O que militares russos defendem, e já está a ser feito na Síria, é a repetição de operações como as que não deixaram pedra sobre pedra em Grozny, na Chechénia, sem se importarem com “danos colaterais”
Para Vladimir Putin, a participação na guerra civil síria poderia contribuir para a sua afirmação a nível internacional, o que parecia estar a acontecer, mas o reaparecimento dos terroristas do Estado Islâmico em Palmira traz à memória a intervenção militar soviética no Afeganistão, iniciada em Dezembro de 1979.
Notícias optimistas sobre os êxitos militares de Bashar Assad e da Força Aérea Russa são quase diariamente reportadas ao mundo não a partir da Síria, mas da sede do Estado Maior das Forças Armadas da Rússia a partir de Moscovo. Daí, bem como do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, vêm também os desmentidos de todas as acusações das Nações Unidas ou de organizações humanitárias internacionais sobre as numerosas vítimas e destruições provocadas pelos bombardeamentos russos.
A actuação de uma orquestra sinfónica russa em Palmira, dirigida pelo conhecido maestro Vlari Guerguiev, era uma demonstração de que esta antiga cidade síria estava completamente controlada pelas tropas governamentais sírias, mas o reaparecimento de tropas do DAESH e a reconquista de parte desse território desmente essa afirmação.
Iúri Valuievski, chefe do Estado Maior das Forças Armadas da Rússia entre 2004 e 2008, considera que se tratou de um erro dos militares russos que atingiu o prestígio deles: “mais um golpe contra o prestígio, nomeadamente contra o nosso prestígio”, declarou ele à agência russa Interfax.
“Independentemente do estado do exército sírio, foi incorrecto não acompanhar a concentração de forças do inimigo na região de Palmira. Isso não deve acontecer. E também não compreendo os meus colegas que lá se encontram. Talvez os sírios não tenham possibilidades como nós. Mas para onde estivemos a olhar se Palmira foi realmente tomada?”, frisou.
Segundo este general russo, a causa disso reside nas pausas humanitárias: “era claro que os terroristas não iriam parar. É-me difícil compreender, enquanto militar, o que fazemos, nomeadamente essas pausas humanitárias”.
Ou seja, o que este militar russo defende, e que na realidade está a ser feito na Síria, é a repetição de operações semelhantes àquelas que não deixaram pedra sobre pedra em Grozny, capital da Chechénia, nas cidades sírias, sem se importarem com aquilo que normalmente chamam “danos colaterais”.
Face a esta situação, os Estados Unidos e os seus aliados mostram-se incapazes de pôr fim a este banho de sangue, sendo de salientar que têm também sérias responsabilidades neste conflito, armando nomeadamente grupos armados de oposição a Bashar Assad que hoje não conseguem controlar. Além disso, a administração de Barack Obama cedeu praticamente toda a iniciativa na Síria a Moscovo depois da derrota dos democratas nas eleições presidenciais de Novembro passado, pouco ou nada quer ou pode fazer por já estar de saída e Donald Trump ainda não foi empossado no cargo de Presidente dos Estados Unidos. Vladimir Putin está a utilizar o mais possível esta espécie de “interregno” para reforçar as suas posições na Síria e, por isso, as pausas humanitárias são contraprodutivas.
Ainda é difícil conseguir perceber qual a política que a futura direcção norte-americana irá realizar na Síria e regiões vizinhas, mas nada promete calmaria para o Médio Oriente. Em qualquer dos casos, não haverá milagres e, para que o regime de Bashar Assad continue no poder, exige um envolvimento cada vez maior das tropas russas na região e, por conseguinte, mais despesas militares. Tatiana Golikova, presidente do Tribunal de Contas, anunciou que o Fundo de Reserva da Rússia, que acumula os lucros do petróleo e gás, se esgotará em 2017 e não se prevê que a situação económica e financeira do país melhore.
