Manuel Serrão
A entrevista de Passos Coelho a Júlio Magalhães, que o Porto Canal transmitiu no passado domingo à hora do sermão habitual do professor Marcelo na TVI , tem muito que se lhe diga, para além do muito que lá disse o primeiro-ministro.
Desde logo não consegui confirmar que tenha sido a primeira entrevista de um primeiro-ministro português a um canal do cabo, mas foi seguramente a primeira entrevista que um chefe de Governo português concedeu a uma televisão regional de um clube desportivo. Com tudo o que isso significa para o Porto Canal.
Em segundo lugar, se Passos Coelho aceitou dar uma entrevista substantiva a um canal não generalista, é porque ele próprio já reparou que o Porto Canal mudou e está convencido da utilidade em veicular mensagens através dele.
Diga-se em abono da verdade que não foi Passos Coelho o primeiro a chegar a esta conclusão, até porque têm sido cada vez mais as personalidades das várias áreas de atividade que têm comparecido em programas, noticiários e debates promovidos no Porto Canal.
Já aqui escrevi que o país tem lugar para várias televisões regionais e só não existem mais porque as próprias forças vivas dessas regiões tendem a não acreditar no sucesso e na premência destas questões. O que tem sido o calvário de muitos projetos e faço votos, e faço o que está ao meu alcance, para que neste caso e nesta iniciativa não voltemos a poder lamentar-nos do mesmo daqui a pouco tempo.
Nesta viragem do Porto Canal estão de parabéns várias pessoas e entidades. A começar pelo meu amigo Juan e a sua Media Pro, que nunca desistiram de ver o Porto Canal em mãos regionais que o soubessem guindar ao lugar que tem por direito próprio. Para além de continuarem a emprestar ao dia a dia do canal toda a sua competência tecnológica.
Depois, o F. C. Porto, que em boa hora decidiu atravessar-se no projeto de fazer um canal de televisão sem se deixar cegar pela ideia de fazer um canal fechado e menor (como aquela aberração da Benfica TV ) que só falasse do clube e das suas gentes. Assumindo-se como parceiro fiel nos conteúdos desportivos e leal nos restantes aspectos da programação.
Nunca como agora a existência na região de projectos jornalísticos com grande influência na área da imprensa escrita mas também no audiovisual foi tão urgente e necessária.
A lembrá-lo com um grito de óbvio ululante aí está o anúncio de que a RTP se prepara para "roubar" ao Porto e ao Norte a sua mais famosa casa de visitas. Segundo o que se vai sabendo, parece que a televisão pública se prepara para mudar de "armas e bagagens" para Lisboa o "Praça da Alegria". Um programa que se produz no Porto há 18 anos. Com muitas coisas merecedoras dos maiores encómios e com a particularidade cada vez mais rara de dar antena e voz a muitos agentes e instituições do Norte, quando em Lisboa só estamos habituados a ver desfilar sempre as mesmas caras e cromos, que se vão sucedendo e cumprimentando, como quem já se sente em família.
Mais uma vez aqui impera a lógica de que sendo preciso cortar, corta-se no Norte, que se corta melhor. E os berros são mais longínquos...
Dá ideia que por cá ninguém nos pode ver com uma camisa lavada, quanto mais nova. É uma coincidência muito estranha que este ataque à "Praça da Alegria" e à RTP do Porto venha na mesma altura em que o Porto Canal, com a entrada em cena da primeira grelha gizada por Júlio Magalhães e Domingos Andrade (sob a égide do FCP), começa a registar níveis de notoriedade e audiência que devem ter feito soar alguns alarmes por terras da capital.
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