As crianças-lobo viviam em florestas, andavam cerca de 20 quilómetros por dia, principalmente, no Inverno, para vencer o frio. Comiam ratazanas, cadáveres e cascas de batatas, encontradas em lixeiras, muitas morreram de fome, algumas, infestadas de piolhos e outros parasitas.
Ao contrário do que parece, não se trata do resumo de mais um livro de ficção, ou de um filme de Hollywood. As crianças-lobo existiram. Não na Idade Média, como se podia pensar, ou noutras eras mais distantes, mas no século XX. E não estamos a falar de regiões inóspitas, mas da "nossa" Europa!
As crianças-lobo eram originárias da Prússia Oriental, um território alemão que, depois da Primeira Guerra Mundial, ficou geograficamente separado do resto da Alemanha pelo chamado corredor polaco. Depois da Segunda Guerra, a Alemanha perdeu o território por completo, que foi dividido entre a Polónia e a Rússia. A partir de 1944, as tropas soviéticas começaram a invadir a Prússia Oriental, espalhando o terror e a destruição. Alguma da população conseguiu fugir para a Alemanha, mas algumas crianças, vendo-se órfãs ou em situações de perigo, fugiram em direcção às florestas da Lituânia.
São histórias incríveis e praticamente desconhecidas do mundo. Li a de Ursula Dorn, hoje com 76 anos, no Jornal Católico do bispado de Hildesheim. Com apenas dez anos e cansada de assistir à violação de mulheres, à fuga de pessoas em chamas de casas incendiadas e ao juntar de cadáveres pela rua, Ursula Dorn, apesar de ter a mãe ainda viva, fugiu àquele horror num comboio de mercadorias, em direcção à Lituânia. Por ali errou, durante dois anos. Dormia em celeiros, ou em campos, e escondia-se na floresta. Sobreviveu, nas suas palavras, graças à bondade de camponeses, que, apesar de muito pobres, sempre lhe iam dando uma caneca de leite e um pedaço de pão. Às vezes, até a recolhiam temporariamente.
Muitas dessas crianças foram adoptadas pelos camponeses lituanos. Proibidas de falar alemão, para que o exército soviético não as notasse, receberam nomes lituanos e foram naturalizadas. Muitas conseguiram regressar à Alemanha, depois da guerra, outras por lá ficaram, recalcando a sua verdadeira origem. Hoje, ainda lá vivem algumas dezenas. São pessoas muito pobres, analfabetas e esperam, agora, serem naturalizadas alemãs, a fim de terem direito a uma reforma de jeito. Mas tem sido difícil. Como diz Ursula Dorn, "fomos esquecidos, ninguém se preocupou connosco".
São histórias arrepiantes. Na Alemanha, há alguns livros publicados sobre este assunto e foram feitos alguns documentários para a televisão. Quem quiser mais informação, na Wikipedia, em inglês e em alemão.
Retirado daqui:Andanças Medievais
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