É difícil acreditar que a divulgação do “caso das offshores” nas vésperas do debate parlamentar sobre a Caixa Geral de Depósitos tenha sido uma mera coincidência. O aparecimento do número espantoso de dez mil milhões numa altura em que Costa e Centeno estavam a ser encostados à parede por causa dos sms cheira a retaliação, por um lado, e a cortina de fumo, por outro.
O que nos leva a questionar: e se não houvesse a bronca da Caixa e os sms de Centeno? Este assunto “gravíssimo” das offshores ia continuar na gaveta, para poder ser usado como arma de arremesso numa altura mais conveniente? É que o pecado de Paulo Núncio remonta a 2011-2014 e até já tinha sido noticiado pelo “Público” há um ano, pelo que não se percebe muito bem com que intenção se lembrou alguém de voltar a desenterrá-lo neste preciso momento.
Numa passagem do seu livro de memórias que tem dado que falar, Cavaco Silva chamou a atenção para a máquina de propaganda socialista. A frase completa é a seguinte: “Algumas pessoas amigas contactaram-me para alertar para a ‘tenebrosa’ máquina de propaganda do PS, que teria montado uma operação para minar a minha credibilidade institucional e pessoal.” Pelos vistos, a máquina continua bem oleada.
Neste caso das offshores bastou lançar a suspeição e depois uns por má-fé, outros por ingenuidade, outros ainda por simples seguidismo, foram-se indignando e barafustando até o anterior governo parecer mesmo culpado. Mas culpado de quê? A verdade é que ainda ninguém percebeu bem os aspectos principais deste caso: não se sabe quem beneficiou, não se sabe se houve alguma irregularidade (até agora, diz um académico ao i, “não foi encontrada nenhuma”), não se sabe sequer se o dinheiro foi ou não taxado.
Mas apurar a verdade neste caso é secundário. O que interessa para já é desviar as atenções da Caixa, fazer baixas no inimigo, minar a sua credibilidade. E isso já foi conseguido.
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