O comunismo está morto? O marxismo foi erradicado desta terra? Não, ainda vive e, fazendo jus à forma metódica e progressiva como sempre operou, conspira para regressar ao poder. Este jornal — fundado por Vera Lagoa para combater as forças comunistas que queriam roubar a liberdade aos Portugueses — relembra o famoso “Livro Negro do Comunismo”, cuja publicação tanto incomodou os marxistas.
Num século de extrema violência, o comunismo foi o movimento mais violento de todos. No entanto, apesar da queda do vil regime totalitário da URSS, e da libertação das Nações europeias escravizadas pelo socialismo, os comunistas continuam a beneficiar de uma boa vontade popular incompreensível tendo em conta os seus crimes hediondos. Foi esta uma das razões para os autores de “O Livro Negro do Comunismo” terem editado a sua obra. O livro não é um mero panfleto de propaganda, como os comunistas tanto gostariam que fosse, é uma obra académica certificada por grandes figuras da intelectualidade europeia. A edição alemã tem inclusivamente um prefácio do actual Presidente desse país.
Stéphane Courtuois, o editor da obra, explica-nos como nenhuma potência relevante é inocente do que considera ser “violência em massa”; no entanto, os regimes comunistas elevaram o terror e a violência a um autêntico sistema de governação. Para o autor, é importante distinguir entre o comunismo ideal e utópico, e o comunismo real, que foi aquele que foi aplicado na vida real. No comunismo real, o terror não era apenas uma consequência da “revolução”, o terror era um objectivo em si mesmo, um mecanismo de transformação da sociedade. Afinal, por exemplo, o objectivo da infame “deskulakização” de Estaline nunca foi reformar os “kulaks” — pequenos agricultores que eram proprietários das suas terras — mas sim exterminar estas pessoas, que eram, apenas por existirem, consideradas inimigos do Estado.
Mas Courtois nota que entre os vários Estados comunistas o terror se apresentava sob várias formas, mesmo que os objectivos e a justificação — a criação de um “mundo melhor” — fossem iguais. O autor nota como a experiência maoísta, vista na China e no Camboja, chocou pela “amplitude das massas atingidas”, mas como na Rússia soviética a prática do comunismo choca pelo “seu lado experimental, porém perfeitamente reflectido, lógico, político”.
Fome como arma
De facto, na Rússia nunca existiu uma noção clara do que era um “kulak”. Os comunistas desejavam colectivizar e centralizar a produção agrícola conforme previsto na sua ideologia, mas os pequenos agricultores ainda resistiam a entregar ao Estado vermelho o produto das suas terras. Lenine e Estaline limitaram-se a determinar que qualquer pessoa que se recusasse a entregar o fruto do seu labor ao Estado era um “kulak” e, por inerência, um inimigo do Estado.
O sistema metódico dos regimes comunistas nota-se nestes detalhes, pois não podia existir qualquer “concorrência” ao fornecimento monopolista de comida: de outra forma, aquilo que o autor designa por “arma da fome” não funcionaria. O regime distribuía a comida “em função do ‘mérito’ e do ‘demérito’ de uns e de outros”, e assim garantia a lealdade dos seus súbditos, ou então garantia-lhes a morte de forma gradual. O autor nota como após 1918, com excepção de alguns países africanos, apenas os países comunistas conheceram grandes períodos de fome generalizada em tempo de paz. Como visto na Ucrânia, durante o holodomor, essa fome era deliberada, com objectivos políticos.
Os meios justificavam os fins, e na URSS 15 milhões de agricultores, homens, mulheres e crianças foram fuzilados ou enviados para campos de trabalho. O genocídio destes agricultores inspirou o massacre de todos os restantes inimigos do Estado. Na China, a colectivização das quintas, associada ao terror aplicado sobre a população, conduziu à morte de 65 milhões de pessoas.
Mas foi no Camboja que a transformação social do comunismo atingiu uma maior amplitude: a “purificação do povo” vitimou um quarto da população do país. Foi no Camboja que o comunismo real se manifestou de forma mais ideológica: quase toda a população foi organizada em equipas de trabalho e, para reduzir as diferenças sociais, todos aqueles que sobressaíam (com óbvia excepção dos líderes) foram executados. A loucura atingiu o ridículo de a mera necessidade de usar óculos ser uma razão para alguém ser executado.
