Manuel Pinho falou dos filhos e dos enteados que emigraram. Manuel Pinho falou da revolução industrial. Manuel Pinho falou do iPhone. Manuel Pinho falou do nevoeiro de Pequim. Manuel Pinho falou da exploração de gás de xisto nos Estados Unidos. Manuel Pinho falou da vida académica e do desejo em escrever um livro sobre tudo o que aprendeu no fascinante mundo da energia. Manuel Pinho falou, falou, falou. Mas durante três horas não disse nada que ajudasse a iluminar a sua sombria passagem pelo poder. Porque não quis, porque tem algo (muito?) a esconder, porque não lhe molesta a consciência a gravidade das suspeitas públicas que pendem sobre si. E convém recordá-las: o ex-ministro da Economia de José Sócrates, na convicção do Ministério Público (que, ao longo de um ano, ainda não o ouviu!), terá recebido, através de uma offshore, uma avença mensal de mais de 14 mil euros do "saco azul" do GES para, alegadamente, beneficiar o Grupo Espírito Santo e a EDP. Pior: terá beneficiado desse pagamento enquanto era governante.
E é aqui que política e eticamente urge expor o óbvio. Recebeu ou não recebeu? Pinho refugiou-se no formalismo para disparar evasivas: tinha ido à Assembleia apenas para falar de energia, não da sua conta bancária. Deu um baile monumental aos deputados, ao Parlamento e, por indesejada inerência, ao país. Fazendo uso de uma sobranceria moral e intelectual, chamou burros aos parlamentares e mandou-os estudar. Isto apesar de não ter conseguido explicar como conseguiu auferir 490 mil euros de salários em 2005 por dois meses de trabalho no BES. Já tínhamos visto este filme com Zeinal Bava e Ricardo Salgado. Portugal, para esta gente, é uma maçada. Manuel Pinho foi habilidoso na seletividade do que não disse. Temo bem que esteja em estágio avançado para ser engenhoso na escolha do que não se lembra.
0 comentários:
Enviar um comentário