Natal!
Esta palavra dita pelas crianças tem uma melodia que só elas crianças sabem entoar e um sorriso nervosinho, sinónimo de tempo de presentes e festa com a casa cheia de gente, papéis de embrulho e laços coloridos, brindes e vozes. Já não é exactamente o mesmo que era para mim quando tinha pouca idade. O Natal tinha poucas prendas e o cenário era mais pobre na perspectiva comercial. Havia o forte sentido da religiosidade, pois muitos continuavam a acreditar apenas no menino Jesus (o Pai Natal andava pelas paragens americanas) e no real significado da Natividade, e a noite de consoada servia para reunir alguma família e ter uma mesa mais farta que nos demais dias do ano. De resto não havia, como hoje, correria e listas e mais listas de compras, de postais a enviar, de telefonemas a fazer e de "não te esqueças de fazer as encomendas dos doces a tempo". Actualmente, toda esta época é um stress mais a juntar a todo o outro dos restantes dias do ano. As compras, o dinheiro, o que comprar, o tempo perdido de um lado para o outro, fazer a árvore, o presépio, dar aquele brilho à casa que, confesso, hoje já não me dá gozo nenhum, apenas ficam as minhas memórias da infância e um perfume que já mal sinto.
Este ano, apetece-me fazer algo diferente. Quero ter um outro Natal. Quero mudar. Preciso mudar para não sentir que me traio e que poderei continuar a ser eu em todos os momentos, sem ter mais pedras no sapato em relação a mim, sem ficar de mal comigo mesmo. Não sei como a família vai reagir, mas vão ter que aceitar que não posso continuar a ser o que não quero ser mais, que não aguento ser apenas o que sempre esperam que eu seja. Este vai ter que ser o meu Natal, ou pelo menos não tem que ser o Natal dos outros....