Apesar da ambiguidade inicial, confirma-se que Israel realizou uma acção militar (contra) a Síria. À semelhança de outras acções históricas israelitas, fica evidenciada a eficácia e a capacidade de Israel em lançar um ataque desta magnitude (por terra e ar) sem quaisquer consequências adicionais, mesmo sabendo que ele poderia ter desencadeado um conflito regional mas que acabou muito provavelmente por evitar a «surpresa devastadora» que a Síria já havia prometido a Israel. Lembram-se do reactor nuclear iraquiano de Osirak?
Pois; a história conta-se em poucas palavras: nos últimos meses, a Mossad e a inteligência militar israelita foram acumulando informações preocupantes sobre a cooperação atómica entre a Coreia do Norte e a Síria. Os israelitas partilharam a espionagem com os EUA, que acompanharam todo o processo militar no dia 6 de Setembro e forneceram os códigos de identificação dos seus caças para evitar friendly fire. Tudo se precipitara três dias antes, a 3 de Setembro, quando um navio norte-coreano atracou no porto sírio de Tartus com um carregamento catalogado como «cimento». A Mossad, porém, já havia confirmado que a carga do navio era equipamento nuclear. Era o último elo que faltava e consolidavam-se assim as condições necessárias para avançar com a operação.
As divisões israelitas nos Montes Golã (que espero Israel jamais devolva à Síria) efecturam uma manobra militar de diversão, reduzindo o número de forças e fazendo a Síria baixar o grau de alerta na fronteira. Inversamente e secretamente, Israel aumentava o seu. Um dia antes do raide aéreo, um comando terrestre israelita Shaldag já estava clandestinamente em território sírio para dirigir os raios laser que guiariam os aviões até ao depósito nuclear. Para obter imagens de elevada precisão, Israel desviou para a Síria o satélite Ofek7, que monitoriza permanentemente o Irão e a cada 90 minutos actualiza as suas imagens.
Na madrugada do dia 6, os pilotos dos caças F-15 só souberam a natureza da operação quando já estavam a bordo dos aviões. De noite, minimizando a hipótese de baixas, a 69.ª esquadra israelita cruzou então as linhas hostis da Síria e bombardeou uma instalação militar nas margens do Eufrates, evitando que a Síria pudesse instalar equipamento nuclear nos Scud comprados justamente à Coreia do Norte e que têm um alcance superior a 800 Km. Na Síria, as baterias de defesa só reagiram quando os caças já regressavam a Israel e nenhum dos militares envolvidos por terra e ar foi capturado ou abatido.