A tarde de 6ª feira estava porreira e eu carente de um arejo. Encerrado o expediente, aproveitei para dar uma volta numa zona que é uma autêntica ilha de tranquilidade no Porto, uma cidade de contrastes que contribui para ser uma cidade tão especial. Os Caminhos do Romântico seriam o cenário perfeito para desopilar e testar a resistência dos travões à Etielbina que me levará por outros caminhos até Santiago (mais lá para Julho).
O Porto tem esta primazia, tem duas faces bem diferentes entre si. De repente sai-se da confusão das ruas de D. Manuel II e de Júlio Dinis para a tranquilidade de cenários distintos e esplêndidos com uma vista bucólica sobre o rio Douro. Há pequenas hortas, matas, muros de pedra, quintas da nobreza e burguesia, fontes, chafarizes, lavadouros, gatos sem dono e um silêncio que impressiona. É a aldeia em plena cidade. Mas iniciado o passeio o cenário piora e a decepção rompe o encanto. Aquela que foi considerada uma das obras marcantes da Porto 2001, mereceu relevância no programa eleitoral do edil camarário e posterior promessa de reabilitação desta zona mas nunca teve seguimento. A ambição de transformar este espaço privilegiado num pólo de atracção turística e urbana desvaneceu-se por entre os meandros da burocracia da autarquia portuense. A atracção turística passaria pela delimitação de cinco percursos pedonais, cada qual com um tema ligado à história de Massarelos.
Sem se conseguir decifrar as informações das placas, a curiosidade determina a rota a seguir. Os Caminhos do Romântico apresentam um pouco das contradições do Porto de Oitocentos, romântico e burguês, rural e industrial. Tendo como ponto de partida os jardins do Palácio de Cristal, escolhi o primeiro percurso, Porto do Romantismo. Os outros percursos são: O Aproveitamento da Água, Arqueologia Rural e Industrial e do Gólgota a Massarelos.
Num local abrigado do ruído citadino, protegida por grandes muros, encontra-se Quinta da Macieirinha um dos mais belos espaços verdes da cidade e a Casa Tait, que serve como Gabinete de Numismática municipal. Na estreita Rua de Entrequintas, há um painel a indicar o início caminho. Pouco ou nada se consegue ler, dada a quantidade de riscos e rabiscos que o cobrem. Aliás, os grafitos são uma epidemia nestes caminhos. Não há parede, poste de iluminação ou balde do lixo que tenha resistido às tintas e canetas de quem se esconde. São os grupos que à noite se esgueiram para os recantos dos estreitos Caminhos do Romântico.
Os sinais de abandono e vandalismo roubaram parte do romantismo das ruas e trajectos pedestres traçados no vale de Massarelos. A zona encontra-se muito degradada, multiplicando-se as casas abandonadas e os actos de vandalismo. Já lá não mora quase ninguém, as casas foram ficando em ruína e as pessoas realojadas em bairros. Nos terrenos que escaparam ao abandono resistem pequenas hortas, preservadas para a subsistência das pessoas pobres que lá vivem.
O caminho vai depois desembocar na Rua da Restauração. Desci-a e segui a marginal, dando privilégio uma panorâmica privilegiada ao meu passeio o privilégio da panorâmica na companhia de um velho e leal amigo, o Rio Douro. A autarquia reconhece a degradação e abandono dos percursos dos Caminhos do Romântico no entanto romança paixões barulhentas e esbanja noutros caminhos reservados para as poluentes corridas de carrinhos de choque do seu inquilino!
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