Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

Escola Comercial Oliveira Martins: a morte às mãos da DREN


A 23 de Maio de 1970 foi inaugurado o actual Edifício da Escola, devidamente dotado de espaços ao bom funcionamento do curso de comércio para os 2000 alunos do sexo masculino, que na altura frequentavam a escola.
Este estabelecimento situa-se na R. Major David Magno, uma rua paralela à Avenida Fernão de Magalhães, no Porto, pertencente à zona oriental da cidade, junto às Antas.
A escola assumiu-se desde sempre como escola comercial, inserindo-se assim nos estabelecimentos de Ensino Técnico, que integravam a estrutura do ensino em vigor até à década de 70, e que se caracterizavam pela coexistência de dois percursos alternativos: o Ensino Liceal, que preparava para o prosseguimento de estudos, e o Ensino Técnico, que preparava para entrada no mercado de trabalho.
À entrada do novo milénio, a Escola Secundária Oliveira Martins, atenta aos novos desafios da educação, ofereceu novos Cursos Tecnológicos e Cursos de Educação e Formação Profissional Inicial, em áreas que mantêm a sua ligação tradicional aos sectores económico e social. Beneficiando de melhores condições de ensino-aprendizagem, como resultado, da diminuição do número de alunos, da reorganização das actividades de apoio pedagógico, da renovação do equipamento escolar, e sobretudo, do esforço continuado de todos os membros da comunidade educativa, a Escola Secundária Oliveira Martins desempenhava um papel social de relevo no contexto educativo, honrando a cidade que a viu nascer, na mui antiga Rua do Sol.


PROJECTO EDUCATIVO

Uma das concepções mais comuns, tendia a limitar a noção de ensino/aprendizagem à planificação e execução exclusivamente de conteúdos técnicos e científicos, e restringi-la ao espaço exclusivo da aula. A este modelo académico, a Escola Oliveira Martins contrapôs o seguinte modelo que:
* Assumia todo o espaço escolar em conjugação com a comunidade envolvente como palco de ensino-aprendizagem,
* Incluia a aprendizagem de atitudes e valores como objecto de reflexão e ensino/aprendizagem.
* Promovia estratégias activas de aprendizagem tendo como alvo «incentivar a capacidade de pesquisa»; «seleccionar informação»; «promover sentido crítico e reflexivo»; «coordenar personalidades individuais em função de uma dinâmica de trabalho de grupo»; «desenvolver sentido de responsabilidade pessoal»
* Apoiava todos os projectos, curriculares e extracurriculares que visavam: despertar a «curiosidade científica»; desenvolver o conhecimento da condição humana com incidência na educação sexual, defesa da saúde, equilíbrio com o meio-ambiente; sensibilizar para o «sentido estético» e o respeito pelo «património cultural»; promover uma «consciência de cidadania» no campo da intervenção / solidariedade social, exercício de democracia.




Em Julho de 2006, a Direcção Regional de Educação do Norte (DREN) informou que o estabelecimento de ensino seria encerrado no final do Verão!


Indignação e revolta foi o sentimento geral dos alunos, funcionários e professores da rebatizada Escola Secundária Oliveira Martins, no Porto. Os estudantes concentraram-se em protesto contra uma medida que consideram discriminatória.
"Não há razões para se encerrar esta escola. Não existe falta de alunos mas o que é mais indecente é que a decisão tenha sido tomada sem a consulta a quem cá trabalha e tenha sido enviada para cá via fax", referia ao DN Filomena Cardoso Pinto, funcionária daquele estabelecimento de ensino.
Todos foram "apanhados de surpresa" e contestaram a "forma fria" utilizada pela DREN para informar a direcção da escola. Naquela altura, e em final de ano lectivo, os alunos não sabiam para onde seriam transferidos e os professores estavam apreensivos quanto à sua colocação noutras escolas, pois os quadros já estavam preenchidos. "Estamos neste momento a frequentar o curso profissional de práticas administrativas, que, no Porto, era apenas leccionado nesta escola. Agora não sei o que vai acontecer, se nos vão colocar em escolas da periferia e se nos vão pagar os transportes", dizia Tânia Alves, uma das alunas que participaram no protesto seguido de uma marcha lenta até à DREN. "Uma coisa é certa. Vamos ficar todos separados e perder os nossos professores", lamenta.
Já os docentes do quadro preocupavam-se com a futura colocação. Os mais velhos tiveram lugar assegurado noutras escolas, retirando o lugar a quem tinha menos anos de serviço. Os mais novos, exactamente por esse motivo, dificilmente encontraram, naquela altura, uma escola para leccionar. "Eu que sou a mais nova aqui tenho a certeza de que este ano não vou dar aulas. Lamento que decisões como esta, por muito válidas, sejam tomadas numa altura destas", salienta uma das professoras.
A falta de alunos, uma das razões invocadas para o encerramento, é contestada pela escola, uma vez que para o ano lectivo seguinte estavam inscritos 450 alunos. O argumento de que a Oliveira Martins é "um estabelecimento de ensino violento" foi também repudiado. O conselho directivo recusou prestar declarações sobre o encerramento. O DN tentou na altura ouvir a DREN, mas tal não foi possível, dado a direcção se encontrar em Lisboa para a tomada de posse oficial.


Eu fui aluno da Oliveira Martins: passei por aquelas salas logo após o 25 de Abril. Lembro-me das "comunistas" rga's, das perseguições aos professores com mais tradição (e mais sábios, ainda que da "velha escola" -acho que percebem-). Foi lá que aprendi Contabilidade, Fiscalidade, Cálculo Comercial, Noções Gerais de Comércio, Caligrafia (com penas, aparos e tinta permanente), Dactilografia, Economia, pilares fundamentais na minha carreira, mas também coisas como Introdução à Política (lembro-me duma aula, em pleno domínio comunista, ter dito a uma professora que tentava ensinar conceitos fundamentais, que "eu sou fascista e não estou para aprender estas coisas" e ela, diplomaticamente responder que eu podia ser o que quizesse, mas tinha que ter conhecimentos suficientes para poder argumentar a minha teoria) Mercadorias (!), Noções de Higiene (!), Físico-Química, para além das clássicas Matemática, Português, História, Geografia, Francês, Inglês... Aquilo que mais detestava eram as aulas de ginástica (educação física), embora aos sábados estivesse sempre presente a defender a baliza da turma, nos campeonatos inter-turmas de futebol. Era um frangueiro, mas adorava aquelas competições e a camaradagem. A dada altura da minha vida, passei de aluno diurno a nocturno e foi fantástica a mudança. Alunos mais velhos, outras experiências, outro saber, professores empenhados e aluno (muitas vezes) ensonados... Que tempos! No período mais revolucionário havia muitas quebras nas aulas e por isso íamos a correr para o que restava do campo de futebol do Bonfim, mesmo ali ao lado, e dedicavamo-nos à prática do nobre desporto: caneladas e por vazes pontapés na bola...De lá saí para a faculdade, mas ganhei pela Escola muito carinho e é por isso que me doi ver o seu desmantelamento. Muitas vezes, quando vou ao Georgio Armani dos estádios de futebol, à casa do Dragão, deixo o carro por aquelas bandas e a dor de ver o seu gradual desaparecimentoé muito grande. Fica a memória...