Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

Em defesa do Tua, contra a barragem imposta por lisboa


Regresso ao mundo real: o irrealismo de uma barragem


" (...)Programa Nacional de Barragens, aprovado em 2007 pelo anterior Governo, foi uma daquelas megalomanias que ajudaram a mascarar o défice e atiraram para o futuro muitos custos e rendas. Devia estar de novo em discussão, mas poucos se ocupam disso e também não o farei agora. Só me interessa um dos seus filhotes: a barragem de Foz Tua.
Aquela cuja construção, soubemos esta semana, a UNESCO quer mandar parar em nome da preservação do Alto Douro Vinhateiro como Património Mundial. Valha-nos a UNESCO - e espere-nos que nos valha alguém de bom senso que, no Governo, lhe dê ouvidos.

A construção daquela barragem violenta a paisagem classificada (e a paisagem não classificada). Ou, como diz mais polidamente a UNESCO, tem um "impacto irreversível e ameaça os valores" que estiveram na base da sua classificação como património da humanidade. E o pior é que só num país de parolos e provincianos se pode pensar que os males feitos à paisagem poderiam algum dia ser mitigados entregando uma parte da obra ao lápis de um arquitecto premiado (Eduardo Souto Moura), a quem a EDP pagará o que for necessário para dar verniz ao empreendimento. Nunca será mais do que verniz, só que com chancela de um bonzo da cultura indígena.

O crime da barragem de Foz Tua é tanto maior quanto pensamos na sua escassa utilidade. Representa um investimento de pelo menos 300 milhões de euros, mas que apenas contribuirá com 0,1 por cento da energia primária nacional. De lá só sairá 0,6 por cento da electricidade necessária ao consumo do país e com a sua construção só se poupar á 0,1 por cento das importações de petróleo. É nada, o que significa que se Foz Tua terá uma contribuição insignificante para a resolução dos nossos problemas energéticos, terá custos elevadíssimos em termos patrimoniais, culturais e ambientais. O balanço é tão negativo que só não vê quem insiste na cegueira.

Como se escrevia num recente Manifesto pelo Vale do Tua que subscrevi, esta barragem é também inútil, pois as metas de capacidade instalada estabelecidas no Programa Nacional de Barragens já foram atingidas, não sendo necessárias barragens novas, para além de ser cara e ir pesar na factura a pagar pelos consumidores de electricidade. Mais: é um "atentado social", pois tornará ainda mais pobre uma região já sacrificada, inviabilizando as perspectivas de desenvolvimento turístico do Vale do Tua, que muito poderia beneficiar, e potenciar, o turismo no vale do Douro, que tem evoluído positivamente. Tanto mais que "criar um emprego permanente no turismo é 11 (onze) vezes mais barato que um emprego na barragem", como se escreve nesse documento.

Pessoalmente até gosto de barragens e conheço por dentro algumas que são maravilhosas obras de engenharia, como a do Alto Lindoso, no rio Lima, ou da Aguieira, no Mondego. Mais: sei que aproveitar o potencial hidroeléctrico é fundamental para equilibrarmos o nosso sistema energético. Mas não me deixo deslumbrar. Os melhores locais para instalar barragens há muito que estão ocupados, muito já foi feito e muito ainda se poderá fazer para melhorar a rentabilidade das barragens existentes e há numerosas medidas de política energética que têm mais rentabilidade e implicam menos investimento do que barrar mais rios com muros de cimento. Por isso, da mesma forma que se suspendeu a construção de novas auto-estradas onde raramente passavam automóveis, interrogo-me por que não se suspende igualmente a construção de barragens de tão baixa voltagem e tão grandes impactos como a da Foz Tua.

É talvez altura de Francisco José Viegas, que é um homem do Douro, provar que não tem falta de peso político por não ser ministro. Ou de Álvaro Santos Pereira se recordar de algumas das coisas que escreveu no livro que publicou algumas semanas antes de ir para ministro, onde defendia um modelo de desenvolvimento para Portugal que não passava
por mais cimento, antes pelo tipo de desenvolvimento local que uma obra como a da Foz Tua compromete de forma irreversível. O que se pede ao Governo não é que "preste esclarecimentos" à UNESCO, é que se antecipe à decisão do UNESCO e decida ele mesmo a paragem das obras. 

Para crimes ambientais e culturais já nos basta a vizinha barragem do Sabor" .

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