Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

Selecção avessa à província (*)

do JN de 07 de Setembro, por Almiro Ferreira
A selecção nacional de futebol parece ser alérgica aos ares da província. Entre 53 jogos oficiais realizados em solo português nos últimos 20 anos, o Portugal-Sérvia da próxima quarta-feira será "só" o 27.º na capital. E o Clube Portugal, assim baptizado nos últimos anos, para celebrar a reconciliação nacional com a "equipa de todos nós", até têm agravado a histórica tendência para a centralização do país futebolístico. O encontro com os sérvios será, também, o décimo desafio oficial, entre os 17 da era Scolari, marcado para Lisboa. Ali foram já disputados todos os jogos mais apelativos do Euro 2004, da fase de qualificação para o Mundial 2006 e para o Euro 2008. A Polónia e a Sérvia seguem a ordem vigente.
Tudo não passaria de uma questão de "ciumeira" se, afinal, não se verificasse que, além do prestígio, outros valores se alevantam o clube que cede o estádio leva 10% da receita de bilheteira e até pode acumular o gozo supremo de a selecção ser composta, exclusivamente, por jogadores de um rival...
Percorrendo-se a lista dos jogos oficiais da selecção disputados em Portugal nos últimos 20 anos, observa-se que, até 2003, 17 jogos tinham sido realizados em Lisboa e 14 no Porto. No mesmo período, apenas cinco desafios fugiram à força aglutinadora das duas maiores cidades. Dois encontros foram realizados no Funchal e outros três em Setúbal, Guimarães e Coimbra, mas sempre com equipas menores.
Com a organização do Euro 2004 e a construção ou reconstrução de diversos estádios na província, esperava-se que a selecção pudesse ser mais itinerante, mas o que se verifica é a crescente centralização em Lisboa. A capital banqueteou-se com o "filet mignon" e deu os restos à "paisagem". Porto, Aveiro, Coimbra, Leiria e Faro/Loulé, com estádios novinhos em folha, levaram com cartazes de selecções de quinta divisão, do Azerbeijão à Estónia, do Luxemburgo ao Cazaquistão.
Nos últimos 20 anos, o Minho, uma das regiões do país com maior densidade geográfica, só viu a selecção num jogo a sério, em Março de 1999, com o... Azerbaijão. Guimarães, onde mora uma das mais fervorosas falanges de adeptos, a do Vitória, só voltou a ter jogos da selecção num particular de má memória para a equipa de Scolari (0-3, com a Espanha, em Setembro de 2003). E Braga? Nem um joguinho oficial para amostra. Desde 1987, a selecção foi lá seis vezes, mas sempre em jogos a feijões. E Barcelos contentou-se com um amistoso, em Março de 2005 (4-1 ao Canadá).
Mesmo nestes particulares (43, desde 1987), foi Lisboa quem mais vezes viu a selecção ao vivo, em nove ocasiões. Braga (seis jogos), Porto (4), Faro (4), Setúbal (3) vêm logo a seguir. Leiria, Coimbra, Ponta Delgada e Chaves receberam dois amigáveis da selecção, que se dignou visitar o Alentejo em duas ocasiões (Portalegre e Évora). Viseu, que ficou fora do Euro-2004, viu a selecção uma única vez (5-1 à Lituânia, em 2000), assim como Torres Novas, Maia e Águeda.
A concentração da maioria dos jogos em Lisboa origina, ainda, outra disparidade, com lucro para os clubes da capital que cedem os estádios. Segundo Amândio de Carvalho, vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol, 10% da receita de bilheteira vai para os donos dos recintos. Em estádios com o de Alvalade ou da Luz, Sporting e Benfica nunca encaixam menos de 100 mil euros com os jogos das selecções. Isto sem contar com os lugares VIP e de camarote, que, ainda de acordo com Amândio de Carvalho, podem ser negociados pelos clube, controlo nem fiscalização da FPF. O Sporting, por exemplo, tem camarotes (22 lugares) à venda por 4510 euros para o jogo com a Sérvia.