Um tributo ao meu avô
Sendo uma das mais antigas nações do mundo, foram inúmeras as batalhas travadas pelos bravos soldados portugueses. Honra, glória, mas também desonra, vergonha e humilhações. Mortes, muitas. Muitas vitórias, derrotas também. Algumas mais importantes que outras, mas em todas houve esforço e sacrifício individual por um ideal colectivo. Podemos referir que a participação do nosso país na Primeira Guerra Mundial foi mal organizada, gerida por hierarquias obsoletas e não adequadas para uma nova forma de guerra. Na sua essência serviu para credibilizar a República recém instaurada perante os aliados, nomeadamente a Inglaterra, e para defender os territórios africanos dos interesses coloniais alemães.
Em Portugal é todo o mundo rural que está em guerra. Na maioria dos casos, o soldado sai, pela primeira vez, da sua terra natal. Aprende a comer de garfo e faca na tropa. As tropas levam três meses de barco e mais três dias de comboio de Brest até à frente na Flandres.
As tropas lusas do Corpo Expedicionário Português foram enviadas para a Flandres e aí passaram um inverno especialmente chuvoso e frio. Por lhe ter sido distribuído o sector de menor altitude da toda a região passaram todo o inverno dentro da lama provocada pela água da chuva bombeada pelos alemães colocados nos locais mais elevados, assim como pelos seus esgotos.
Devido a diversos problemas políticos em Portugal, os nossos soldados acabaram por nunca terem sido rendidos ao ritmo trimestral previsto e praticado pelos demais exércitos. No final do Inverno, nove meses após a sua chegada, o moral era baixíssimo. Os oficiais com influência política conseguiam licenças e nunca mais voltavam. Verificaram-se deserções e suicídios.
No início da primavera, a 9 de Abril, quando o tempo começava a melhorar, deu-se a Batalha de La Lys. Todos já ouvimos falar da estrondosa derrota que sofremos. O ataque alemão foi preparado durante todo o inverno, e foi a última grande ofensiva das forças do Eixo antes da sua rendição em Novembro desse ano.
Eis uma breve cronologia dos terríveis acontecimentos:
6 de Abril de 1918. A primeira divisão retira da frente. Fica a quinta divisão (conhecida por segunda divisão reforçada). No comando da quinta divisão, o Brigadeiro Gomes da Costa (um duro que instaurará o Estado Novo com o golpe de Estado de 28 de Maio de 1926) substitui o General Simas Machado. Há nove meses que as tropas estão na frente de combate. Era caso único entre os aliados. O soldado da trincheira vê pouco: gases químicos lançados pelos alemães e nevoeiro. O soldado da trincheira ouve muito: o som da metralha, dos morteiros, da artilharia alemã. O revestimento da trincheira é de madeira ou de ferro. A lama da frente agarra-se ao corpo e torna o avanço muito difícil. O soldado abriga-se em buracos reduzidos, revestidos de chapa com escoras de madeira e sacos cheios de terra. Há numerosos ratos. Dentro do abrigo, o mobiliário é de pinho, um ou dois leitos, instrumentos mínimos de higiene. 8 de Abril de 1918. A situação é de alerta máximo. Aguarda-se a todo o momento um ataque do inimigo alemão. Tinha havido uma carga alemã até perto de Amiens (Operação Michael). Os aliados situam-se perto das ribeiras de La Lol e La Lys na Flandres. Portugal dispõe de duas divisões com tropas de artilharia, infantaria e cavalaria. A segunda divisão do Corpo Expedicionário Português espera ser rendida no dia 9 de Abril. No comando da primeira divisão, está o General Tamagnini, conhecido pelo seu carácter disciplinador e astuto. A primeira divisão (30 mil soldados) ocupa o sector da frente com 11 km. (Em comparação, 80 mil americanos ocupam 14 km de frente). 9 de Abril de 1918. 4h15. Começa o bombardeamento alemão: artilharia contra artilharia. Salvas de artilharia de dez em dez minutos. Depois salvas permanentes a partir das 5h15. Das 5 às 8 horas o fogo é contínuo. Segue-se o assalto das tropas alemãs a partir das 8h15. O marechal Douglas Henke, comandante chefe dos exércitos britânicos considera os soldados portugueses "bravos e úteis". Mas as tropas portuguesas sofrem pesadas baixas. Os alemães não tinham a certeza do sucesso militar. Escolhem o sector português, porque, com a derrota dos portugueses, os ingleses retiravam para os flancos. Logo, os alemães avançariam na frente. O objectivo dos alemães é empurrar os ingleses até ao Canal da Mancha. Do lado alemão, comandam o General Ludendorf e o Marechal Hindenburg. Já no dia 8 de Abril, os alemães alteram o seu dispositivo militar. Colocam quatro divisões com quase 50 mil homens, reforçadas no dia 9 de Abril com mais 30 mil soldados. Os portugueses são só 20 mil. 9 de Abril de 1918. Final da noite. Os alemães capturam seis mil portugueses da segunda divisão e quase 100 peças de artilharia. As tropas alemãs avançam. Mas não cumprem totalmente o objectivo: avançar para além das ribeiras de La Lol e La Lys. Dizimada é a Brigada do Minho. Mas conseguiu resistir juntamente com as restantes tropas portuguesas durante 24 horas. A trincheira transforma a guerra num impasse de posições. Os Alemães vencem em La Lys. A segunda ofensiva alemã dura de 9 a 27 de Abril, mas com perdas crescentes para o lado alemão. Ainda tentam o assalto a Paris (operacão Valquíria). Detidos pelo General Pétain, são mais tarde vencidos pelo contra-ataque aliado. Os poucos sobreviventes regressaram gaseados e incapacitados para uma vida que para muitos foi curta e difícil. O meu avô materno foi um deles. Um sobrevivente, um Herói! |
Obs: Os participantes na Guerra de 1914-1918 foram: o Império Alemão, o Império Áustro-Hungaro, a Turquia e a Bulgária que lutaram contra o Império Britânico, a Rússia, a França, a Itália, os Estados Unidos, Portugal, Bélgica, Holanda, Grécia e Roménia.
3 comentários:
Caro Kosta
Chamo a sua atenção para a gralha do "à" sem agá.
Com os melhores cumprimentos,
Barba azul
Tem toda a razão; muito obrigado pela correcção.
Um abraço.
O post até está bom, ainda bem que o seu avô sobreviveu.
Mas não lhe fica bem vir falar de patriotismo quando ao mesmo tempo defende ideiais pseudo-separatistas.
Porto Canal e partido do Norte, no seu blog roll são exemplos disso mesmo.
O nosso é um pais é um todo e não serão meia duzia de caciques da bola do porto que o vão destruir.
Já que fala de la Lys, lembre-se do soldado Milhais, pois Transmontano e de Murça.
Aqui é tudo benfas, e se for preciso tal como aconteceu na decada de 20 do sex XIX, nós Transmontanos, a temida infantaria do Marão estrá pronta para ir ao Porto por ordem nos portistas e nos seus esbirros separatistas.
Porque meu caro, ou mantemos isto unido ou então passamos a ser comandados pelos castilhas.
Pior, o Porto canal já é controlado pelos espanhóis, e não é por acso.
Convem que perceba que os espanhóis estão a tantar por todos os meios tomar conta de portugal e destruir a unidade nacional, o controle dos media é um passo indispensável para atingir esse desidrato.
Por fim lembre-se que esse norte do pintop da coista acaba em Gondomar ou Valongo.
Para cá do Marão mandam, os que cá estão.
Enviar um comentário