Há quem sonhe com o sorteio da Liga dos Campeões só para desejar que o pior dos adversários calhe na sorte ao rival. Sonhar acordado com tubarões para os outros, torcendo por derrotas copiosas. São esses que não fazem o luto do insucesso de que Bruno Lage falava. "As derrotas carregam muito" os portugueses, dizia e bem o treinador do Benfica. Mas temos visto que carregam mais a uns do que a outros no botão da inveja. Muitos olham para os êxitos internacionais do F. C. Porto com a desarrumação de quem olha para as conquistas europeias vistas numa televisão a preto e branco, atirados que são para a tristeza e espírito de negação. A contas com o passado e o presente. Os adeptos do F. C. Porto fazem parte daquele lote de adeptos que viram as conquistas internacionais do seu clube no campo ou numa televisão a cores. E essa inveja latina é a taça que premeia as suas grandes derrotas: o sucesso e a coragem dos outros.
Após a eliminação da Roma, assistimos a um ciclístico "Giro d"Italia no futebol". Em roda livre. Uma horda de comentadores ditos independentes desata a tomar as dores da Imprensa transalpina como se o sofrimento se pegasse por osmose à conta de um penalty inexistente do inefável Marega, já no ocaso do prolongamento, que a UEFA prontamente desmontou no dia seguinte. #flatearth: para eles, a terra pode ser plana quando dá jeito. Hoje de manhã, desejarão que o sorteio da Liga dos Campeões se faça com bolas amestradas como se lá fossem colocadas por toupeiras e retiradas, servilmente, pela voz do dono. Como uma cabala a tocar a rebate de uma mala invisível. Numa linguagem que bem conhecem, adoptaram e está hoje nas notícias de boaventura, já disseram "Ciao!". Nos 1/4 de final da Champions está quem pode e não quem quer. Não há equipas acessíveis para quem não desistiu de fazer história na prova maior do futebol europeu.
Há uma alegoria de um clube de milhões mas milhões da Liga dos Campeões nem vê-los. Esta época, o percurso de não resignação ao determinismo pelo F. C. Porto de Conceição (e pelo Ajax de Erik ten Hag, diga-se), contraria o futebol que faz do fair-play financeiro uma espécie de RSI para enganar adeptos, medida plástica e contornável como se tem visto, prenda de enganos aos "selvagens" que a máfia do futebol procura domar prendendo "whistleblowers". Fazendo as notícias e desviando o foco para o conveniente. Há uma carteira de jornalismo para lá do que vende mas pululam peixeiras que embrulham notícias em jornais ou em comentário dito independente. A independência pratica-se e é um bem a precisar de comprovação prática todos os dias. Não subsiste da sua negação absoluta e permanente. Ronaldo abre (e bem) os jornais nacionais pelo hat-trick na Juventus enquanto o afastamento da Roma às mãos do campeão nacional é atirado para o fim das notícias. A portugalidade é muito singular naquele país que só assiste aos sorteios.
(O autor escreve segundo a antiga ortografia.)
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