Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

A famosa bôla de Lamego já se serve no Porto

A Casa das Bôlas tem mais de 50 anos e é a nova pastelaria da cidade


É difícil não reparar na máquina registadora de volumosos botões e manivela que está respeitosamente exposta à entrada da Casa das Bôlas. O aspecto imaculado e conservado não deixa transparecer a história e as “milhares de bôlas” que ali foram registadas por Álvaro Guedes Pereira, o pasteleiro que fundou esta casa em 1966. No ano em que se celebram os 50 anos de vida da mais famosa bôla de Lamego, a Casa viaja pela primeira vez até ao Porto, para servir a especialidade aos portuenses.

Anabela é a filha e representante da segunda geração que comanda, juntamente com as duas irmãs, a versão moderna da Casa das Bôlas. Há meio século, havia apenas uma pastelaria em Lamego, a Pastelaria da Lila, onde Álvaro trabalhava. O negócio por conta própria não tardou e o então jovem pasteleiro começou a trabalhar na receita que ainda hoje é respeitada ao milímetro. Foi numa pequena loja, atrás da Sé de Lamego que nasceu, fruto de muitas viagens pelas aldeias, a recolher a matéria prima para o recheio das bôlas.

“Foi muito graças a esses produtos genuínos que a bôla ficou famosa. Hoje, usamos a mesma receita mas temos que usar a matéria prima que está disponível. Já não andámos a recolher presuntos nas casas dos particulares”, conta Anabela Pereira.

Já com dois espaços em Lamego, a chegada da Casa das Bôlas ao Porto foi fruto de um acaso. Descobriram o espaço em Junho e decidiram que não o podiam perder. Fizeram o contrato e colocaram uma tarja com o nome da casa no próprio dia. Só viria a abrir seis meses depois.

Nas montras é possível encontrar as receitas tradicionais que Álvaro Pereira lançou na casa de Lamego, como a de presunto e salpicão ou a de carne de porco em vinha de alhos. Os tempos mudam e “os palatos também”, explica Anabela. Foi necessário apostar noutros recheios e combinações: frango, sardinha, bacalhau e até uma versão vegetariana.

As bôlas são preparadas em Lamego e transportadas diariamente até à nova loja, onde saem do forno, frescas e quentes, várias vezes ao dia. Pode comprá-las inteiras, meias ou à fatia, com preços que vão dos 5,5€ aos 15€.

A mãe de Anabela também teve um dedo importante na história da casa: “Ao longo dos anos, ela foi recolhendo várias receitas conventuais perdidas, através clientes que eram doceiras e senhoras que tinham uma paixão pela culinária.” Toda essa doçaria está à venda nas montras da Casa das Bôlas, dos peixinhos de chila aos barquinhos de Santa Clara. Não faltam também os biscoitos de romaria como os areados, os torcidinhos e os exclusivos alvarinhos.

O local é privilegiado e Anabela sabe-o bem. A loja partilha a esquina entre a Avenida da Boavista e a rotunda, lado a lado com a Casa da Música. Mas ao contrário do edifício vizinho, a decoração é caseira e tradicional. Basta olhar para a peça central, uma velhinha masseira de madeira trazida de um antiquário, já que as de Lamego tinham “o triplo do tamanho” e “dificilmente caberiam no espaço”.

Para fugir às “linhas demasiado direitas e modernas”, optou-se por um aspecto sóbrio, um padrão vintage de mosaicos hidráulicos no chão e peças rústicas.

“Queremos que seja um espaço acolhedor e caseiro, bem português. E como por aqui também há muitos turistas, queremos que aqui encontrem e levem consigo um bocadinho do nosso País.” E bôlas, não se esqueçam das bôlas, até porque estamos a falar da mais famosa de Portugal.

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