É um argumento comum entre os teóricos que os métodos soviéticos de opressão derivam do passado repressivo da Rússia dos Czares, que se a revolução tivesse começado num país como a Grã-Bretanha ou a Alemanha tudo teria sido diferente na aplicação prática do marxismo. No entanto, como nos é revelado no livro, a repressão czarista era relativamente leve comparada com o totalitarismo socialista. “Os deportados podiam partir com suas famílias, ler e escrever o que quisessem”. Aliás, Lenine e Estaline, dois deportados, regressaram intactos da sua pena, durante a qual Lenine chegou a casar-se, pôde receber visitas e continuou a divulgar as suas ideias. Os Gulags certamente não permitiam o mesmo. Em apenas quatro meses, os comunistas executaram tantas pessoas na Rússia como o regime do Czar em todo um século.
E a máquina de terror pautava-se pela sua mortífera eficácia. Enquanto no Ocidente se adoptava a ciência da gestão à produção de mais bens de consumo, os comunistas inventaram a gestão do terror. “Desde 1920, com a vitória do Exército Vermelho sobre o Exército Branco, na Crimeia, surgiram métodos estatísticos, e mesmo sociológicos” para determinar quem deveria ser executado. E alguém tinha mesmo de ser levado para a morte, pois cada célula do partido tinha uma quota de execuções que era obrigada a cumprir. No comunismo, o mero facto de se existir era um crime punido com a morte.
“É exactamente em nome de uma doutrina, fundamento lógico e necessário do sistema, que foram massacradas dezenas de milhões de inocentes sem que um acto concreto lhes pudesse ser imputado – a menos que se considerasse crime ser nobre, burguês, kulak, ucraniano, ou mesmo mero trabalhador” escreve Courtois, notando que sob qualquer definição legal os regimes comunistas cometeram crimes contra a humanidade.
As Nações Unidas, nota o autor, definem genocídio como “actos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”, e as práticas de todos os regimes comunistas seguiram a linha do genocídio, fosse por execuções em massa, fosse por envio de milhões de pessoas para campos de trabalho onde poucos sobreviviam.
Os amigos do terror
E, no entanto, mesmo depois de conhecidos os factos do terror comunista, chegamos em Portugal ao ano de 2016 com 36 pessoas a serem eleitas como deputados para defenderem esta ideologia na nossa Assembleia. Seja pela via mediática, seja em aliança com líderes moderados oportunistas, seja a nível local, o marxismo está a recuperar terreno por todo o mundo. Em Portugal, onde o marxismo se mostrou particularmente destrutivo durante o abjecto PREC, os dois principais partidos comunistas estão com um pé no poder, tendo a existência do actual Governo, bem como a carreira política do actual primeiro-ministro, nas suas mãos.
Mas a população, geralmente, não tem uma noção integral do comunismo. Só com o fim da Guerra Fria a generalidade dos cidadãos do Ocidente pôde ver desmascarados e denunciados, preto no branco, os horrores que jaziam para lá do muro de Berlim. E só o segredo não justifica a cumplicidade que muitos indivíduos “bem-pensantes” tinham com os crimes do comunismo, notando Courtuois que, “de forma frequente, essa ignorância era somente o resultado da cegueira devido à crença militante” pois, segundo o autor, “desde os anos 40 e 50, muitos factos [sobre os crimes do comunismo] eram conhecidos e incontestáveis”.
Não falamos, no entanto, de história antiga, mas sim de uma realidade actual, que os cidadãos podem, e devem, observar a decorrer na nossa Assembleia. Quando se colocou a votos, em 2014, uma moção para censurar os “crimes contra a humanidade perpetrados pelo regime da Coreia do Norte”, o Partido Comunista Português votou contra, pois a moção baseava-se num relatório que se inseria, segundo os comunistas, numa “campanha de permanente tensão e conflito com vista à desestabilização da Península Coreana e à justificação da presença militar norte-americana nesta região”. Ora, como os autores da obra em análise notam, o desprezo pelos relatos de desertores do comunismo não é nada de novo, é uma prática corrente desde os anos 20 do século passado. Na altura, tal como hoje, os relatos dos fugitivos e dissidentes primam pela autenticidade.
