Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

Divórcio, disse ela

Entrevista a Cécilia Sakozy (ex-primeira dama francesa): 'VOU VIVER NA SOMBRA, COMO GOSTO'

Porque decidiu dar hoje [um dia depois do anúncio oficial do divórcio] a conhecer a sua parte da verdade?
Creio que devo dar uma explicação sobre as razões por que não quero continuar a desempenhar o papel, se é que ele existe, de primeira dama de França, sobre as razões por que pedi o divórcio e as razões por que pretendo retirar-me da vida pública. Penso que devo explicar aos franceses, que se interrogam sobre elas, as razões da minha opção.

Acaba de avançar com dois elementos essenciais: a sua retirada da vida pública e o seu divórcio. Qual deles é para si o primordial? Um explica o outro? Não suportava a condição de primeira dama?
Não é possível dissociar as duas coisas. Há dois anos, houve na minha vida um acontecimento do qual a França, infelizmente, está a par, porque, sendo eu uma mulher mediática devido às funções do meu marido, tudo o que acontece na minha vida deve ser explicado. Acontece que, em 2005, eu conheci uma pessoa, apaixonei-me e fui-me embora, talvez um pouco precipitadamente dado o contexto ainda mediático em que eu vivia nessa época. Quis tentar comportar-me correctamente e regressar para tentar reconstruir qualquer coisa, para tentar voltar aos princípios a que estou habituada e nos quais fui educada. Foi essa a razão por que tudo se passou com grande rapidez e sem que eu pudesse gerir completamente as circunstâncias. Nos últimos dois anos, não falei. Esta vida pública não tem a ver comigo, não tem a ver com aquilo que sou no mais fundo de mim própria; sou uma pessoa que gosta de ficar na sombra, que gosta da serenidade, que gosta da tranquilidade. O meu marido era uma figura pública, sempre soube disso e acompanhei-o durante 20 anos. Este combate levou-o a um lugar onde penso que ele é fantástico, porque é um homem de Estado, um homem que é capaz de fazer muito pela França e pelos franceses. Mas penso que esse não é o meu lugar. Já não é o meu lugar. E, tal como tem sido dito muitas vezes pelos jornalistas e pelos cronistas, elegeu-se um homem, não um casal.

Para si, a chegada de Nicolas Sarkozy ao Eliseu foi como o fim de o ciclo? A senhora cumpriu, de alguma forma, uma missão?
Não. Está a misturar a vida privada com a vida pública. Mas é verdade que, quando se casa com um político, a vida privada e a vida pública são uma só. Aí começam os problemas. Não cumpri uma missão, foi um combate normal. Sou uma mulher que se empenha, tenho necessidade disso. Tenho necessidade de provar, mais a mim própria do que aos outros, que sou capaz de fazer determinadas coisas. Por isso, durante 20 anos, travou-se um combate, uma luta, mas houve também momentos interessantes, apaixonantes, porque a política é apaixonante, ao lado daquele que era meu marido. No caso dele, é como um violinista que recebe um Stradivarius: de repente, tem oportunidade de praticar a sua arte. No que me diz respeito, não é de forma alguma igual: trabalhei a seu lado, mas não fui eleita e não tinha vontade de ser eleita. É essa uma das razões por que este não era o meu lugar.

Sem querer entrar na sua vida privada, pode dizer-nos algumas das razões que levaram a esta decisão importante, se não mesmo histórica?
O que me aconteceu tem acontecido a milhões de pessoas: um dia, alguém já não tem o seu lugar no casal. O casal deixa de ser a coisa essencial da vida dessa pessoa, já não funciona, já não resulta. As razões são inexplicáveis, acontecem a muitas pessoas. Aconteceu-nos a nós. Como temos alguns princípios, tentámos reconstruir, colocar a família antes de tudo o mais, esta família reconstituída de que todos os franceses falaram, fazer dela a prioridade, mas já não era possível. Tentámos tudo, tentei tudo, mas simplesmente já não era possível.

