Há muito tempo que não se via coisa assim: actores políticos das regiões Norte e Centro a defenderem as suas damas com vigor, com querer e saber. Apuraremos mais tarde o resultado do esforço, que é titânico, dado o desequilíbrio das forças em confronto. Mas é indiscutível que o "turnover", quase geracional, em curso só beneficia as regiões em causa.
Na faixa litoral que se estende de Aveiro ao Minho vivem cerca de 3 milhões de pessoas. É fundamental juntar a este eixo Viseu e Guarda, por razões óbvias. Curiosamente, ou não, é neste aglomerado que se encontram dos mais baixos índices de desenvolvimento, que se agravam de ano para ano, apesar da chusma de fundos europeus aqui despejada ao longo dos vários quadros comunitários. Por que será?
Será porque as capacidades endógenas de cada região nunca tiveram direito a uma estratégia com cabeça, tronco e membros? Será porque, enquanto a torneira europeia soltava milhões atrás de milhões, se preferiu obras de encher o olho a obras criadoras de emprego estrutural?
Será porque, preso a uma política de minifúndio institucional, cada concelho olhava para o seu umbigo e apenas para o seu umbigo?
Será porque, enquanto isso acontecia, os sucessivos governos satisfaziam interesses de curto prazo?
Será porque, à boleia de um pequeno monstro chamado efeito de difusão, que permite colocar dinheiros das regiões mais pobres em projetos de escala alegadamente nacional, voaram milhões e milhões do que deveria ser feito para aquilo que apenas alguns queriam fazer?
Será porque falar de uma verdadeira política de cidades é como contar uma anedota sem piada? Será porque o desenvolvimento regional sempre foi o parente pobre do desenvolvimento central?
Será por tudo isto e por muito mais. Isto e muito mais é, parece--me, o que autarcas como Rui Moreira (Porto), Ricardo Rio (Braga), Ribau Esteves (Aveiro), Almeida Henriques (Viseu), Paulo Cunha (Famalicão), José Maria Costa (Viana), Domingos Bragança (Guimarães), só para citar alguns exemplos, estão a tentar contrariar. Umas vezes batendo-se pelos seus concelhos, outras vezes batendo-se pelas suas regiões. Umas vezes com mais razão, outras com menos. Mas sempre na tentativa de, definitivamente, virar o bico ao prego.
As comissões de coordenação regionais, os conselhos regionais, as comunidades intermunicipais, todas as entidades de geometria variável que façam sentido têm de se juntar a esta luta. O próximo quadro comunitário é decisivo. Mas não é a única frente de batalha.
Sente-se incómodo crescente em certos setores do Governo e nas estruturas burocráticas que tudo controlam sem prestar contas? Sente. Não há melhor sinal da valia - e da dignidade - desta luta. [ daqui ]
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