Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

TERRA


I
Que lugar senão este
alguém nos ofereceu
como uma prenda de anos?
Que lugar senão este
um dia nos deixaram
com terra, mar e céu?

Que lugar senão este
havemos de oferecer
a quem de nós rasgar
o espanto do futuro?
Que lugar senão este
- não me podem dizer?

Aqui a cotovia
nos canta seus segredos,
mas os bichos da terra,
de narizes no ar
e corações aflitos,
cirandavam entre medos!

II
Nos rios e ribeiros
é lenta a correria
das águas destroçadas.
Onde a pureza antiga
que as perdizes bebiam
em longas madrugadas?
Já nos lagos as nuvens
não se reflectem, não.
E pela mão dos barcos
navegam os silêncios
que um dia a porto firme
nem sequer chegarão.

III
O ar que respiramos
será falta de ar?
Quem nos espreita do alto,
pelo buraco feito
na camada de ozono?
É o perigo que espreita
um mundo ao abandono.

IV
Que mundo senão este
alguém nos ofereceu
como uma prenda de anos?
Que mundo senão este
um dia nos deixaram
com terra, mar e céu?
Que mundo senão este
deixaremos um dia
para oferecer a quem
depois de nós vier?
Que mundo senão este
- não me podem dizer?

Maria Alberta Menéres, in No Coração do Trevo - Poesia para Crianças. Editora Verbo. Edição:Outubro de 1992