo, este filme não nos mostra soldados Nazis a cometer qualquer tipo de atrocidade. E mesmo nesse primeiro capítulo, a atrocidade é secundária, poderia até nem ter sido filmada. Neste filme, Quentin Tarantino joga com o fundo comum de horrores em forma de imagens e histórias repetidas e repetidas que os últimos 50 anos de filmes, séries e livros têm mostrado. Toda essa memória comum sobre Holocausto e a Segunda Guerra Mundial que está nos antípodas de Inglorious Basterds é, paradoxalmente, aquilo a que Tarantino espera que o espectador recorra para tomar por legítima esta vingança. Mais adiante somos confrontados com o lunático e extrovertido Tenente Aldo Raine (Brad Pitt) e a sua companhia de "basterds", que vindos da América chegam a França com um único objectivo, que nas palavras e sotaque característico de Aldo Raine é descrito como "We're gonna be doing one thing and one thing only...Killing Nazis".
Finalmente o culminar da história dá-se quando o Tenente Aldo descobre que a grande maioria das chefias nazis, incluindo Hitler, irão reunir-se num cinema nos arredores de Paris, cuja proprietária é precisamente Shosana. Aqui ambos vêm uma oportunidade de vingança contra os que fuzilaram o seu povo e não vão perdê-la por nada.
Para quem, como eu, há uns anos atrás seguia a série de culto "Allô Allô", de certo que a irá identificar com alguns momentos deste espectacular filme, pois a época retratada bem como a história em si tem algumas semelhanças.
Apesar de Brad Pitt, que dá vida ao Tenente de sangue índio Aldo Raine, diga-se uma personagem bem à maneira de Tarantino, há também o desempenho do seu subordinado, Donny Donowitz (Eli Roth), terror dos alemães e conhecido por "Bear Jew", que se entretém a liquidar nazis com um taco de basebol, aquele que se destaca é sem dúvida o grandioso e memorável desempenho de Christoph Waltz, que representa o multilingue caçador de judeus Hans Landa. Destaca-se igualmente o interessante papel da belíssima e francesíssima Mélanie Laurent (Shosanna Dreyfus), o mais convincente e pungente rosto da vingança judaica. Outras personagens são mesmo conhecidas de séries alemãs que passam no AXN, tais como "Cobra" e o "Criminalista"...
Li algures que o filme tem sido considerado ofensivo para com a memória daqueles que morreram no Holocausto. Sinceramente, não vejo como. O revisionismo histórico de Quentin Tarantino neste filme é, ao mesmo tempo, entretenimento, justiça/vingança e acusação, sendo que em qualquer uma destas dimensões o filme é fabuloso. Do ponto de vista da realização, o filme é absolutamente imaculado do princípio ao fim, até mesmo nas cenas mais violentas que nunca chegam a provocar repulsa. Pelo meio as habituais referências e drop outs, com ponto alto num pequeno aparte documental sobre a inflamabilidade das películas dos filmes.´
Uma obra prima que é obrigatório ser vista num grande ecrã afim de se poder desfrutar de toda a sua grande qualidade.
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