Hoje em dia não é que a situação das famílias tenha melhorado, só que houve um ajustamento das expectativas e do modo de vida. As pessoas hoje vivem com menos do que viviam há cinco anos, mas já não têm a expectativa de virem a viver acima das possibilidades. Ou seja, houve um ajustar das expectativas e portanto as pessoas não se sentem tão pobres, mas estão tão pobres como estavam há cinco anos, a diferença é que agora gastam menos dinheiro.
Nesta entrevista, Isabel Jonet toca num ponto decisivo para a nossa vida política e colectiva actual: a percepção da realidade, a "nossa" percepção e/ou confiança nessa percepção....que resulta, sobremaneira, do ambiente que, através da imprensa, se cria, do "mainstream" que se constrói e que se vende. No fundo da "narrativa" dominante.
E a política, cada vez mais mediática e manipulável pela comunicação social é, cada vez mais, a gestão de expectativas e de ilusões....Se um dia a realidade chocar com essas ilusões e expectativas, tanto pior....senão, lá vamos andando habitualmente, tranquilamente e muito desinteressadamente (como habitualmente!).
Talvez esta entrevista ajude a perceber porque é que a questão da denominada "austeridade" é, também, uma questão de gestão de narrativas e de expectativas: estamos tão pobres como antes (há, de resto, em termos macroeconómicos indicadores preocupantes*....), mas a "crise" aparentemente acabou....dizem "eles".
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