Numa publicação na sua conta do twitter, Ricardo Costa, director-geral de informação do grupo IMPRESA e ex-director do Expresso, citou-nos e disse: “momento da gafe:"La La Land" foi o melhor filme 3 minutos … via @sicnot Ainda não há uma teoria dos truques para isto?”
Àquilo que parecia ser uma piada, nós respondemos com outra piada: twittamos a expressão “La La Papers”, com uns smiles.
A partir daqui, tudo se descontrolou. Ricardo Costa, em resposta, enveredou numa deriva de ataques e insultos impróprios para um jornalista que reclama para si credibilidade e reconhecimento público. Após a nossa piada, respondeu com uma imagem do Ku Klux Klan e com uma associação a Donald Trump. Palavras como “cobardes” sucederam-se e o jornalista afirmou mesmo que considera que não há insultos impróprios para “cobardes anónimos.” A brincadeira de Ricardo Costa, se em algum momento tinha começado, acabava de terminar naquele instante.
É certo que todos têm direito ao seu momento de cabeça perdida, mas a persistência no tom e no conteúdo demonstra que Ricardo Costa disse exactamente o que queria e como queria. Perante esta resposta consciente e desproporcional, é importante lembrar que o KKK é uma organização terrorista, supremacista, racista, nacionalista, antisemita, anticatólica, anticomunista, homofóbica e neonazi.
É inaceitável que alguém use esta referência para nos atacar. Ainda que alegoricamente, este é um insulto muito grave que diz mais sobre quem o profere do que sobre quem visa. (...) Não há nada, rigorosamente nada, que torne admissível esta publicação de Ricardo Costa. Como se não bastasse, Ricardo Costa ainda acrescentou referências a Steve Bannon, conselheiro de Donald Trump e antigo director da Breitbart, uma estação de notícias conotada com a extrema-direita, com frequentes incitamentos ao ódio. Todo este discurso do jornalista revela um método de produzir notícias, que deturpa livremente e constrói narrativas a partir do zero.
Há, com efeito, um sentimento de total impunidade que grassa entre alguns jornalistas. Um sentimento de que podem dizer rigorosamente tudo o que lhes apetece porque nada lhes acontecerá, de que podem ultrapassar todas as fronteiras, mesmo as do bom senso e da boa educação, de que são moralmente superiores e de que possuem uma autoridade intocável, quem podem exercer arbitrariamente para fazerem o que lhes apetece a quem lhes apetece. A Ricardo Costa dizemos o que temos vindo a dizer a outros: A liberdade que reclamam - e bem - para a imprensa, tem de ser por vós coerentemente exercida em relação a quem a critica.
A protecção da nossa identidade tem aqui uma extraordinária demonstração da sua razão de ser. Nas mãos de jornalistas justiceiros e de cabeça perdida, com acesso a dispositivos de poder como são os órgãos de comunicação social, o curso normal das nossas vidas - que queremos manter privadas e fora deste terreno sujo de prepotência e aparência - estariam ameaçadas. O anonimato é um direito que cabe a cada um exercer consoante a sua consciência. Sob o anonimato, como sem ele, não se podem cometer crimes. Sob o anonimato, como sem ele, não se deve insultar. E nós, sob anonimato, não fazemos nada que não nos orgulhássemos de fazer assinando, com a vantagem de estarmos protegidos destas e de outras vendettas que tantos elaboram.
O The Economist, cujos escritores se mantêm anónimos desde 1843(!), responde assim à questão "Why are The Economist’s writers anonymous?": "The main reason for anonymity, however, is a belief that what is written is more important than who writes it. In the words of Geoffrey Crowther, our editor from 1938 to 1956, anonymity keeps the editor "not the master but the servant of something far greater than himself…it gives to the paper an astonishing momentum of thought and principle."
Para nós, é isto. Mas para muitos como Ricardo Costa, não: é mais importante saberem quem escreve, para atacar o escritor, que darem a cara e rebaterem as críticas.
Alguns jornalistas, adoptando um comportamento tiffosi, de claque inorgânica e irracional, juntaram-se ao insulto do KKK com likes e partilhas, concordando implicitamente com o líder da informação no grupo IMPRESA. Lamentamos esta atitude. As demonstrações de obediência e submissão não nos deixam tranquilos. O mais engraçado é que, apostamos, nenhum deles recusaria trabalhar no The Economist, abraçando aí o anonimato como um direito. Assim, como lhes somos indigestos, somos o KKK.
Ricardo Costa prosseguiu e, com recurso a argumentos primários, respondia intempestivamente aos leitores que entretanto se indignaram com ele: “Não compre nenhum jornal, é um direito. Os eleitores de Trump fizeram o mesmo.” Esta é a nova forma de chantagem dos media tradicionais sobre a sociedade, o novo dispositivo retórico que será usado daqui para a frente: “Ou estás por nós, ou estás pelo Trump”, como se jornalismo e Trump representassem dois extremos de um mundo maniqueísta, dividido pelo bem e o mal. Como se não houvesse jornalistas bons e maus. Como se não pudesse haver alternativa ao jornalismo actual, como se fosse absolutamente inevitável aceitar a manipulação constante, os ~lapsos~ do Expresso e da SIC sobre a taxa de desemprego, sobre a devolução da sobretaxa prometida a 5 dias das eleições, sobre o impeachment de Dilma e as vozes cortadas… Como se fosse necessário sujeitarmo-nos a tudo isso para não alinharmos com Trump.
Apesar de todos os insultos e provocações, Ricardo Costa foi evasivo perante a pergunta fundamental, repetida por nós e por vários leitores inúmeras vezes: O que é feito da lista de jornalistas avençados que o Expresso prometeu em Abril de 2016?
Porque foi aqui que começou: numa nossa referência ao caso que o Expresso embrulhou nos Panama Papers e que agora finge que não tem nada a ver.
Portanto repetimos a pergunta: quem são os jornalistas avençados pelo GES?