Israel teve de combater pela sua existência depois de ataques da generalidade dos seus vizinhos em 1948, na Guerra da Independência, em 1967, na dos Seis Dias após o encerramento dos estreitos e a evacuação da força internacional do Sinai pelo Egipto, e em 1973 após o cobarde ataque no Yom Kippur. Contra todas as probabilidades e desvantagens numéricas, o estado judeu levantou-se sempre e derrotou sempre os agressores.
Entretanto, Egipto, Jordânia, Síria e outros expulsaram as suas populações judias. Isso inclui, note-se, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia (com Jerusalém Oriental) ocupadas em 48 pelo Egipto e pela Jordânia, respectivamente. São hoje desaparecidas as comunidades judaicas nesses países- outrora existentes em todo o Médio Oriente e Norte de África, onde aliás o Capitão Barros Basto se (re)convertera - enquanto que em Israel árabes e muçulmanos prosperam, servem no exército israelita e ocupam os mais altos cargos na administração (recorde-se Salim Joubran, árabe mas supremo juíz e presidente da Comissão Nacional de Eleições israelitas ou o major Waheeb, muçulmano e comandante do exército israelita). Em Israel há hoje, em absoluto e proporcionalmente, mais árabes a viver que em 1948 – e continuam a crescer a uma taxa superior à dos judeus.
Nada disto surpreende quando se comparam ditaduras com uma democracia. Mas convém recordar porque muita gente quer esquecer: na maioria dos países do Médio Oriente judeus são gente proscrita pela sua raça ou religião ou que outra forma doente se quiser encontrar para declarar determinada pessoa sub-humana.
Em 2005 Israel evacuou a Faixa de Gaza. Numa limpeza étnica auto-operada (não sei se meço bem as palavras), tropas israelitas até os mortos desenterraram para estender a mão aos árabes que não querem viver no estado de Israel. Todos os colonatos foram esvaziados, à força por vezes, os cemitérios exumados e os territórios entregue à Autoridade Palestiniana. Ocorre assim, pela primeira vez na história, calhar aos palestinianos mandar na terra que desde 1948 a ONU lhes prometera – numa Resolução que aliás rejeitaram – mas na qual nunca antes havia mandado. Nem Otomanos, nem Britânicos nem Egípcios (Gaza) ou Jordanos (Cisjordânia e Jerusalém Oriental) alguma vez haviam dado soberania à Autoridade Palestiniana ou a outra organização representativa das populações daqueles territórios onde a ONU em 1948 desenhou um segundo estado ao lado do de Israel – o único dos dois que aceitou a partição e o único dos dois que se conseguiu manter também fora dos mapas desenhados em Nova Iorque apesar de todas as tentativas externas de que fosse ao contrário. Anos depois de ter bravamente dirigido tanques israelitas na defesa do seu território, o improvável Ariel Sharon foi assim o obreiro para o estabelecimento duma área de soberania palestiniana no Médio Oriente. Nem o Egipto ou a Jordânia que haviam ocupado desde 1948 até 1967 as duas zonas em disputa alguma vez sequer o haviam ensaiado.
Infelizmente a experiência com Gaza não oferece grande esperança. De forma mais ou menos legal, não sei precisar, o Hamas, organização terrorista, tomou conta do território infringindo as maiores provações à sua população ao mesmo tempo que ataca o território israelita semeando morte e sobretudo terror nas populações limítrofes. O próprio Egipto, tradicional aliado, encerra regularmente a sua fronteira com o território devido à circulação de armas e material bélico muitas vezes escondido entre carregamentos humanitários. Do outro lado, na fronteira com Israel, milhares de palestinianos atravessam – nem sempre nas melhores condições devido ao medo de terroristas infiltrados - diariamente a fronteira para trabalhar em Israel que além disso continua a fornecer água e electricidade a um território sem infraestrutura própria.
Evidentemente que estando em guerra practicamente permanente desde 1948 – tendo tido importantes momentos de paz graças à cooperação com figuras históricas como o Presidente Sadat, o Rei Hussein ou Yasser Arafat – Israel está longe de ter uma ficha limpa. Crimes practicados por soldados israelitas, intervenções mais ou menos cirúrgicas em território estrangeiro e uma política de colonatos longe de ser compreensível exigem que também o estado de Israel seja chamado à responsabilidade. Com a nota de que muita gente preocupada – e bem – com isto, não aparenta ter grande interesse com a democracia, a situação dos homossexuais ou das mulheres ou os direitos das minorias étnicas e religiosas em Gaza. Ou ainda com o facto de crianças inocentes serem educadas para o ódio, o anti-semitismo e o terrorismo nas escolas de Gaza financiadas pela comunidade internacional. E é por isso que um texto sobre o conflito tem de passar mais tempo a centrar o contexto do que a falar sobre o presente: porque tanta e tanta gente quer ignorar que há um contexto. E que ele é violento desde até antes da ONU ter dito: “aqui vão nascer dois estados”.
Que neste fim de ano Israel seja brindado com um Resolução dessa ONU que ignora toda a história e transforma um conflito altamente complexo num jogo em que só há maus dum lado e só anjos do outro é apenas o culminar da desastrosa política externa de Obama que nos deixou não só as tensões em Israel atiçadas como também os regimes saídos da “Primavera Árabe”, a Rússia na Crimeia e o ISIS - que estaria em roda livre não fosse a mesma Rússia - entre um enorme rol de falhanços.
Ignorar em 2016 que a política jordana após 1948 limpou etnicamente os territórios da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental - e que portanto é ridículo acusar Israel de estar a “redesenhar a composição demográfica” neste território - demonstra a cretinice do texto aprovado. É que é natural que não houvesse judeus na região até 1967: foram expulsos pelos ocupantes que nomeadamente garantiram que tivesse deixado de haver sinagogas no Bairro Judeu da Cidade Velha de Jerusalém.
Repito: não havia Sinagogas. No Bairro Judeu. De Jerusalém. Porque lhes pegaram fogo.
O comandante jordano que conquistou o bairro em 1948 parece-se arrepiantemente com qualquer comandante nazi no fim de um Progrom:
"For the first time in 1,000 years not a single Jew remains in the Jewish Quarter. Not a single building remains intact. This makes the Jews' return here impossible."
Em Israel, um texto da ONU que se queixe dos colonatos e ignore o que o comandante jordano chamou de “mil anos” de residência não vale nada. É uma anedota. As loas na nossa imprensa à Resolução e à acção da Administração Obama mostram que cá não se percebe nada do que se passa lá.
Se a Paz fosse fácil, já teria acontecido. Já aconteceu com Egípcios e com Jordanos, dois países com os quais em 1948, em 1967 e 1973 Israel se bateu em guerras que a todos custaram sangue e lágrimas – e territórios aos agressores. Acontecerá um dia com a Palestina, mas não assim. Não enquanto houver dois pesos e duas medidas. O diálogo com Saddat e com Hussein, no entanto, mostra que bilateralmente, sem tutelas patetas como a da ONU, a Paz é possível.
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