Para começar, devo dizer que tenho amigas de Lisboa que são “gajas do Norte”. Assim como eu. Que até nasci em Alvalade, numa clínica da moda da minha geração. As verdades são para se dizer. Estou muito agradecida aos serviços clínicos de Lisboa, mas AINDA BEM que só fiquei uma semana na capital. Eu sei lá em que mês uma pessoa “vira” lisboeta. Crescer no Porto, passar férias no Norte e ter começado a trabalhar numa delegação de uma redacção, que vai de Castelo Branco a Miranda do Douro, fazer de tudo, foram as coisas melhores que me podiam ter acontecido, como portuguesa. Querem saber porquê? Vou tentar explicar, apesar de ser tão difícil como explicar porque é que se é de um clube e não de outro. No entanto, quem for como eu, percebe que se eu crescesse em Lisboa, seria do Sporting. Sou do FCP por família e amor. Assim como é amor o que eu sinto pelas mulheres do Norte. Pelas minhas amigas do Norte. Não há iguais. Estão lá sempre. Não dizem “um dia vemo-nos”, vêm-nos buscar a casa. São leais e constantes. Têm sempre lugar para nós à mesa e em casa, mesmo que alguém tenham no sofá. Ficam do nosso lado, mesmo quando sabemos que não temos razão. A razão arranja-se porque a lealdade é cega. E ainda refilamos! “O que é que queres? Nunca te enganaste? Cala-te, mas é!”. Têm sempre lugar para nós, nem que vão elas para o sofá.
O mais bonito de tudo é que também podemos dizer estas coisas umas às outras, sem que nos ofendamos. Em Lisboa, são todas muito “ofendidinhas”… Betinhas mimadas. Take a Walk on The Wild Side, mas é!
No Porto e no Norte há mais chuva e mais frio. Temos de estar perto umas das outras. Sem pretexto, porque ali, vivemos noutro contexto. A amizade não é uma celebração fútil, é uma necessidade básica garantida. Estamos umas para as outras. E quando migramos, basta dizermos que somos do Porto que fica logo “tudo dito”. Explicada esta irracionalidade real, é no entanto verdade, que as minhas amigas de Lisboa (são poucas) podiam muito bem ser do Porto. Ou seja, porreiras e – não sei se existe a palavra (passa a existir) – desenmerdam-se sozinhas. Não estão com rodeios, dizem palavrões sempre que é preciso. Dizem “foda-se para esta merda”, nem que seja baixinho. Mesmo a dizerem asneiras ou a puxarem para o chinelo (quem é que não tem a sua costela de peixeira?) nunca são mal-educadas. Têm estilo.
As gajas do Norte fazem um enorme esforço para fingirem que gostam, do que quer que seja. Fingir é trabalho. Ponto.
Uma gaja do Norte levanta-se quando cai. Não tem medo do escuro. Refila, reclama, renasce quantas vezes a vida pedir. Porque já basta a merda da vida para uma pessoa se chatear. As minhas mulheres são de granito, sólidas e consistentes. Se for preciso zangam-se. Mais e melhor. Mas também perdoam. Porque o amor entre elas é muito facilmente correspondido. Sem grande lamechice ou histeria. Há dúvidas? Engulam-nas.
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