O texto
que se segue é da autoria do Pedro Bragança. O meu muito obrigado pela
coragem invulgar, neste país rendido e submisso.
Diz a imprensa de hoje que António Costa “abriu Segredo de
Estado” no processo EDP/Mexia/Pinho/etc. Documentos confidenciais ficam agora
ao dispor da investigação, que tentará apurar a existência de corrupção. Para
quem não sabe, este é o verdadeiro caso de Rui Pinto. Recuemos.
- 22/12/2018 – A PLMJ, uma das mais influentes sociedades de advogados em Portugal, envolvida em muitos dos grandes negócios do Estado Português e encarregue da defesa de Mexia, chairman da EDP, neste processo em concreto, via correspondência sua tornada pública num blog.
Nesse primeiro leak, mensagens trocadas entre os três advogados
encarregues da defesa do SLB no E-toupeira revelavam a preparação de
testemunhas. Parecia irrelevante, mas viria a saber-se mais tarde que essa era
apenas a ínfima ponta de um enorme iceberg.
- 23/12/2018 – Peritos contratados pela PLMJ confirmaram o acesso a pelo menos 150 computadores do escritório, numa ação continuada desde outubro de 2018. Iniciava-se neste momento uma perseguição ao autor do blog e, no mesmo dia, a sociedade conseguiu o seu encerramento coercivo.
- 31/12/2018 – O blog reabre numa nova plataforma, agora sediado no Irão, e responde com a divulgação de 29 mil e-mails (doze anos) de João Medeiros, sócio da PLMJ, advogado de Mexia e em muitos outros grandes casos judiciais nos últimos anos. Uma mina de informação.
(Muitos dos documentos que António Costa agora abriu
~generosamente~ à investigação criminal tinham já sido revelados há mais de 10
meses. E foi com base nessas revelações que jornalistas do Expresso iniciaram,
na altura, um trabalho de investigação e contextualização.)
- 8/1/2019 – Uma semana depois, Expresso publica primeira notícia na edição online: advogados de Mexia e Pinho concertaram estratégia no processo EDP e, mais importante, reconheceram a implicação do ex-ministro no patrocínio da eléctrica à U. Columbia, a contrapartida da corrupção.
No momento do contraditório, João Medeiros (PLMJ) preferiu não
falar ao Expresso e avançou com um processo judicial contra o jornal.
Imediatamente a seguir, uma providência cautelar aceite pelo tribunal proibia
novas publicações sobre qualquer assunto vindo de mails da PLMJ.
- Na edição em papel, a 12/1/2019 (que, por mera coincidência, contava com a opinião de José Miguel Júdice, sócio fundador da PLMJ), nem uma linha sobre o assunto. Não só a investigação era congelada, como eram omissas as razões para a sua interrupção abrupta.
Apesar de não existir nenhuma evidência disso, havia a forte
convicção de que o autor dos leaks da PLMJ era Rui Pinto, cidadão português a
residir na Hungria e promotor do Football Leaks. A única forma de tentar saber?
Prendê-lo.
Apenas 4 dias depois da última notícia na edição online do
Expresso, um mandado de detenção europeu, elaborado à pressa e com erros
formais, era executado. Rui Pinto fora detido na Hungria, na presença de
autoridades locais e portuguesas.
O motivo formal não era, obviamente, o caso PLMJ, sobre o qual,
diga-se, ainda hoje não há ligação evidente a Rui Pinto, como denota a
acusação. Um caso congelado com mais de 3 anos (Doyen/Football Leaks), que
nunca suscitou qualquer demarche, serviu de pretexto para a detenção.
- Às 20h de 16/1, em prime time, numa conferência de imprensa à americana, absolutamente incomum, PJ dava a notícia: Ladies and gentlemen, we got him. Caçámos Rui Pinto. Mas… tudo isto por causa de um conflito privado entre um fundo cazaque-maltês e um emigrante? Estranho, não?
Parece evidente que com a notícia da detenção de Rui Pinto as
autoridades portuguesas quiseram mostrar serviço e, sinceramente, isso é o mais
alarmante. Mostrar serviço a quem? Porquê?
Desde o final de 2018, 8 sócios abandonaram a PLMJ, entre os
quais alguns dos mais reputados, como João Medeiros.
As revelações de informações da PLMJ pararam desde a detenção de
Rui Pinto. No entanto, a encriptação dos discos apreendidos tem impedido o
acesso à informação. Ninguém sabe o que Rui Pinto sabe e isso tornou-se
aterrorizador para muita gente.
Rui Pinto continua preso. Esteve 6 meses em isolamento, sem
contacto com outros presos, e proibido de conceder entrevistas a jornalistas.
0 comentários:
Enviar um comentário