DRAGÃO DO SUL - A crónica semanal de Paulo Baldaia em O JOGO
Este é um título que eu gosto de recordar a toda a hora. Nasci com o país a ser governado por uma ditadura, a televisão transmitida a preto e branco e um regime adotante de um clube que queria ser hegemónico.
Já em Democracia, precisei de esperar até 1978 para romper com um jejum de 19 anos que a ditadura tinha imposto ao clube do meu coração. Tinha catorze anos quando pude festejar pela primeira vez um título de campeão nacional de futebol. Foi o princípio de uma história única, que teve como principal protagonista o presidente mais titulado do mundo.
Hoje vivemos um tempo que nos obriga a estar em constante alerta, outra vez vítimas preferenciais de um centralismo com saudades de devolver a hegemonia ao clube do regime, disponível até para esconder todos os casos de justiça debaixo do tapete, como se o que é feito em nome desse clube não tivesse de ter implicações no campo desportivo. Adiante! Saberemos ultrapassar os obstáculos que nos puserem pela frente, porque aprendemos a tornar-nos mais fortes com a adversidade.
Todas as comparações nos são favoráveis. Em Democracia, o Futebol Clube do Porto teve dois presidentes, enquanto os rivais da segunda circular tiveram nove e doze. Neste período conquistámos mais títulos (64) que Benfica (41) e Sporting (21) juntos, numa comparação favorável que se volta a repetir quando contamos apenas os campeonatos de futebol, sendo que o FCP venceu 23 vezes, contra 16 dos encarnados e quatro dos leões.
Goleada à moda antiga (7-0), mas com a televisão a transmitir a cores, damos nos títulos internacionais: duas vezes campeões europeus, duas vezes campeões do mundo de clubes, uma supertaça europeia, uma Taça UEFA e uma Liga Europa. A ambição europeia, proclamada pelos vermelhos de Lisboa, cheira, por isso, a grande bazófia.
Tendo em conta as últimas prestações da equipa, que esteve dois anos quase sem fazer pontos, deixando que a Rússia nos passasse à frente, mais parece que a dita ambição é areia para os olhos dos adeptos, tentando convencê-los de uma grandeza presidencial que não existe. Mesmo com a batota que sabemos ter acontecido nos últimos anos, desde que Filipe Vieira assumiu a presidência do Benfica perde de forma clara para Pinto da Costa no número de troféus conquistados e, sobretudo, na qualidade dos títulos.
O presidente do FCP já conquistou sete títulos internacionais, três dos quais (Liga dos Campeões Europeus, Taça Intercontinental e Liga Europa) com Vieira a assistir a tudo a partir do seu posto na segunda circular. Só mesmo para rir, é preciso dizer que à goleada de 7-0 que Pinto da Costa dá a Vieira nas competições internacionais, Vieira responde com uma goleada idêntica na taça CTT.
Temos um presidente que, bem para lá das inúmeras conquistas desportivas em todas as modalidades, tem tido uma intervenção única ao nível político e social. Afirmou-se na sociedade portuguesa como um homem culto e uma das vozes mais autorizadas na luta contra o centralismo de Lisboa, a favor da regionalização mas, sobretudo, a favor de um desenvolvimento justo e equitativo de todo o território.
Fez ontem 82 anos e já se mostrou disponível para se candidatar a mais um mandato no único clube, entre os três grandes, em que se aplica o princípio democrático "um Homem, um voto". Estamos todos de parabéns!
P.S. Neste Natal jantei com portistas de Lisboa e de Figueira de Castelo Rodrigo em duas casas do Futebol Clube do Porto, que são a mais antiga e a mais nova de um universo que casas que se encontra no mundo inteiro. Na capital ou no interior do país, a mesma paixão, a mesma energia a criar a onda azul. Como adepto só tenho de agradecer a todos os que, pelo mundo fora, tornam maior o nome deste clube.
(daqui)