Por tudo o que foi dito, é evidente que António Guterres enfrenta desafios extremamente complicados à frente das Nações, e a Síria é, talvez, o mais difícil. Dependendo completamente da política dos membros do Conselho de Segurança da ONU, o novo secretário-geral deverá encontrar novas vias de diálogo e de solução dos graves problemas internacionais, com Donald Trump à frente da maioria potência mundial.
[José Milhazes, aqui]
Notícias optimistas sobre os êxitos militares de Bashar Assad e da Força Aérea Russa são quase diariamente reportadas ao mundo não a partir da Síria, mas da sede do Estado Maior das Forças Armadas da Rússia a partir de Moscovo. Daí, bem como do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, vêm também os desmentidos de todas as acusações das Nações Unidas ou de organizações humanitárias internacionais sobre as numerosas vítimas e destruições provocadas pelos bombardeamentos russos.
A actuação de uma orquestra sinfónica russa em Palmira, dirigida pelo conhecido maestro Vlari Guerguiev, era uma demonstração de que esta antiga cidade síria estava completamente controlada pelas tropas governamentais sírias, mas o reaparecimento de tropas do DAESH e a reconquista de parte desse território desmente essa afirmação.
Iúri Valuievski, chefe do Estado Maior das Forças Armadas da Rússia entre 2004 e 2008, considera que se tratou de um erro dos militares russos que atingiu o prestígio deles: “mais um golpe contra o prestígio, nomeadamente contra o nosso prestígio”, declarou ele à agência russa Interfax.
“Independentemente do estado do exército sírio, foi incorrecto não acompanhar a concentração de forças do inimigo na região de Palmira. Isso não deve acontecer. E também não compreendo os meus colegas que lá se encontram. Talvez os sírios não tenham possibilidades como nós. Mas para onde estivemos a olhar se Palmira foi realmente tomada?”, frisou.
Segundo este general russo, a causa disso reside nas pausas humanitárias: “era claro que os terroristas não iriam parar. É-me difícil compreender, enquanto militar, o que fazemos, nomeadamente essas pausas humanitárias”.
Ou seja, o que este militar russo defende, e que na realidade está a ser feito na Síria, é a repetição de operações semelhantes àquelas que não deixaram pedra sobre pedra em Grozny, capital da Chechénia, nas cidades sírias, sem se importarem com aquilo que normalmente chamam “danos colaterais”.
Face a esta situação, os Estados Unidos e os seus aliados mostram-se incapazes de pôr fim a este banho de sangue, sendo de salientar que têm também sérias responsabilidades neste conflito, armando nomeadamente grupos armados de oposição a Bashar Assad que hoje não conseguem controlar. Além disso, a administração de Barack Obama cedeu praticamente toda a iniciativa na Síria a Moscovo depois da derrota dos democratas nas eleições presidenciais de Novembro passado, pouco ou nada quer ou pode fazer por já estar de saída e Donald Trump ainda não foi empossado no cargo de Presidente dos Estados Unidos. Vladimir Putin está a utilizar o mais possível esta espécie de “interregno” para reforçar as suas posições na Síria e, por isso, as pausas humanitárias são contraprodutivas.
Ainda é difícil conseguir perceber qual a política que a futura direcção norte-americana irá realizar na Síria e regiões vizinhas, mas nada promete calmaria para o Médio Oriente. Em qualquer dos casos, não haverá milagres e, para que o regime de Bashar Assad continue no poder, exige um envolvimento cada vez maior das tropas russas na região e, por conseguinte, mais despesas militares. Tatiana Golikova, presidente do Tribunal de Contas, anunciou que o Fundo de Reserva da Rússia, que acumula os lucros do petróleo e gás, se esgotará em 2017 e não se prevê que a situação económica e financeira do país melhore.
Por tudo o que foi dito, é evidente que António Guterres enfrenta desafios extremamente complicados à frente das Nações, e a Síria é, talvez, o mais difícil. Dependendo completamente da política dos membros do Conselho de Segurança da ONU, o novo secretário-geral deverá encontrar novas vias de diálogo e de solução dos graves problemas internacionais, com Donald Trump à frente da maioria potência mundial.
[José Milhazes, aqui]
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