Por que razões é muito grave o que a Sábado revelou ontem, apesar de muitos fingirem que ainda não o perceberam:
1. Porque estava a decorrer uma investigação ao caso dos vouchers, promovida pela Comissão de Instrução e Inquéritos da Liga, que teria sequência até ao Tribunal Arbitral do Desporto.
2. Porque no âmbito dessa investigação havia várias partes envolvidas: o Sporting, que denunciou o caso; o Benfica, que oferecia os vouchers; os árbitros, que os recebiam.
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3. Porque uma das partes – o Benfica – teve acesso à defesa da outra – os árbitros – antes mesmo de ela se concretizar.
4. Porque uma das partes – o Benfica – teve acesso à defesa da outra – os árbitros – dias antes de ser ouvida, através de Luís Filipe Vieira, em sede de inquérito.
5. Porque uma das partes – o Benfica – fez chegar a defesa da outra – os árbitros – a alguém que aparentemente não tinha nada a ver com o caso – Ricardo Costa, o benfiquista de Canelas.
6. Porque após passar pela Liga e pela Federação, tudo indicava que este caso acabaria por decidir-se no Tribunal Arbitral do Desporto, como acabou por acontecer. E Ricardo Costa, a quem o Benfica, nesta fase preliminar da investigação, fez chegar esta informação privilegiada, era vice-presidente do Conselho de Arbitragem do Tribunal Arbitral do Desporto.
Em suma:
1. O Benfica tinha interesse naquela documentação no quadro de uma investigação de que estava a ser alvo? Sim.
2. O Benfica podia ter acesso àquela documentação? Não.
3. Ricardo Costa, na qualidade de vice-presidente do Conselho de Arbitragem do TAD, era uma parte com a obrigação deontológica de se manter afastada desta investigação numa fase tão preliminar? Sim.
4. Ricardo Costa, por isso, podia ter acesso àquela documentação? Não.
Continua por esclarecer quem é passou esta informação a Paulo Gonçalves e qual é que foi a intervenção concreta de Ricardo Costa neste processo. O que se vier a apurar pode tornar este caso muitíssimo mais grave. Para já, sabemos que numa fase preliminar de uma investigação houve uma das partes que teve acesso ao que viria a ser a defesa da outra. Uma aberração no quadro de qualquer processo. Circulação de informação privilegiada e tráfico de influências ao mais alto nível. Isto dá descida de divisão.