Artigo de opinião de Gomes Fernandes , Arquitecto, no JN
O JN do passado domingo revelou um estudo, "encomendado pela SRU-Porto à empresa CB-Richard Ellis", em que a Avenida dos Aliados, conhecida "sala de visitas" do Porto, está excluída dos circuitos de procura comercial na Baixa, avançando, para o efeito, com medidas para a sua recuperação.
Entre elas, surge a proposta de modificar o seu perfil funcional e de desenho, fazendo regressar ao espaço central o verde dos canteiros e de mais arborização, características radicalmente alteradas no último e ainda recente arranjo.
É fácil concluir que o perfil funcional da avenida não se adequa à imagem intensa e atractiva que já teve e que as modificações introduzidas no seu desenho não ajudaram a tal recuperação, que é urgente operar num novo e moderno paradigma. Há dados novos e a ter em conta, a começar pelas acessibilidades do metro e da recuperada circulação de eléctricos, que não parecem ter ainda sido assimilados pelo interesse dos agentes económicos na instalação de novas actividades e do conjunto dos cidadãos na transformação dos seus hábitos de uso e desfrute de tão emblemático espaço central. Situações que se não alteram de um momento para o outro nem se induzem por exclusiva vontade dos planeadores, pois as receitas, quaisquer que sejam, serão sempre de complexa exequibilidade, pela quantidade de variáveis envolvidas e diversidade de agentes que nelas intervêm.
A mudança do perfil funcional de serviços, com as deslocalizações financeiras, de seguradoras e jornais e a redução drástica de funcionários, e a migração de estudantes para pólos universitários periféricos, associada ao envelhecimento e abandono de população residente, geraram vazios vivenciais que não voltarão a ser preenchidos nos mesmos moldes, daí poder dizer-se que estamos perante um novo paradigma, que envolve outros perfis de residentes e consumidores e uma nova mentalidade urbana. A frente de acção é múltipla e exige que sejam criadas condições novas de alojamento em simultâneo com a chamada de novas actividades e serviços, numa complementaridade de parcerias que podem ter como pivot os agentes públicos com os privados, com a Universidade e com os movimentos cooperativo e associativo, para os segmentos habitacional e cultural.
A avenida só se encherá de gente quando dispuser de actividades e serviços atractivos e dinamizadores e tal só acontecerá por mérito de maiores e melhores fluxos turísticos mas, sobretudo, pela geração de vida desencadeada pelos novos residentes dos quarteirões que a envolvem. E isto, como é visível, irá demorar anos, o que exige, da parte da Câmara, uma estratégia intercalar de substituição animadora, capaz de ir deixando as raízes daquilo que se pretende atingir a médio e longo prazo.
Não parece conveniente voltar a revolver os pavimentos do espaço central da avenida com mais obras que os cidadãos não tolerariam, pelo cansaço provocado pelas há pouco terminadas, devendo, quanto a isso, ser adoptadas medidas de simples execução destinadas a criar "canteiros e mais arborização de sombreamento" e resolver o problema do denominado "espelho de água", que não passa de uma suja e pouco atractiva piscina. Tal espaço central tem servido para tudo, numa desconexa e anárquica utilização funcional que em nada ajuda a requalificar o perfil estético e ambiental da avenida, como consequência também não constitui grande mais-valia no chamamento de pessoas ao centro.
Começar por aqui, por planear regras e disciplina e aplicá-las, de forma criativa na gestão urbana da zona, seria já um bom contributo que a Câmara poderia dar à cidade e incentivar os cidadãos a voltarem a gostar da sala de visitas da sua casa. Planeamento integrado do que se quer fazer a prazo, sim que tem de existir e depressa, mas sem esperar pelos seus eventuais resultados poderiam ser tomadas de imediato algumas medidas disciplinadoras de animação que não têm existido. Conclua-se agora a "maior árvore de Natal da Europa" e pense-se no que virá a seguir, no próximo ano, mesmo antes de lhe desmontar a estrutura agora montada. Seria já um bom e exemplar começo!
