Escreveu “História da Civilização Ibérica” e “História de Portugal”, em 1879. Obras que marcaram, e ainda marcam, sucessivas gerações de portugueses. Oliveira Martins foi um excepcional criador do portuguesismo e um grande crítico cultural. Influenciou vários escritores ao longo do século XX, como António Sérgio, Eduardo Lourenço ou António Sardinha. Envolveu-se na política, mas não teve grande sucesso. Mesmo assim, ocupa um lugar singular no panorama político e cultural português da 2.ª metade do século XIX. “Tem uma capacidade de trabalho absolutamente fenomenal”, afiança o historiador Rui Ramos.
Somos todos filhos de Oliveira Martins na forma como pensamos Portugal e olhamos para a cultura portuguesa. É assim que o historiador Rui Ramos vê as obras de uma das figuras-chave da história portuguesa contemporânea. “Durante muito tempo relacionámo-nos com os acontecimentos do nosso país através dele e da sua escrita”, diz.
Joaquim Pedro de Oliveira Martins escreveu muito e nos mais variados domínios: história, política, economia e sociologia. Ficou célebre com “História da Civilização Ibérica” e “História de Portugal”, de 1879. “São das obras mais perfeitas em termos de arquitectura narrativa. Está tudo bem feito, equilibrado e doseado”, refere Rui Ramos. “É capaz de passar por vários registos, do trágico ao cómico, do explicativo ao evocativo.”
Nascido em Lisboa em 30 de Abril de 1845, Joaquim Pedro de Oliveira Martins ficou órfão de pai bastante cedo. Foi obrigado a interromper os estudos, que o levariam ao curso de engenheiro militar na Escola Politécnica e, por uma questão de subsistência, dedicou-se à vida comercial de 1858 a 1870. Neste ano, começou uma nova etapa da sua vida em Espanha, exercendo funções de administrador de uma mina na Andaluzia, onde permaneceu durante quatro anos. Aí escreveu obras como “Os Lusíadas - Ensaio sobre Camões, em Relação à Sociedade Portuguesa e ao Movimento da Renascença” ou “A Teoria do Socialismo - Evolução Política e Económica das Sociedades da Europa”, ambas publicadas em 1872. Colaborou ainda nos jornais socialistas que os amigos de Lisboa vão lançando: “Democracia” e “República Federal”. “É um grande escritor e um grande português”, afirma Rui Ramos.
Em 1884 Oliveira Martins regressou a Portugal para dirigir a construção da linha-férrea do Porto à Póvoa de Varzim e a Famalicão, trabalho que o absorveu, acabando por não escrever muito, excepto alguns artigos para a “Revista Ocidental”. Em 1880 foi eleito presidente da Sociedade de Geografia Comercial do Porto e, quatro anos depois, director do Museu Industrial e Comercial do Porto. Mais tarde desempenhou as funções de administrador da Régie dos Tabacos, da Companhia de Moçambique, e fez parte da comissão executiva da Exposição Industrial Portuguesa.
Foi deputado pela primeira vez em 1883, eleito por Viana do Castelo. Em 1885 lança o programa político da “Vida Nova”, que acaba rapidamente, tornando-se um projecto gastronómico, conhecido por grupo dos “vencidos da vida”. Quatro anos mais tarde foi eleito pelo círculo do Porto. Em 1892 foi convidado para a pasta da Fazenda, no ministério que se organizou sob a presidência de Dias Ferreira, e em 1893 foi nomeado vice-presidente da Junta do Crédito Público. A sagaz apreciação que fazia da via política nacional valeu-lhe um percurso político muito criticado.
Oliveira Martins “tinha uma consciência muito aguda do estado político-social do País e tentou encontrar uma fórmula para viabilizar a democracia em Portugal”, explica Rui Ramos. “Quando lemos as suas obras, encontramos uma série de ideias e conceitos ligados à história, à política e à sociedade contemporânea portuguesa, e à história antiga, que foram criados por Oliveira Martins. Ensinou-nos a ser Portugueses!”.
Oliveira Martins colaborou nos principais jornais literários e científicos de Portugal, assim como nos políticos e socialistas. A sua vasta obra começou com o romance “Febo Moniz”, publicado em 1867, e estende-se até à sua morte, em 1894. Na área das ciências sociais escreveu, por exemplo, “Elementos de Antropologia”, de 1880, “Regime das Riquezas”, de 1883, e “Tábua de Cronologia”, de 1884. Das obras históricas há ainda a destacar “O Brasil e as Colónias Portuguesas”, de 1880, e “Os Filhos de D. João I”, de 1891. “Tem uma disciplina de trabalho impressionante. É um dos escritores que mais trabalhou em Portugal”, admira o historiador Rui Ramos. A sua obra suscitou sempre controvérsia e influenciou a vida política portuguesa, mas também historiadores, críticos e literatos do seu tempo e do século XX.