Percebi no fim do jogo de Portugal com a Polónia como o final da carreira de Vítor Baía deixou Ricardo só, isolado, quase abandonado à sorte. E sublinho que foi no fim do jogo e não durante, porque aquilo de que trato aqui não é dos eventuais erros cometidos pelo guarda-redes da selecção nacional frente aos polacos, mas da forma como o discurso de alguns críticos em relação a Ricardo mudou radicalmente nos últimos meses. De repente, a titularidade de Ricardo na baliza da selecção, um dos dogmas do futebol português durante os últimos anos, deixou de ser unânime para ser discutível. É verdade que a transferência de Ricardo para o Bétis de Sevilha também não o ajudou, afastando-o dos olhos e dos corações dos sportinguistas, mas parece-me que foi mesmo o final da carreira de Vítor Baía que o deixou completamente isolado. Sem um arqui-rival comum, capaz de unir a crítica lisboeta em torno de um nome consensual, começou a instalar-se a discussão, alimentada pela tímida revolução que Luiz Felipe Scolari vai, tão relutantemente como sempre, fazendo avançar pela selecção. Afinal, porque há-de Ricardo ser o incontestável titular da Selecção quando há, por exemplo, Quim, por coincidência guarda-redes do Benfica, em excelente forma? A resposta mais simples seria porque sim. Afinal, foi porque sim que Ricardo foi o incontestável guarda-redes da Selecção enquanto Vítor Baía era bicampeão nacional, campeão europeu e até consagrado como o melhor na sua posição pela UEFA. Mas as coisas mudaram. Mudaram tanto que um dia destes, numa daquelas ironias cósmicas, Ricardo ainda vai ter saudades do tempo em que Baía defendia tão bem e ganhava tantas coisas que só mesmo um guarda-redes incontestável podia afastá-lo do seu lugar na Selecção.