Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

Adrian Bridge: “O Douro já não é um rio”

Adrian Bridge, diretor-geral da The Fladgate Partnership, afirma que atacar o problema das alterações climáticas tem custos no curto prazo, mas traz benefícios no curto, médio e longo prazo 


Depois de Barack Obama, Adrian Bridge, diretor-geral da The Fladgate Partnership, traz ao Porto Al Gore, antigo vice-presidente dos EUA, prémio Nobel da Paz, ativista na área da ecologia, e volta a colocar o Porto no epicentro do debate sobre as alterações climáticas e os desafios que a indústria do vinho enfrenta. Tem um orçamento de €750 mil para a 2ª edição da Climate Change Leadership, a decorrer de 5 a 7 de março, e acredita que “todos temos de trabalhar juntos para vencer este desafio”

Já conseguiu medir a pegada de carbono do seu grupo?
Anda nos 2,9 kg CO2 por litro de vinho. Do nosso ponto de vista não está mal, mas não temos muitos termos de comparação. Ficamos foi com dados concretos para trabalhar porque passamos a saber o que pesa mais. Descobrimos que são coisas como a aguardente e as garrafas de vidro, mas que as videiras são muito menos neutras do que imaginávamos em termos de emissões.

E o que têm feito para reduzir as emissões? Pode dar exemplos?
A aguardente é produzida por terceiros, mas trabalhamos com eles para repensar os produtos que são usados e sugerir a biomassa como energia. Optamos por garrafas mais leves, sobretudo em vinho de entrada de gama e de maior volume, mas há trabalho a fazer junto dos consumidores para aceitarem garrafas mais leves e simples, o que significa por exemplo retirar as gravações no vidro, sem perda de imagem e vendas. A eletricidade é uma boa área para reduzir emissões e nós já temos muitos painéis solares. Só num balneário que estamos a construir com painéis solares vamos poupar 6,2 toneladas de CO2/ano. Investimos €80 mil e a partir do oitavo ano teremos água quente sem custos.

Provar que a sustentabilidade pode ser rentável é importante...
E temos provas. Em 2017 instalamos nas linhas de engarrafamento um sistema que permite reciclar a água quente usada na limpeza das garrafas. Reciclamos água e energia. Investimos €90 mil e temos uma poupança anual de mais de €7 mil nas faturas. Isto significa ter retorno em 13 anos, para um período de vida do equipamento de 20 anos. Temos benefícios imediatos para o ambiente e temos vantagens em termos de racionalidade económica. Atacar o problema tem custos no curto prazo, mas traz benefícios no curto, médio e longo prazo.

Partilhar estas experiências é um dos objetivos da cimeira do clima?
É uma prioridade. Não há tempo para segredos. Temos de partilhar ideias, conhecer exemplos positivos . É essa a base do Porto Protocol, um compromisso escrito, formal e assinado por empresas de diferente sectores com algumas metas definidas no âmbito das alterações climáticas que lançamos no ano passado. Já somos mais de uma centena e no final desta cimeira seremos muitos mais. Para mim, isto é uma bola de neve que começamos a puxar, mas acabará por ganhar dinâmica própria.

E o que traz de novo esta  edição?
O ano passado tivemos apenas uma cimeira que serviu para lançar o Porto Protocol, muito centrada no 44º presidente dos EUA, Barack Obama. Este ano, temos dia e meio focado na partilha de soluções para a indústria de vinhos, envolvendo várias áreas e abrangendo tudo o que pesa nas emissões. Seremos 500 a 700 pessoas do mundo dos vinhos de todos os continentes. Teremos exemplos do que já se faz no domínio da sustentabilidade no sector. Teremos um convidado da África do Sul, para falar em concreto da experiência deste país, que viveu três anos de seca dura. Depois, há um dia final, mais aberto, em que vem Al Gore. A ideia continua a ser mostrar como todos podemos fazer a diferença, mesmo com pequenos gestos. E todos temos de trabalhar juntos para vencer este desafio do aquecimento global. A solução está nas nossas mãos. Temos é, também, de pressionar as empresas, as comunidades, as autarquias, os governos, os políticos.

Porque acredita que o vinho pode liderar este movimento?
Consumimos diariamente produtos agrícolas a todas as refeições, mas não sabemos de onde vêm os alimentos. No vinho temos a mesma planta no mesmo local desde sempre. Sabemos exactamente de onde é uma garrafa, de onde vêm as uvas. Um enólogo pode dar o GPS das plantas. Temos o conceito de terroir (combinação exclusiva de solos, exposição, declive, orientação, castas e clima de cada vinha que determina a qualidade e o carácter do vinho produzido numa parcela). Em nenhum outro sector há esta ligação tão forte à terra, à zona de proveniência, tantas empresas familiares, com visão de longo prazo, em contacto direto com o consumidor através do enoturismo.

