Já sabíamos da orquestração literária da sra. d. Carolina, mas esta vem confirmar o que suspeitavamos:
Para efectuar as análises técnicas aos jogos, o Ministério Público recorreu a três ex-árbitros internacionais – Vítor Pereira, Jorge Coroado e Adelino Antunes – todos, evidentemente, pertencentes à Associação de Futebol de Lisboa, porque toda a gente sabe que os únicos árbitros honestos e isentos são de Lisboa e, vá lá, alguns de Setúbal e Santarém...
Adelino Antunes tem 75 anos, está ligado à arbitragem há cerca de 53 anos, foi árbitro internacional até 1976 e, depois de abandonar a actividade, foi monitor, dirigente do Conselho de Arbitragem da AF Lisboa, membro da Comissão Técnica da FPF e da Liga e actualmente faz parte da Comissão de Análise da FPF.
No dia 31/03/2008, em pleno Tribunal de Gondomar, Adelino Antunes fez algumas declarações interessantes.
Por exemplo, que as análises efectuadas juntamente com Vítor Pereira e Jorge Coroado não foram consensuais relativamente a várias jogadas das 63 filmagens de jogos observadas.
Quem diria? E eu que pensava que nestas coisas do futebol era tudo tão claro, objectivo e inquestionável.
Afinal, vendo e revendo os lances na televisão, três ex-árbitros de Lisboa nem sempre estiveram de acordo... imaginem se tivessem que decidir, em fracções de segundo, dentro do campo!
Outra afirmação interessante foi que as peritagens tinham sido efectuadas nas instalações da Associação de Futebol de Lisboa, num écran gigante, o que facilitou bastante o visionamento dos lances.
Nas instalações da Associação de Futebol de Lisboa?!
Não arranjaram um sítio melhor, mais apropriado ao objectivo pretendido?
Sei lá, por exemplo o estádio da Luz. Tenho a certeza que no “ninho das águias” tinham visto as imagens de forma muito mais “clara” e consensual...
Mas a melhor afirmação de todas, do depoimento prestado em Tribunal, foi relativa ao célebre jogo entre o FC Porto e o E. Amadora e a um diálogo mantido com inspectores da Polícia Judiciária (PJ).
Afirmou Adelino Antunes: “Uma vez disseram-nos [inspector da PJ] que não tínhamos analisado dois fora-de-jogo do FC Porto-Estrela da Amadora. Eram dois golos que ele [inspector da PJ] considerou ter sido alcançados em fora-de-jogo no FC Porto-Estrela. Nós [o trio de peritos] voltámos a ver o jogo e concluímos que os lances eram legais e foram bem decididos pelo árbitro Jacinto Paixão”.
Como? Importa-se de repetir?
Então um senhor inspector da PJ queria que os peritos dissessem que os golos do FC Porto tinham sido obtidos em fora-de-jogo?!!!
Porque será?
Talvez a chefe da equipa especial – Maria José Morgado – nos possa e queira explicar...
Enfim, é mais um facto, a juntar a tantos outros, que demonstra a forma como a equipa do Ministério Público / Polícia Judiciária conduziu as chamadas investigações do processo Apito Dourado.