Todos temos amigos, e amigos de amigos, e gente próxima na família, que se aguentam em relações que já deram o que tinham a dar sem ninguém perceber muito bem porquê. Curiosamente, o medo de ficar sozinho não é a principal razão.
Telefonavam-se a toda a hora, melosos. Nenhuma manifestação parecia excessiva para tanto amor. Até que se perde a vontade incondicional de estar com a pessoa amada e tudo em nós grita que uma relação insatisfatória como aquela só pode ter os dias contados. A menos que se trate da nossa própria história, obviamente, aí o caso muda de figura.
Isto não por termos medo de ficar sozinhos se a relação terminar, mas sobretudo porque não querermos que o outro saia dela de coração partido por nossa causa, revela um novo estudo conduzido na Universidade de Utah, EUA, publicado no Journal of Personality and Social Psychology.
“Quanto mais as pessoas acreditarem que o parceiro está dependente daquela relação, menos provável será que tomem a iniciativa de se separar dele”, explica a professora de psicologia Samantha Joel, principal autora da pesquisa que lança agora, pela primeira vez, uma perspetiva altruísta à decisão de não romper com o outro.
Estudos anteriores sugeriam que há quem escolha manter-se num relacionamento infeliz por receio de poder ficar sozinho, ou de não encontrar ninguém melhor, ou outros fatores igualmente egoístas como a quantidade de tempo, recursos e sentimentos investidos no outro. Faltava esta componente de generosidade que os cientistas provaram ser bastante mais significativa do que se pensava.
“De um modo geral não queremos magoar o parceiro, preocupamo-nos com o que deseja”, sublinha Joel, após analisar a fundo perto de dois mil participantes, 500 dos quais contemplavam uma separação. “Este cuidado existe quer nas pessoas que não estavam assim tão comprometidas na relação, como nas que se sentiam, elas próprias, insatisfeitas a dois”, acrescenta a autora.
E não, ninguém rompe com o companheiro de ânimo leve, confirma a psicanalista Mariela Michelena. Quem deixa começa a sofrer muito antes de pronunciar a célebre frase “temos de falar”, porque não quer despedaçar o outro. “Há sempre pena do que fica para trás. Medo de não estar a fazer a coisa certa ou a escolher o melhor para ambos”, diz-nos.
Claro que é também por as mudanças serem tão duras, à partida, que muita gente escolhe viver anos na segurança do que é conhecido. “Preferem fazê-lo, mesmo sendo infelizes, a saírem da zona de conforto em busca do que é melhor para si”, sustenta a especialista em relações. Porém, o amor é como o feng-shui: só teremos espaço para um novo largando o que já não serve.
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