Marques Mendes pretende revolucionar o PSD implantando o sistema de eleições directas. É o fim dos Sociais Democratas tal como nós os conhecemos porque este é mais um passo para tirar o partido das manápulas dos caciques locais. A coisa dantes era simples: o cacique pagava as cotas aos militantes que pouco mais tinham de fazer do que seguir as suas directivas. A lealdade paga-se. A eleição dos representantes locais sempre foi pacífica: ou se elegia o que abonava ou alguém da sua confiança. A eleição do líder nacional, por seu turno, é, até hoje, feita numa espécie de circo semi-mediático a que chamam, vai-se lá saber porquê, «Congresso». E o que é um «Congresso»? Durante menos de três dias concentram-se num ponto qualquer os delegados, escolhidos pelo processo inicialmente descrito, oriundos de todas as concelhias do país: de Moimenta da Beira a S. Brás de Alportel, de Lisboa a Machico, e negoceiam-se listas de nomes. Para disfarçar a coisa ainda se lêem moções e manifestos que ninguém ouve, mas que todos votam em função da lista para a qual foram encarreirados. Para tornar a coisa mais interessante existem sempre traições dolorosas e vira-casacas sempre atentos, os quais farejam por debaixo da porta do armário das vassouras (onde o futuro líder conspira com os seus peões). Reparem que todo este complexo e misterioso processo faz-se ao longo de mais de 48 horas sem dormir, sem comer em condições, de litros de café e até de whisky para os casos mais sérios. Convém não esquecer o enxame de jornalistas e de câmaras de televisão que quase tudo espiolham. No final, deste sanatório sai um candidato a primeiro-ministro. É assim que os Sociais Democratas escolhem o futuro da nação.
Marques Mendes vai pôr cobro a isto. Pena! Vão-se perder momentos fantásticos de televisão. É o adeus a este Portugal dos pequeninos ao vivo e a cores, com direito a transmissões em directo pela madrugada fora. O que vai ser de nós sem a ópera bufa da praxe protagonizada por Santana Lopes ou Filipe Menezes? Será o fim de uma era? Será o fim da política kitsch?
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