O JN do passado domingo revelou um estudo, "encomendado pela SRU-Porto à empresa CB-Richard Ellis", em que a Avenida dos Aliados, conhecida "sala de visitas" do Porto, está excluída dos circuitos de procura comercial na Baixa, avançando, para o efeito, com medidas para a sua recuperação.
Entre elas, surge a proposta de modificar o seu perfil funcional e de desenho, fazendo regressar ao espaço central o verde dos canteiros e de mais arborização, características radicalmente alteradas no último e ainda recente arranjo.
É fácil concluir que o perfil funcional da avenida não se adequa à imagem intensa e atractiva que já teve e que as modificações introduzidas no seu desenho não ajudaram a tal recuperação, que é urgente operar num novo e moderno paradigma. Há dados novos e a ter em conta, a começar pelas acessibilidades do metro e da recuperada circulação de eléctricos, que não parecem ter ainda sido assimilados pelo interesse dos agentes económicos na instalação de novas actividades e do conjunto dos cidadãos na transformação dos seus hábitos de uso e desfrute de tão emblemático espaço central. Situações que se não alteram de um momento para o outro nem se induzem por exclusiva vontade dos planeadores, pois as receitas, quaisquer que sejam, serão sempre de complexa exequibilidade, pela quantidade de variáveis envolvidas e diversidade de agentes que nelas intervêm.
A mudança do perfil funcional de serviços, com as deslocalizações financeiras, de seguradoras e jornais e a redução drástica de funcionários, e a migração de estudantes para pólos universitários periféricos, associada ao envelhecimento e abandono de população residente, geraram vazios vivenciais que não voltarão a ser preenchidos nos mesmos moldes, daí poder dizer-se que estamos perante um novo paradigma, que envolve outros perfis de residentes e consumidores e uma nova mentalidade urbana. A frente de acção é múltipla e exige que sejam criadas condições novas de alojamento em simultâneo com a chamada de novas actividades e serviços, numa complementaridade de parcerias que podem ter como pivot os agentes públicos com os privados, com a Universidade e com os movimentos cooperativo e associativo, para os segmentos habitacional e cultural.
A avenida só se encherá de gente quando dispuser de actividades e serviços atractivos e dinamizadores e tal só acontecerá por mérito de maiores e melhores fluxos turísticos mas, sobretudo, pela geração de vida desencadeada pelos novos residentes dos quarteirões que a envolvem. E isto, como é visível, irá demorar anos, o que exige, da parte da Câmara, uma estratégia intercalar de substituição animadora, capaz de ir deixando as raízes daquilo que se pretende atingir a médio e longo prazo.
Não parece conveniente voltar a revolver os pavimentos do espaço central da avenida com mais obras que os cidadãos não tolerariam, pelo cansaço provocado pelas há pouco terminadas, devendo, quanto a isso, ser adoptadas medidas de simples execução destinadas a criar "canteiros e mais arborização de sombreamento" e resolver o problema do denominado "espelho de água", que não passa de uma suja e pouco atractiva piscina. Tal espaço central tem servido para tudo, numa desconexa e anárquica utilização funcional que em nada ajuda a requalificar o perfil estético e ambiental da avenida, como consequência também não constitui grande mais-valia no chamamento de pessoas ao centro.
Começar por aqui, por planear regras e disciplina e aplicá-las, de forma criativa na gestão urbana da zona, seria já um bom contributo que a Câmara poderia dar à cidade e incentivar os cidadãos a voltarem a gostar da sala de visitas da sua casa. Planeamento integrado do que se quer fazer a prazo, sim que tem de existir e depressa, mas sem esperar pelos seus eventuais resultados poderiam ser tomadas de imediato algumas medidas disciplinadoras de animação que não têm existido. Conclua-se agora a "maior árvore de Natal da Europa" e pense-se no que virá a seguir, no próximo ano, mesmo antes de lhe desmontar a estrutura agora montada. Seria já um bom e exemplar começo!