Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

Parabéns (*) mouros vermelhos - Parte 2

(*) Credo, Cruzes, Canhoto

O acontecimento está na génese da fusão de duas agremiações desportivas, quando, em 1908, o Grupo Sport Benfica se juntou ao Sport Lisboa, como os benfiquistas sabem na ponta da língua bífida: uns, tinham um razoável bando de pontapeadores na bola; outros, era uma cambada de pernetas mas que tinham um pelado de fazer inveja à testa proeminente de João Vale e Azevedo, futuro presidente e – diga-se a talho de foice – bastante injustiçado pelos adeptos e pela justiça podre que sempre reinou em Portugal. Vamos, Vale, levanta-te e caminha e termina a tua obra, vinga-te daqueles que só te querem mal. Justiça popular! Vivó Vale! Vivó Vale! Viv... (desculpem, deixei-me levar pelo entusiasmo na defesa de tão íntegra personalidade que, um dia, a História virá dar razão). Mas retomemos o fio à mealhada, perdão, à meada.
Nos anos seguintes, o jovem clube andou, literalmente, de casa às costas – nada mais natural para quem é filho de pais incógnitos. Andou por aqui e por ali, mendigava aqui e acolá, pedinchava terrenos baldios e até pediu emprestado um troço de terrenos de um clube que já tinha sido fundado há um par de anos, ali para as bandas do Lumiar. O sonho era ter casa própria, desejo legítimo de qualquer parente pobre e, em 1953 – 45 anos depois da criação do SLB’08 – começou a erguer-se o batatal com bancadas. No dia 1 de Dezembro desse ano, a obra estava pronta, e a inauguração foi feita com pompa e circunstância: desfilaram o conjunto filarmónico de Carnide, a associação de protecção das aves de rapina, alguns encarapuçados do Ku Klux Klan, a neta de Cosme Lampião em ceroulas e corpete que levou a turba ao delírio, a sociedade anónima “Afilhados do Garrafão”, um grupo de pauliteiros de Miranda intitulado “Bordoada como o Petit” cujo nome que causou interrogações mas que hoje todos compreendem, umas meninas contratadas à ultima da hora numa casa de alterne da Invicta que desfilaram sob a designação de “Carolinas de Portugal”, algumas figuras do Estado Novo para dar ainda mais brilho à festa e, por fim, um convite especial à equipa do Futebol Clube do Porto para jogar à bola – os amigos servem para estas ocasiões.
Até aqui tudo bem. Os benfiquistas inchavam de orgulho. O pior foi no fim: amigos, amigos, negócios à parte (e os portistas são especialistas nestes assuntos) e, no fim dos 97 minutos (todos os jogos do Benfica a partir de então passaram a ter pelo menos 97 minutos), os encarnados incharam 3-1 dos tripeiros. Nada mau para uma festa de inauguração.
Volvidos 51 anos, o clube embirrou que também queria ter um estádio novo, como outros também tinham. Pedinchou, negociou, intrujou e lá ergueu aquilo que nem vale uma missa – a nova “catedral”. Mas nem os santinhos ajudaram: no primeiro jogo oficial, foram derrotados por um conjunto de pescadores da ria de Aveiro. Sem apelo nem agravo. A festa foi bonita, sobretudo para os auri-negros. E, para que a tradição não fosse interrompida, era bom que todos os fins-de-semana o Benfica inaugurasse um novo mamarracho de betão.

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