Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

Doentes crónicos (*)


Na sua Política, escrevia Aristóteles no século IV a. C. :

 …Em tempos idos…, cada indivíduo considerava justo que os cargos fossem desempenhados em alternância. Actualmente, devido aos benefícios derivados dos cargos públicos e do exercício do poder, os homens desejam a ocupação permanente desses cargos. É como se os ocupantes desses cargos se tornassem homens doentes e apenas recuperassem a saúde quando estão em funções…”

Isto era na Grécia, mas por cá a situação é muito mais grave. É que os nossos políticos não ficam doentes quando terminam funções, já vão enfermos logo ao iniciá-las.
Nem a propósito, a Ministra da Saúde é exemplo de que entrou já severamente combalida quando, respondendo à Ordem dos Médicos sobre a morte de mais de 2.600 doentes enquanto aguardavam cirurgia, afirmou que 70% morreram dentro do prazo garantido…(para a cirurgia, supõe-se…).

Portanto, dentro do prazo, tudo bem, a culpa foi deles, que se apressaram a morrer…

E os que escolheram expirar fora do prazo de garantia foram apenas 30%, coisa negligenciável… deviam esperar um pouco mais… 

Por falar em prazos, também a Secretária de Estado da Justiça parece exercer funções em situação de pronunciada debilidade. Face à insuportável demora no atendimento para tratar do Cartão de Cidadão, resolveu culpar os utentes por irem para a porta dos serviços antes do prazo, neste caso, de abertura, quando estes ainda estão encerrados. Serviços bem organizados não podem compactuar com o calendário dos cidadãos, era o que faltava. Assunto resolvido.

Igualmente se confirmou a plena luz a enfermidade que vinha minando o Ministro da Administração Interna e que lhe abalou toda a resistência para responder à anunciada combustão das suas estimadas golas de auto-protecção (o eufemismo do ano…), aliás um material tão pouco auto-protector e tão inflamável que até lhe estoirou nas mãos. Em natural estado de choque, logo responsabilizou os cobras que propalavam tais irresponsáveis notícias e esmurrou mesmo o microfone que lhe apresentavam, classificando-o, ele, sim, e não as golas, como objecto combustível. 

Ainda bem que um conveniente ensaio científico em tarde domingueira o fez ressurgir do abalo e anunciar a natureza não inflamável, mas meramente perfurável, do material. E, com tal reconversão, aí estamos novamente auto-protegidos contra incêndios não fumegantes nem perfurativos, obviamente de calor ameno. Sem protecção, perfurados e bem esturrados, é que lá deixou 125.000 euros de merchandising.

Grave perturbação também atingiu o Ministro dos Negócios Estrangeiros quando disse que “não é clara e que seria um absurdo a interpretação literal” de uma norma, raras vezes tão luminosa, que impede contratos com o Estado de empresas cujo capital seja detido em mais de 10% por titulares de órgão de soberania, fixando como sanção a nulidade dos contratos e a demissão daqueles titulares.

E com não menor torvação estará o próprio 1º Ministro que em 1996 defendeu essa lei e agora pede à Procuradoria-Geral da República a suprema graça de o iluminar sobre o que antes apoiara.     

Sintomas de moléstia aguda mostra também quem anuncia mobilizar reservas estratégicas de combustível para acudir à greve dos motoristas, quando o problema é, sim, a mobilização do combustível até postos de abastecimento…   

A grande maioria dos actuais políticos e governantes serão candidatos às próximas eleições. Devido aos benefícios derivados dos cargos públicos, os homens desejam a ocupação permanente desses cargos…tornam-se doentes e apenas recuperam a saúde quando estão em funções…”. 

Aristóteles tinha razão. Bem para eles que, sem isso, se tornariam doentes crónicos.
Mas mal, muito mal, para uma democracia de qualidade. 

(* artigo de Pinho Cardão no i, edição de 14 de Agosto de 2019)

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