Quando foi o momento de responder à publicação de “O Livro Negro do Comunismo”, o PCP, por via do seu jornal oficial, o ‘Avante’, admitiu por momentos que “em nome do comunismo foram cometidos crimes”, mas o foco da questão foi imediatamente mudado para o capitalismo, apesar de a obra não defender o capitalismo: “é que, enquanto no comunismo os crimes resultaram de perversões e de afrontamentos dos valores e dos ideais que impulsionaram a luta generosa e abnegada de milhões de militantes comunistas, no capitalismo […] a opressão, a exploração, o crime constituem essência do próprio sistema”, escreveu José Casanova, à altura membro da Comissão Política daquele partido. Mas, no entanto, como Courtuois nos mostra, era no comunismo que estavam presentes a opressão e a exploração como essência do próprio sistema. O autor nota que os comunistas, “quando não conseguiam manter a verdade escondida – a prática dos fuzilamentos, os campos de concentração, a fome imposta -, tramavam a justificação dos fatos maquilhando-os de forma grosseira”.
Diga-se, no entanto, que a resposta furiosa do PCP a uma obra académica de denúncia séria e rigorosa reflecte o espírito com que os partidos comunistas sempre reagiram à revelação da verdade. No próprio Ocidente, os defensores do comunismo usaram as liberdades que queriam retirar aos outros para destruir quem quer que viesse a público falar sobre a realidade do comunismo, especialmente aqueles que tiveram a sorte de ter fugido à tirania comunista. “Procuraram desqualificá-los, desacreditá-los, intimidá-los”, assinala Courtuois; e assim, “diante de tal poder de intimidação e de ocultação, as próprias vítimas hesitaram em manifestar-se”. Até mesmo Soljenitsyne, cuja obra foi recentemente recordada pelo nosso jornal, teve a sua credibilidade posta em causa, tendo mesmo sido colocado no mesmo saco dos colaboracionistas do nazismo pela imprensa de esquerda francesa.
Nunca esquecer, nunca perdoar
O tempo poderá ser a grande onda que limpará os crimes do comunismo da memória popular. O comunismo ainda hoje é “chique”, não existe diletante de esquerda que não se aproprie dos seus símbolos sem sequer saber o que representam. No ano de 1997, há quase 20 anos, os “grupos descaradamente revolucionários permaneciam activos e manifestavam-se na legalidade, tratando com desprezo a menor reflexão crítica sobre os crimes dos seus predecessores e não hesitando em reiterar os velhos discursos justificativos de Lenine, de Trotsky ou de Mao”.
A sociedade, no entanto, parece ainda tratá-los como um perigo passado. Ignora-se que um dos maiores partidos políticos em Portugal defende no nosso Parlamento uma ditadura totalitária. Ignora-se a propaganda carregada e o conteúdo propagandístico. O website “esquerda.net”, do Bloco de Esquerda, influencia a opinião da nossa juventude, que cada vez se junta mais a este grupo comunista por “estar na moda”. Entretanto, a sociedade portuguesa riu-se do famoso cartaz “morte aos traidores” do MRPP, não compreendendo que ainda existe um grupo de pessoas para quem esta frase, caso a oportunidade se manifestasse, seria política activa e ‘slogan’ a que tratariam de obedecer literalmente. Muitos dos que se riram provavelmente estariam entre os “inimigos do Estado” a abater de forma a garantir o sucesso da revolução.
Muitos outros, entretanto, tentam distanciar a ideia do comunismo da sua aplicação, mas talvez a ideia seja a razão pela qual a sua aplicação corre como sempre correu. Senão, como explicar que na aplicação do comunismo a brutalidade tenha sido sempre uma constante, apesar da mudança de localizações geográficas, de culturas e até mesmo de variantes do comunismo?
Com a crise económica a doer, com as instituições políticas descredibilizadas, o marxismo poderá estar a preparar o momento em que vai tirar a viola do saco, oportunamente “limpo” pelo silêncio da história e pela timidez dos seus oponentes.
Nos anos 70 este jornal foi fundado para impedir o triunfo do comunismo sobre a nossa pátria; hoje, a luta é a mesma. Como Courtuois afirma, é em nome dos valores democráticos que se deve analisar e condenar os crimes do comunismo. Afinal, quem esquece a História está condenado a repeti-la. [ integralmente copiado daqui ]
Em conclusão, digo eu:
Em conclusão, digo eu:
0 comentários:
Enviar um comentário