Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

De regresso a casa


« Porto Canção »

Neste Porto todo em bruma
que cobre as águas do rio
passeia um deus que se esfuma
nas águas em desvario.

Neste Porto em que me deito
sonho noites de ternura
sorvendo-o me deleito
em cálices de amargura
depois deito-me adormeço
numa cama de granito
e já nem me reconheço
nos sonhos em que me agito.

Ao chegar a madrugada
espreguiça-se a cidade
respira o ar da nortada
banha-se na claridade.
Neste Porto me levanto
com gestos de lentidão
entorpecido no canto
dos passos da multidão.
E saio por aí fora
disfarçado em burburinho
como quem sabe onde mora
este Porto em desalinho
vou sorvendo o labirinto
em frenética ansiedade
neste Porto em que me sinto
um Ícaro em liberdade.

E mergulho na corrente
coloco a Foz como rota
dirigindo-me ao poente
nas asas duma gaivota
busco o mar que me alicia
com as lendas marinheiras
com ondas de melodia
a embalar as traineiras.

Neste Porto todo em bruma
que se alaga sobre o rio
passeia um deus que se esfuma
nas águas em desvario:
- é Neptuno carpindo
os seus ciúmes e mágoas
ao ver o Porto sorrindo
sobre o espelho das águas.

FERNANDO PEIXOTO

© Sylvia Cohin - Visite o site da poeta