É esta crise do seu casamento que explica a sua ausência de várias cerimónias oficiais e viagens onde todos esperavam que estivesse? Os franceses nem sempre compreenderam estas ausências.
A crise não chega de um dia para o outro. Voltei a casa há um ano. Durante um ano, tentei empenhar-me profissionalmente, pessoalmente, mas isso não funcionava todos os dias. Durante o G8, preferi afastar-me, porque aquele já não era o meu lugar. Se não fui votar, foi porque já não me sentia bem, porque não era o momento de me mostrar. Penso que os franceses compreendem que há momentos na vida em que nos sentimos menos bem do que noutros, que estas crises podem suceder com qualquer pessoa. Por isso, preferi não me mostrar, não me expor e proteger-me. Uma das perversões da minha posição é esta obrigação de dar explicações sobre a minha necessidade de viver tranquilamente, escondida.

Ao mesmo tempo, o facto de não a vermos onde todos a esperavam alimentou este fenómeno a que se dá o nome de "o enigma Cécilia", "o mistério Cécilia", atrás do qual andavam todos os órgãos de informação.
Não há nenhum enigma, nenhum mistério. Há apenas um casal que atravessa uma crise e que tentou ultrapassá-la, sem no entanto o conseguir. E há um grande pudor da minha parte em não querer expor, falar na imprensa, explicar coisas que, em definitivo, não dizem respeito a mais ninguém! Que, ainda para mais, a minha vida privada seja explicada, dissecada, com todas as aberrações que li, claro que isso me faz sofrer, qualquer outra pessoa sofreria também. E as pessoas que disserem o contrário não dizem a verdade : não existe nenhuma carapaça suficientemente sólida que nos proteja dessas coisas.

Espera virar uma página com esta sua decisão?
Não é o que eu espero, é o que eu vou fazer. E, sobretudo, vou tentar agora viver discretamente e na sombra, como gosto.

Pode não existir um "mistério" ou um "enigma", mas há um paradoxo. Deseja obviamente afastar-se da mediatização própria de uma primeira dama, mas, ao mesmo tempo, levou a cabo uma missão espectacular na Líbia, que se saldou por um sucesso, pois conseguiu o que outros tinham falhado antes de si: libertar as enfermeiras búlgaras e o médico palestiniano. Sabia, no entanto, que iria estar bastante exposta aos olhares públicos quando regressasse.
Uma vez mais, fiz as coisas sem pensar nas consequências mediáticas. A determinada altura, falei com Claude Guéant, secretário-geral do Eliseu, que me disse: "Vou à Líbia." Senti que podia ajudar, que podia dar um contributo.

Porquê?
Senti-o, senti que podia fazer alguma coisa, apesar de a situação estar bloqueada havia muito tempo. Disse-lhe: "Vou consigo!" Ficou surpreendido e falou deste assunto ao Presidente, que lhe respondeu: "OK, vamos tentar, leve-a consigo." Parti com Claude Guéant. No avião, inteirei-me do dossier, tentei compreender e fiquei absorvida. Quando cheguei, apercebi-me de que havia meios de desbloquear as coisas. Pus nisso toda a minha energia. Primeira viagem, segunda viagem, passei lá 50 horas, a discutir, a falar, a negociar, com uns e com outros, muitas vezes com uns contra os outros, para tentar conseguir a única coisa que me interessava : libertar estas mulheres e este homem. Tinha-lhes dado a minha palavra, era preciso cumprir essa palavra e sentia que o podia conseguir. Era preciso empenhar toda a minha vontade, toda a minha alma, toda a minha raiva. Consegui e sinto-me muito contente com isso. Não esperava nada em troca e não compreendo esta polémica. Porque a minha única motivação era conseguir a libertação daquelas pessoas que sofriam de maneira atroz, era apenas fazê-las sair da prisão. Em nenhum momento pensei nas consequências mediáticas, nem nas explicações que me pedem, nem em nada. Fiz isto apenas com intuitos humanitários. E foi tudo.

