O Porto voltou a ser “Europe’s Best Destinations 2017“. Tive o cuidado de escrever “o Porto” e não “a cidade do Porto” porque no Porto e neste prémio entra Gaia (pelas Caves, pela Serra do Pilar, pelas vistas fabulosas para a Ribeira do Porto e pela Afurada), Matosinhos (por Matosinhos Sul, pelos seus restaurantes onde se come o melhor peixe e marisco), por Braga e Guimarães sem esquecer o Douro Vinhateiro para onde se deslocam muitos dos turistas que visitam a cidade do Porto aproveitando para conhecer um pouco mais o Norte de Portugal.
Seria o mesmo que ganhar Palma de Maiorca, a que carinhosamente chamo de “Rochedo” e não sublinhar que seria pela cidade mas também pela Tramuntana, pelas praias de Cala D’Or, pelo Parque Natural de Mondragó, por Artá ou Es Trenc. O Porto é mais do que as fronteiras administrativas da cidade. Assim como Palma.
A pergunta que alguns fazem é “Mas porquê o Porto?”. Não é a cidade portuguesa mais visitada, essa é Lisboa. Nem é um destino de sol e praia como o Algarve. Pois não. Porém, é (era) um dos segredos mais bem guardados da Europa. E quanto mais conheço a Europa, mesmo sendo ainda pouco, muito pouco, menos me espanta que o Porto seja eleito por internautas de mais de 170 países – mesmo sabendo, tenhamos todos noção, que as campanhas internas de apelo ao voto certamente ajudaram muito a este resultado, sobretudo desta vez. E já agora, se me permitem um pequeno desvio, os parabéns a quem desenvolveu a referida campanha pois estava muito bem feita.
Não me espanta porque o Porto é um destino seguro, com um património muito interessante, com características únicas (ou, pelo menos, raras), cada vez mais cuidado em termos de limpeza e qualidade de informação ao turista, com serviços na quantidade necessária e com uma gastronomia fantástica, tudo devidamente condimentado com preços bastante interessantes para as carteiras dos ocidentais. Sem esquecer a Ryanair e outras companhias aéreas que nos trazem turistas em barda. Reparem nas cidades concorrentes: Milão, Gdansk, Atenas, San Sebastian, Sozopol, Viena, Stari Grad, Basileia e Madrid. Com a excepção de Gdansk, Sozopol e Stari Grad, todas as outras são mais caras que o Porto. E as outras três, não o sendo, não conseguem concorrer em património, serviço ao turista ou qualidade hoteleira. O Porto reúne na quantidade certa para uma visita turística de 3 a 4 dias interesses cada vez mais valorizados pelos turistas ocidentais: gastronomia e vinhos, património e paisagem, experiências únicas, facilidade de comunicação, simpatia das gentes (saber receber) e segurança. Necessita de investir mais em eventos e programação cultural, sobretudo em animação do espaço público (mas está muito melhor). Necessita de recuperar ainda mais o seu património urbanístico e de rapidamente requalificar a zona de Campanhã/Oriental. Lá chegará, estou certo. Sobretudo se quiser continuar a ser um destino forte. E o Mercado do Bolhão!!!
Além disso, o Porto pode e deve ser “usado” como plataforma de distribuição turística para outros destinos próximos como o Douro Vinhateiro, Braga e Guimarães, o Gerês, o Alto Minho e mais a sul Aveiro ou Viseu sem esquecer o chamado “eixo-religioso”: Fátima-Braga-Santiago. Para isso é necessário que cada uma das partes faça o seu trabalho e não fique sentada à espera que seja o Porto a fazer tudo, que olhem como complemento para um turista que já escolhe o Porto mas que pode prolongar a sua estadia fazendo do Porto o “centro distribuidor”. E em vez de ficar 3 dias prolongue a estadia para uma semana. Ficam todos a ganhar até porque o Porto não pode esquecer um factor essencial: aos poucos vai perdendo o interesse pois o “já lá fomos” vai começar a surgir de cada vez que um turista entra no site da Ryanair para escolher o seu próximo destino.
A melhor forma de celebrar estes anos de êxito é começar já a preparar os próximos. Até porque o Porto está mais bonito assim, com turistas, renascido, bem vivo. Carago! [Fernando Moreira de Sá, aqui]
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