Há dias, quando entrevistado por Mário Crespo para a SIC Notícias, sob o pretexto do lançamento do seu livro ‘Do eu Solitário para o nós solidário’, Frei Fernando Ventura disse, a propósito dos subsídios de reintegração que estavam a ser pedidos por deputados da última legislatura, que “quando o povo passa fome, o rei não come faisão”. Como é possível que no meio de tanto desemprego, deputados (que o são porque têm uma boa rede de contactos profissionais) peçam um subsídio de reintegração?
Sucede que o ‘rei‘ já não é apenas o deputado, o ministro ou o administrador de uma empresa pública. O rei de hoje não é um homem específico, mas uma forma de vida. É toda a estrutura estatal. O poder instituído que se imiscui no que não deve e, por isso, gasta dinheiro que não é dele. O ‘rei’ que come faisão é o socialismo que taxa impostos altos para pagar serviços desnecessários. É a aristocracia que vive à volta deste sistema. Como é possível que a empresa que gere o Metro de Lisboa apresente prejuízos de 151 milhões de euros e continue a ter um plano de investimentos, como se nada se passasse? Como é que se convive com tantos desempregados, que são fruto de uma economia estagnada à custa de impostos e regulamentações que servem apenas para sustentar uma máquina que destrói qualquer perspectiva de vida de quem vive neste país? Como se aceita que tantos milhares de pessoas fujam para o estrangeiro, porque a nossa economia fixou reduzida a uma fonte de receitas públicas?
O socialismo tornou-se imoral. Não está correcto sacrificar a vida de milhões de pessoas, em prol dos planos, interesses e desígnios de alguns. Não se pode conviver salutarmente e por muito tempo, numa sociedade em que uns estão sem trabalho e outros têm emprego para a vida e protestam contra cortes no seu vencimento. Como se nada se passasse lá fora. Nada se passasse fora das suas vidas. Como se convive numa sociedade em que muitas empresas vivem com a corda na garganta, enquanto tantas empresas públicas, com prejuízos altíssimos, não prestam contas por má gestão? Não é a igualdade um dos pressupostos do Estado de Direito?
Cada empresa pública que se vender, cada instituto público que se fechar são menos impostos a pagar por todos nós. É escolher. A grande batalha política dos próximos 3 anos vai ser esta. É escolher como vamos querer viver nos anos que estão à nossa frente. Escolher qual deve ser o nosso modo de vida nas próximas décadas e quais os valores que queremos transmitir aos nossos filhos. Uma sociedade justa, não é aquela em que o Estado distribui, mas onde cada um de nós tem percepção das dificuldades dos outros. Como já tive oportunidade de referir, também no seguimento de outra edição do Jornal da Noite de Mário Crespo, quando os portugueses deixarem de ser colectivamente egoístas e passarem a ser individualmente generosos. O fim da crise está aqui, e em reconhecermos que muitos no Estado se comportaram como reis a comer faisão.
via Observador
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