Nicolas Sarkozy, numa entrevista recente à televisão, deu a entender que a senhora não se oporia a ser alvo de uma investigação por parte dos deputados franceses.
Ele tomou a decisão de não me sujeitar a um inquérito sem falar comigo sobre isso, porque terá pensado, ao que julgo, que seria bom ou melhor para mim. Mas eu não tenho nada a esconder nesta história, não fiz nada de mal, fui muito honesta, não passei dos limites : fiz o que era necessário com a ajuda de Claude Guéant e de Boris Boyon, o conselheiro diplomático, que estiveram ao meu lado e que velaram para que tudo se passasse da melhor maneira. Agora, quando querem que eu peça desculpa por ter conseguido a libertação daquelas mulheres e daquele homem, há aí qualquer coisa de anormal.

Esta missão dá-lhe o desejo de prosseguir com o trabalho humanitário?
Creio que tenho bastante vontade para isso, tenacidade e sorte. Não sei se chegará. Mas não é apenas o caso das enfermeiras búlgaras. Sempre me empenhei a tentar estender uma mão. Continuarei a fazê-lo, mediática ou não.

Sob que forma? Pretende criar uma fundação?
Não. De momento, não tenho qualquer projecto. Tenho vontade de fazer muitas coisas, tenho necessidade de ajudar e sinto que tenho a possibilidade de auxiliar os outros. Isso sempre fez parte da minha natureza, sempre estive voltada para os outros.

Uma pergunta que muitos franceses fazem: o que sentiu no momento em que soube que Nicolas Sarkozy iria ser Presidente da República, ao fim de todos estes anos de combate?
Senti-me orgulhosa! Fiquei orgulhosa, porque é um trabalho de uma vida inteira. É uma abnegação, muitos sacrifícios para lá chegar, mas penso que ele faz parte dessa raça de homens que coloca a carreira e a vida ao serviço do Estado sem esperar nada em troca.

É um homem de Estado?
Penso que é um homem de Estado. Penso que a França o merece e que ele merece a França. Senti-me orgulhosa e feliz por ele. Verdadeiramente, por ele.

Tem-se dito muitas coisas sobre o seu papel ao lado de Sarkozy. A senhora era sua conselheira, tinha influência sobre ele, pesava nas suas decisões estratégicas, nas nomeações? Chegou-se a dizer que alguns ministros lhe deviam a si o cargo.
Fico contente por poder falar sobre esse assunto. Nicolas não tem absolutamente nenhuma necessidade desse tipo de conselho. Procurei sempre ser para ele uma espécie de parapeito, porque tenho um olhar muito voltado para fora e porque mantive sempre uma vida um pouco exterior e paralela à da política. Tenho um olhar mais fresco e mais exterior em relação às coisas. Em troca, para tudo o que sejam nomeações, decisões, fecho a porta do escritório. Nunca quis imiscuir-me no que quer que fosse. Em compensação, penso que uma opinião exterior totalmente desinteressada, porque eu não esperava nada em troca, é por definição uma boa opinião.

Porquê então estes fantasmas?
Talvez porque não falei, não expliquei, o suficiente. Não sei.

Perdeu recentemente o seu primeiro marido, Jacques Martin. Devemos estabelecer uma relação entre o desaparecimento dele e a sua separação actual?
De maneira nenhuma. Mas há momentos em que o destino se encarniça contra nós. Jacques era um homem notável, que me deu duas filhas magníficas, que são hoje duas jovens. Sinto-me feliz por lhe poder prestar a minha homenagem e feliz também por as minhas duas filhas terem podido constatar até que ponto ele era um grande senhor. Neste momento, há grandes perturbações na minha vida, mas, em vez de me deixar ultrapassar por elas, tento geri-las. Sou uma adepta incondicional do positivismo.

Que vai fazer nos próximos dias?
Concentrar-me na minha família. E, depois, projectar-me no futuro. Não quero viver mais em função do meu passado. Não gosto de viver no meio dos escombros. A página vira-se, é difícil e é normal, dado o contexto e tudo o que está em jogo. Mas nunca lamento as decisões que tomo. Ainda em criança, quando terminava um desenho, virava a página e começava a fazer outro. Pois bem, peguei nos pincéis para pintar uma história nova.