retirado de uma opinião de Martim Avillez Figueiredo
"O crime que assusta Portugal não é do país. É de uma cidade. Mas o poder da cidade do Porto nada pode contra os gangues da noite que disparam uns contra os outros.
Não é falta de empenho do Norte – é da lei que exige que seja o país (Lisboa) a resolvê-la. Não faz sentido: o presidente da câmara de Nova Iorque, o agora candidato Rudolph Giuliani, só resolveu o crime violento em Manhattan porque ele mandava na polícia. Não precisou de ligar para Washington.
Rui Rio, o presidente da Câmara do Porto, explica que está muito contente com a actuação do procurador-geral da República. Não devia: Rio tinha obrigação de reclamar protagonismo, de aproveitar este momento para exigir que os municípios tenham mais poder – como de resto fazem todos os autarcas quando o assunto é cobrança de impostos. Agora que é a doer, aplaudem a actuação do Terreiro do Paço. Vale a pena recordar aqui o que fez Giuliani. A história resume-se rápido.
Perante a violência diária nas ruas de Manhattan, Giuliani chamou ao seu gabinete dois homens sem quaisquer super-poderes. James Q. Wilson, um académico conhecido por desenvolver a teoria das ‘janelas partidas’, e William J. Bratton, um polícia duro que transformou uma viagem no metro de Nova Iorque numa actividade tão segura como um passeio na Quinta Avenida. Juntos, os três conceberam um complexo plano de ataque que se apoiava em ataques massivos e brutais nos instantes do crime (e apenas nesses locais) acompanhados no dia seguinte de equipas de requalificação urbana que não deixavam sequer uma lâmpada fundida nas ruas. Em 5 anos, os assassínios caíram 68% e a criminalidade 50%. Mas em Portugal prefere celebrar-se as virtudes da acção nacional de um procurador corajoso em vez de se aproveitar a rédea livre de Pidá e amigos para procurar políticas eficazes para, de cidade em cidade, combater o crime violento. Até Tony Blair percebeu que um dos segredos do combate ao crime era a descentralização do controlo das polícias. Mas não há nada de verdadeiramente novo nesta conclusão nacional.
Os políticos de Portugal são especialistas em atacar a espuma dos dias mas em nada fazer para controlar a força das marés.