Convenhamos que há limites. Até agora só tenho escrito sobre o Sporting, Jorge Jesus e as suas surpreendentes escolhas dos onze que jogam e das substituições que faz. Mas há um momento em que tem de se chamar os bois pelos nomes. Em duas jornadas, o Benfica ganha dois jogos por causa dos penáltis: os não marcados contra si no jogo do Sporting, o marcado ontem a seu favor no jogo com o Estoril. É de mais.
No jogo com o Sporting, já foi tudo dito e redito. A jogada que muda todo o jogo é aquela em que Pizzi toca a bola com as duas mãos, lança Gonçalo Guedes, este passa a Rafa, que centra para Salvio marcar. 1-0. Ora convenhamos que uma bola na mão pode ser mesmo bola na mão. Mas duas bolas na mão já é uma bola na mão a mais. Recordemos a piada que se contava no tempo da ditadura brasileira em 1964. Quem denunciasse um comunista, recebia das autoridades um Volkswagen. Quem denunciasse dois comunistas recebia dois Volkswagen. E quem denunciasse três comunistas era preso porque já conhecia comunistas demais. Voltando a Pizzi, como não tem três mãos, em duas bolas na mão uma há de ser mão na bola. Ou como dizia o grande Paulo Bento, “andebol basquetebol, mão; futebol, pé”.
Depois tivemos aquele gingar do corpo do Nélson Semedo, aprendido certamente a dançar kuduro, em que atira o corpinho para a frente e, juntamente com o corpinho, vai o bracinho, e com o bracinho vá de cortar a bolinha dentro da área, o que segundo me parece, de acordo com as leis do jogo, dá direito a penalti. Mas Jorge de Sousa, que até estava com o campo de visão completamente limpo, entendeu pela segunda vez no mesmo jogo que não era caso para assinalar a marca dos onze metros. E deve ter feito muito bem, a avalias pela nota que recebeu pela sua atuação: 8,6, que numa classificação de 0 a 10 é quase um 17 numa classificação de 0 a 20. Carrega, Sousa!
No jogo do Estoril tivemos o grande, o enorme, o fantástico Bruno Paixão a apitar. Ora Bruno Paixão, que é homem que nunca devia ter sido árbitro, mas que tendo assim alguém lhe devia ter tirado há muito a licença, continua a esforçar-se afanosamente em provar que não foi mesmo talhado para a função, fazendo lembrar aquela cantora de ópera que não acertava uma nota, era pateada, mas havia um tipo que insistia em pedir bis, na esperança de que repetindo muitas vezes a Traviata algum dia haveria de a cantar bem. Assim estamos com Paixão.
O homem apita, apita, e apita, e parece-se sempre mais com um comboio que com um árbitro, porque é raro o jogo em que não erra à fartazana e com grande largueza de espírito.
Desta vez resolve marcar um penálti (a favor do Benfica, claro) numa jogada em que tem vários jogadores entre si e o local onde ocorreu o lance (a fazer lembrar o saudoso Lucílio Baptista, que numa final da Taça da Liga assinalou um penálti contra o Sporting, estando a 50 metros do lance, “por intuição”) e que, por mais repetições que a televisão passe, não há nenhuma que mostre o jogador do Estoril a jogar a bola deliberadamente com a mão ou sequer a tocar-lhe. Mas Bruno viu, Bruno apitou, Bruno marcou penálti e o Jiménez lá colocou a bola no fundo das redes e deu mais uma vitória tremidinha e sem brilho, mas com muito colinho.
E assim de colinho em colinho (e é bom lembrar que no jogo do FC Porto contra o Marítimo há um penálti escandaloso sobre o Maxi que o árbitro Bruno Esteves, também com excelente visão, não marca. Mas é jovem, precisa de aprender com os erros e há que insistir com ele para apitar jogos dos grandes. Contra o Benfica é que ninguém vê penáltis. Qual será o problema ocular que afecta os árbitros nos jogos do clube da Luz? Deve ser o vermelho…
E pronto, de colinho em colinho, de árbitro em árbitro, de Jorge de Sousa a Bruno Paixão, lá vai o SLB fazendo o seu caminho periclitante, enquanto os lesionados não recuperam. Nessa altura, já não será tão necessário o colinho. Grande futebol português que tais títulos tece!
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