E é o suporte económico de algumas regiões...
Há regiões onde esta é a principal actividade económica. O Vale do Douro é exemplo disto. Sem vinhas, o douro vinhateiro não era património mundial. Se tirarmos as videiras ao Douro não temos turismo nem temos actividade económica em toda a região.

O que aconteceu no Douro no ano passado mostra a urgência de actuar?
Foi um enorme alerta. Só no nosso grupo, temos o pico de calor de 44,2 graus registados a 3 de agosto em Vargelas, 1,2 graus acima do último recorde. E a 28 de Maio, no Pinhão, tivemos concentrada numa hora 12% da precipitação total anual. Numa das quintas, caiu granizo e nessa hora perdemos toda a produção. Foram 200 pipas, €400 mil.

Mas olhando para o Douro temos um rio, água. Faz sentido falar em seca?
O Douro já não é um rio. E esse é um grave problema. As pessoas vêm a água, pensam ter um rio de onde podem extrair água, mas a realidade é outra. O rio começou a desaparecer nos 70. Hoje temos apenas lagos e um pequeno caudal. Por causa das barragens, o rio está preso, dando a impressão de um caudal que efetivamente não tem. Todo o resultado quer da erosão quer dos químicos usados vão lá parar e ficam lá. Mais: em 2017, a nascente do Douro, em Espanha, secou completamente. É a região mais problemática? Não, mas é a que eu conheço melhor e quero ter a certeza de que posso continuar a produzir uvas no Vale do Douro dentro de 50 anos.

Do que disse Obama, no ano passado, qual a mensagem que destaca?
Antes de mais, a ideia chave de que precisamos de trabalhar todos juntos para atacar o problema das alterações climáticas. Depois, o alerta de que há uma relação directa entre a questão do clima e as migrações. As pessoas que não têm comida, condições de vida sustentável onde moram, têm de mudar. Mais uma vez, se não atacarmos a causa, teremos um problema de migrações cada vez mais grave e não é possível construir um muro suficientemente alto para bloquear todos os migrantes desesperados. Outro ponto fulcral, é a certeza de que apesar das posições da administração Trump, o país sabe que é preciso actuar e há muito trabalho nesta área em Nova Iorque, na Califórnia, noutros estados.

Esteve em Davos. O clima foi tema de conversa?
É uma questão fulcral por isso esteve na ordem do dia. Eu apresentei a conferência e o Porto Protocol a um grupo de 42 pessoas e tive reações muito positivas. Falei com um milionário e visionário norte-americano que está a trabalhar com uma nova tecnologia para “vindimar o carbono”, captando-o da atmosfera e injectando-o nas rochas de basalto. E falei com a Jackson Family Wines, da Califórnia que vai ter um representante na nossa cimeira e vai aderir ao Porto Protocol. Fazem mais vinho do que Portugal. Têm, também uma iniciativa nesta área, a Grounded Summit. Penso que podemos trabalhar juntos.

E depois de Obama e Al Gore, o Príncipe Carlos será o seu próximo convidado, em 2021?
Porque não? É uma pessoa com peso internacional e posições conhecidas neste campo. Este ano, também convidamos António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas. Achamos que fazia todo o sentido por causa da questão das migrações, mas havia uma incompatibilidade de agenda.

PERFIL DO GRUPO

Fundação
A Taylor´s, a casa mãe deste grupo criado à volta do Vinho do Porto e do Douro, tem a sua origem em 1692.
Actividade
O foco está no negócio do Vinho do Porto (casas Taylor´s, Croft, Fonseca e Krohn. São 700 hectares de vinha, e 1,4 milhões de pés), no turismo (hotéis The Yeatman, Infante Sagres e Vintage House) e distribuição (On-Wine e Heritage Wines).
Trabalhadores
São 840, 486 dos quais no turismo. O projeto World of Wine, que está a nascer em Gaia, num investimento de €100 milhões, criará mais 350 postos de trabalho a partir de 2020.
Volume de negócios
117 milhões de euros, divididos entre o vinho do Porto (€62,1 milhões), turismo (€31,5 milhões) e distribuição (€23,4 milhões).
Novo projecto
Aproveitar casas do grupo, em Gaia, para criar habitações e atrair mão-de-obra e estagiários num cenário de subida de preços do imobiliário. Este ano, objectivo é albergar 50 pessoas.

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